Consolo e confiança na ressurreição
Proclamar Libertação – Volume 41
Prédica: 1 Coríntios 15.12-20
Leituras: Isaías 35.1-10 e Mateus 22.23-33
Autoria: Vera Maria Immich
Data Litúrgica: Dia de Finados
Data da Pregação: 02/11/2017
1. Introdução
Os textos propostos para Finados falam do novo, tanto em Isaías como no Evangelho de Mateus e, por fim, na Primeira Carta à Comunidade de Corinto. Isaías aponta para a novidade de vida, sem opressão e dominação. Aos saduceus Jesus fala do cotidiano da eternidade, e Paulo precisa “convencer” a comunidade de que, assim como Jesus ressuscitou, todos também ressuscitarão.
Isaías 35 é sucedido pelo capítulo 34, que relata a condenação dos opressores e das potências dominadoras. Ao povo de Deus são reservadas libertação, alegria e vida em abundância. Aos sofredores são dados força, ânimo, restauração, coragem e salvação.
No texto do evangelho, encontramos uma linda explicação não somente da ressurreição, mas de como será no mundo dos ressurretos. Não será uma cópia do que vivemos aqui e do que conhecemos, mas seremos como anjos, embora não saibamos como os anjos vivem. Não devemos especular, mas confiar. Jesus apresenta Deus aos saduceus como um Deus que defende a vida. Ele não nos criou para a morte, mas para a aliança consigo mesmo para sempre.
De acordo com essa carta, a comunidade de Corinto passava por muitos problemas, erros e tinha muito a aprender. Paulo enfrenta essas questões e não foge da correção desses problemas por causa de seu cuidado paterno com seus filhos e filhas na fé. Herdamos esses preciosos ensinamentos, que até hoje nos querem admoestar e ensinar.
Cartas oferecem a oportunidade do registro, e embora tenham um destinatário, sua temática universaliza-se a todos os cristãos, embora requeira cautela, atenção e sabedoria para serem aplicadas aos dias de hoje. Paulo tem que lidar com problemas concretos, com dúvidas reais de seus irmãos na fé, e ele o faz conclamando todos a Cristo e à união. As muitas filosofias que conviviam em Corinto acabaram diminuindo e questionando a ressurreição de Cristo e a ressurreição de seu povo.
2. Exegese
Em Corinto, algumas pessoas pensam que, depois da morte, a alma imortal continua vivendo sozinha, abandonando a matéria e o corpo, que são considerados coisas más e inferiores. Outros consideram que a morte é o fim de tudo e que é necessário aproveitar o presente. Paulo, então, precisa desconstruir essas convicções contrárias à fé cristã, a qual confessa que, assim como Cristo ressuscitou, também nós ressuscitaremos.
Corinto era a sede da província senatorial da Acaia, centro comercial entre Ásia e Roma. A vida econômica da cidade era determinada pelo comércio, negócios financeiros e produção artesanal. Sua população era diversificada, com forte presença romana e diversidade religiosa.
A grande parte da comunidade pertencia às classes sociais menos abastadas, e, em menor número, havia pessoas integrantes da classe alta, que punham suas residências à disposição para as celebrações e ceia do Senhor. Essa comunidade viva está com uma série de problemas teológicos e de convivência, que leva à criação de partidos que se comunicam com Paulo, relatando as ocorrências da comunidade. Então Paulo escreve a carta com o objetivo de tratar essas questões, conclamando os irmãos e as irmãs para a concórdia e a união.
Paulo exorta a comunidade a lembrar-se de sua fundação, para que se lembre de ser uma comunidade e evite as divisões que poderiam levá-la à situação anterior. Ele lembra que Paulo e Apolo são apenas jardineiros, cuidadores da comunidade. A comunidade é templo de Deus, e seu fundamento deve estar apenas em Cristo.
No texto em questão, Paulo procura alicerçar a ressurreição dos mortos nas testemunhas da ressurreição, para as quais Jesus aparece depois de morto e ressurreto. Quem nega a ressurreição dos mortos estaria negando a ressurreição de Jesus, que é o princípio da fé cristã.
3. Meditação
A ênfase desta pregação está na ressurreição tanto de Jesus como dos membros da comunidade de Corinto e também de nossa ressurreição. No dia de Finados, esse tema recebe um destacado valor. Temos nos bancos das igrejas e nos corredores dos cemitérios de todo o país muitas pessoas com os corações cheios de saudade de entes queridos que partiram há muito tempo ou há pouco tempo. Talvez o próprio pregador ou pregadora tenham experimentado em suas vidas a dor da perda de alguém muito amado. Pode-se perguntar pela relevância da ressurreição de Jesus no processo de luto e aceitação.
Assim como em Corinto, hoje também há muitas filosofias e crenças diferentes acerca da morte e do depois, não somente na cidade, mas também no campo. A globalização da comunicação chegou ao campo e ofereceu uma diversidade enorme de conteúdos sobre o tema, muitas vezes alheios à fé cristã. As telenovelas gostam de explorar o tema e contam com ibope elevado por pessoas em sofrimento e em busca de respostas. As cartas, ditas psicografadas, trazendo supostas mensagens dos que já partiram, trazem certo alento, e às vezes confusão, para aqueles que não têm a fé cristã alicerçada no Cristo ressurreto. Sensibilidade deve nortear a pregação e trazer para o centro da fé cristã, para a ressurreição de Cristo sem atalhos e sem desvios.
Corações tristes podem ser alvo fácil para outras correntes e filosofias. Mas o evangelho de Cristo deve ser resposta suficiente para os enlutados. Convém ser didático e explicativo, ligando os dois textos, de 1 Coríntios e do Evangelho, sem contudo explicar o mistério inexplicável que é a ressurreição. Jesus não quis que soubéssemos de detalhes de como seria, senão ele mesmo o teria dito. Devemos aceitar esse mistério e contemplá-lo através da confiança e da fé inabalável.
As mesmas perguntas que os saduceus fizeram a Jesus, a nossa comunidade também tem e deseja ouvir algo a respeito. Jesus responde sem detalhar e sem dar explicação, mas chama a atenção deles, dizendo que não conhecem as Escrituras e nem o poder de Deus (v. 29). E conclui dizendo: serão como anjos e não casarão e nem se darão em casamento (v. 30). Não sabemos como os anjos vivem, logo essa informação é uma resposta que exige confiança e não uma explicação detalhada de como será. Acontecerá, e isso basta.
No início do capítulo 15, Paulo retoma suas pregações de maneira bem pastoral e afetiva, buscando convencer os coríntios e lembrar-lhes o que haviam crido. Ele reitera as testemunhas oculares da ressurreição, em grande número, sendo que muitos ainda vivem e outros já dormem. Ele coloca-se humildemente como o menor dos apóstolos.
Nosso texto: Paulo inicia com a pergunta inquietante de que, se todos pregam e até creem na ressurreição de Cristo, como então não crer na ressurreição de todos os mortos?
Paulo cresce na argumentação que agora adquire novo tom e questionamento. Se não cremos na ressurreição dos mortos, então Cristo não ressuscitou e toda a nossa pregação e nossa fé são vãs. Imagino Paulo chamando a comunidade de Corinto à razão ao lembrar-lhe que teria usado de falso testemunho contra Deus ao testificar que Cristo havia sido ressuscitado por ele.
E arremata dizendo: se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens (v. 19). Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem (v. 20).
O versículo 19 oferece ao pregador e à pregadora a possibilidade de contextualizar esse texto para o dia de Finados, falar da saudade da dor que tem sentido, pois tem fim e não é o fim. Nossa dor está ancorada na ressurreição de Cristo e em nossa ressurreição. A ressurreição é a confiança naquilo que não vemos, não tocamos e não dominamos. É poder de Deus e a ele pertence. Revelou-se em Lázaro, que reviveu e depois voltou a falecer, não sendo, portanto, uma ressurreição. Em Jesus houve a ressurreição e a promessa de que seja extensiva a todos os que creem e professam Jesus como seu Salvador.
Deixar a ressurreição sob o poder de Deus e confiar nossos amados a seus cuidados, sem especular e permitir que nos iludam com cartas e comunicações do outro lado, é um desafio para este dia.
4. Imagens para prédica
O pregador e a pregadora podem explorar a própria cruz como símbolo de consolo. Max Lucado diz-nos que é impossível olhar para algum lugar e não ver uma cruz: na igreja e capelas acenando para o mundo, esculpida em uma lápide, gravada em um anel ou suspensa em uma corrente. A cruz é o símbolo universal do cristianismo. Uma escolha improvável. De instrumento de tortura tornou-se objeto de esperança. Um símbolo que nos pode ajudar a compreender o amor de Deus: uma travessa horizontal e outra vertical, uma se estende sobre a outra e entra em contato como o amor de Deus; a outra eleva-se como a santidade de Deus; uma representa a largura de seu amor, e a outra, a altura de sua santidade.
A cruz é o lugar em que Deus perdoa seus filhos sem baixar seus padrões. Podemos dizer que Deus nos une e reúne sob a sua cruz, em frente à sua cruz, sob o sinal de sua cruz (†) no início e no final do culto, quando realizado o gesto ou apenas mencionado. Sob a sua cruz realizamos batismos, casamentos, orações e bênçãos; também despedimos e entregamos pessoas falecidas sob seus cuidados. É o nosso selo real de pertença. Participamos de sua morte e ressurreição, de sua cruz. Nela morremos e ressuscitaremos.
Pode-se fazer uma lembrança para os participantes do culto. Por exemplo, uma cruz que anuncie vida e ressurreição. O Google pode ajudar. As cruzes centro-americanas são coloridas e trazem, além de Cristo, também elementos da natureza. Ou colocar flores brancas na cruz da igreja atrás do altar ou onde estiver e fazer referência: o símbolo da morte e da tortura ressignificado e anunciando vida e ressurreição além dos túmulos.
5. Subsídios litúrgicos
Acolhida
“Eu sou aquele que vos consola, diz o Senhor!” (Is 51.12). Em Jesus Cristo, esse consolo tornou-se presente de forma concreta, pois assim afirma o apóstolo Paulo (2Tm 1.10): “Nosso Salvador, Cristo Jesus, não só destruiu a morte, como trouxe à luz a vida e a imortalidade”. E num dia como o de hoje, “Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima e a morte já não existirá, não haverá luto, nem choro, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21.4).
Poesia
Pode ser usada para encerrar a pregação, confirmando nossa fé e confiança na ressurreição.
A morte não é nada
A morte não é nada.
Apenas passei ao outro lado do mundo.
Eu sou eu. Você é você.
O que fomos um para o outro ainda o somos.
Dá-me o nome que sempre me deste.
Fala-me como sempre me falaste.
Não mudes o tom a um triste ou solene.
Continua rindo com aquilo que nos fazia rir juntos.
Reza, sorri, pensa em mim, reza comigo.
Que o meu nome se pronuncie em casa
como sempre se pronunciou,
sem nenhuma ênfase, sem rosto de sombra.
A vida continua significando o que significou: continua sendo o que era.
O cordão de união não se quebrou.
Por que eu estaria fora dos teus pensamentos
apenas porque estou fora da tua vista?
Não estou longe; somente estou do outro lado do caminho.
(Atribuído ao Padre Agostinho)
Bênção
• Que Deus, fonte da vida, abençoe o nosso viver em todas as estações da vida: na alegria, na festa, na tristeza, no luto, na saúde e na doença.
• Que Deus abençoe o nosso viver durante o dia… durante a noite… no brilho do sol… no cair da chuva e na escuridão das trevas… no iluminar das estrelas e da lua…
• Que Deus nos dê prazer e alegria naquilo que fazemos…
• Que Deus abençoe o nosso viver para que nossa vida seja plena, fonte de bênçãos, jorrando águas vivas sobre o chão que viermos a pisar.
1 e 2 – Que Deus te abençoe e te guarde sempre. Amém.
Envio
Confiantes de que o Senhor nos ampara, também em meio ao sofrimento, vamos em paz e sirvamos a ele com alegria! Amém.
Bibliografia
BULL, Claus-Michael. Panorama do Novo Testamento. História. Contexto. Teologia. São Leopoldo: Editora Sinodal/Faculdades EST, 2009.
LUCADO. Max. Seu nome é Jesus. O cumprimento da promessa do amor de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2010.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).