Proclamar Libertação – Volume 32
Prédica: 1 Pedro 2.2-10
Leituras: João 14.1-14; Atos 7.55-60
Autor: Dietmar Teske
Data Litúrgica: 5º Domingo de Páscoa
Data da Pregação: 20/04/2008
1. Introdução
A leitura dos textos indicados para este 5º Domingo da Páscoa sintoniza com as consequências da Páscoa. A misericórdia de Deus em Jesus Cristo chama para uma postura coerente com o que Deus fez por nós.
O salmista (31.1-5,15-16) celebra a confiança em Deus, que não abandonou quem lhe é fiel: “… tu me remiste, Senhor, Deus da verdade” (Sl 31.5).
Em Atos 7.55-60, tornamo-nos testemunhas do que experimenta a primeira comunidade, presenciando a morte de Estevão, o primeiro mártir cristão.
Já no Evangelho de João 14.1-14, lemos que discípulos estão a caminho com Jesus. Tomé e Filipe questionam. Não estão certos de tudo. E Jesus? Encontrou-os com suas perguntas, apontando, sim, ao Pai. Ele atenderá os seus.
Que a comunidade possa orar continuamente com o salmista: “Faze resplandecer o teu rosto sobre teu servo; salva-me por tua misericórdia” (Sl 31.16).
2. Exegese
A primeira Carta de Pedro está endereçada aos cristãos e comunidades de várias províncias romanas na Ásia Menor (1.1) e que enfrentam dificuldades. Eles experimentam hostilidade. A carta oferece consolo e exortação para que permaneçam firmes num mundo hostil. As razões não são explicitadas. Possivelmente são motivadas porque o amor fraternal de cristãos e cristãs questiona as instituições, já que vivem uma fé comprometida com a vida que Deus quer.
Embora haja exegetas que defendam a perícope como sendo parte de uma prédica batismal, outros concluem que é difícil sustentar essa tese. É correto, no entanto, ver a carta dirigida a comunidades ainda jovens.
Quanto à sua origem, a primeira Carta de Pedro foi redigida em Roma (conforme 5.13), onde se menciona Babilônia como pseudônimo para a capital do Império Romano. Como Martim Lutero mesmo constatou, também hoje não se tem dúvidas de que a carta pertence aos documentos, teologicamente mais importantes, de todo o Novo Testamento. Quanto à época em que a carta foi escrita, presume-se que foi entre 90 e 95 depois de Cristo.
Apesar do sofrimento por que passam os cristãos, a carta é permeada por uma grande alegria, fruto da verdadeira fé, a grandiosa misericórdia de Deus através de Jesus Cristo.
A delimitação da perícope em 2.2-10 e não 2.1-10, ou mesmo 2.4-10, tem sua razão de ser. O texto é propositivo e não fica enumerando elementos não-condizentes à conduta cristã.
Nos v. 2 e 3, as palavras “crianças recém-nascidas” são uma figura que lembram o Batismo e qualificam os leitores de “novatos” na fé. Também o termo “leite” deve ser entendido em sentido figurativo. Os leitores são motivados a buscar o alimento indispensável para o amadurecimento na fé. Esse alimento é a palavra de Deus, experimentada como bondade de Jesus Cristo já no Batismo.
O Batismo não é uma formatura na fé. É, muito antes, um início. Martim Lutero, ao referir-se ao assunto, diz: “… deve sair e ressurgir diariamente nova pessoa, que viva em justiça e pureza diante de Deus para sempre” (Catecismo Menor, 5ª parte: o Sacramento do Santo Batismo).
Os leitores são chamados a fazer uso diário da palavra do evangelho. Caso contrário, a sua existência cristã irá minguar. A vida cristã tem reflexos concretos na conduta. Porém é a palavra de Deus que habilita para isso.
Nos v. 4-8, Gottfried Brakemeier sugere uma correção na tradução de Almeida, propondo que esses versos contenham exortação, o que significa lê-los assim: “Chegai-vos…” (v. 4) “e permiti que vós…” (v. 5). Essa exortação diz: Sede comunidade!
A nova vida torna-se visível na prática do amor. Não existe vida cristã autêntica fora da comunidade (Mt 18.20). É nessa comunidade, casa espiritual, em que Cristo é a pedra angular (v. 6 – Is 28.16) e cada pessoa cristã, individualmente, é uma pedra viva, construída sobre ele.
Tudo, no entanto, depende da obra de Deus. É ele quem colocou em Sião aquela pedra. E é pedra viva: Cristo vive, ele ressuscitou. Quando os cristãos são chamados de pedras vivas, é porque Cristo lhes deu sua vida. A pedra angular, porém, é também aquela que os seres humanos rejeitaram (v. 4 e 7 – conforme o Sl 118.22) e continuam rejeitando. A hostilidade de que a comunidade é vítima e o sofrimento que suporta estão em conformidade com o que Cristo mesmo suportou. Deus transformou a pedra rejeitada em pedra angular, tornando-a motivo de tropeço para os que a rejeitaram (v. 8 – conforme Is 8.14-15). A comunidade não ignora o sofrimento de Deus no mundo. Não pode, porém, deixar de participar do poder de Deus que edifica, coloca um sinal visível do amor de Deus, onde pessoas rejeitam, odeiam e matam. A comunidade vive, simultaneamente, o já agora e o ainda não, num mundo onde o próprio Cristo é rejeitado.
Embora o povo de Deus tenha sido denominado de “sacerdócio santo” (v. 5), agora nos v. 9 e 10 essa comunidade é denominada de “geração eleita”, “sacerdócio real”, “nação santa”, “povo de propriedade exclusiva de Deus”. Assim, eventuais mediadores humanos estão descartados, pois em Cristo Deus mesmo veio a todos e todas.
Tal comunidade não realiza seu culto às escondidas, mas publicamente. Desafia o mundo e aquilo que testemunha não é outra coisa senão o que ela já experimentou. Foi conduzida das trevas para sua maravilhosa luz. Foi escolhida para ser povo de propriedade de Deus. Tudo isso é possível, porque ela experimentou a grande misericórdia de Deus.
3. Meditação
O apóstolo escreveu a pessoas que experimentaram que o Senhor é bondoso (v. 3). Portanto elas conhecem a misericórdia de Deus (v. 10). E assim como povo de Deus desejam o “genuíno leite espiritual” (v. 2). É a palavra de Deus que orienta a vida dessa jovem comunidade.
Os avanços científicos comprovam que o ser humano pode prover coisas inimagináveis. Não pode, porém, substituir plenamente o primeiro alimento de um recém-nascido. Sim, o leite materno possui ingredientes insubstituíveis. Tão somente a palavra de Deus orienta os batizados na salvação, que Deus mostrou em sua bondade.
Por isso a jovem comunidade não pode abrir mão desse alimento e nem querer satisfazer unicamente a si mesma. Jesus diria: “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.16). Esses frutos, porém, acontecem em íntima ligação com a palavra de Deus. Lendo a palavra de Deus, Martim Lutero redescobriu nela a justiça de Deus e permitiu que Deus lhe fosse um Deus justo e misericordioso.
Mesmo não experimentando a perseguição dos leitores de 1 Pedro, temos hoje questões a que deveríamos responder adequadamente. Pessoas que compõem a classe intelectual e formadora de opinião não se encontram mais conosco. Por quê? Talvez como obreiros e líderes, quando nos vemos acuados, invocamos textos bíblicos em que pesa mais a lei do que o evangelho.
Embora não se deva ignorar o ser humano rebelde a Deus, existente em cada um de nós, ficamos muitas vezes como igreja cristã devendo ao mundo um testemunho que privilegia a misericórdia de Deus.
O autor de nossa carta, que inicialmente mencionou o “genuíno leite espiritual”, continua mantendo seus leitores atentos. Ele fala agora de “pedra que vive”, embora “rejeitada” pelos homens, para Deus “eleita e preciosa” (v. 4). Trata-se de “pedra angular” (v. 6 – Is 28.16).
Se refletirmos sobre as dimensões do uso e da utilidade de uma pedra, vamos nos dar conta de que era impossível, no tempo do apóstolo, erguer qualquer construção sem dispor de uma pedra angular, sem a qual a construção cai. Por isso ela é “eleita” entre muitas outras. É “preciosa”.
Hoje, a engenharia distribui essa sobrecarga, que recairia sobre uma única pedra, elaborando uma estrutura de concreto com vigas de ferro, cimento, seixos e outros ingredientes indispensáveis. Essa estrutura, no entanto, é feita de materiais de comprovada qualidade, com rígidos prazos de validade. Portanto quem constrói uma casa ou um edifício precisa de materiais “vivos”, ou seja, confiáveis. Eles vão garantir que a construção permaneça e não caia.
Também aqui há um bom exemplo para quem é membro, para quem é igreja. A pedra angular não está aí em função de si e em benefício de si mesma. Participar da construção é ser “pedra viva” (v. 5). Pedras colocadas, uma a uma, sobre o alicerce resultam numa bela construção.
Apesar disso, há edificações que separam. O muro de Berlim é um desses exemplos. Ele separou até outubro de 1989, por quase trinta anos, os moradores de uma mesma metrópole, cidadãos de uma mesma nação. Não bastasse esse vergonhoso muro no coração da Europa, Israel está construindo um muro para limitar o ir e vir dos palestinos. Os Estados Unidos aumentam dia após dia os muros na fronteira com o México, tentando evitar que especialmente os povos latinos entrem em seu território.
Mas há pedras que edificam. Cooperam para o bem-estar. Paredes protegem da chuva e do sol, do frio e do calor. Protegem diante de quem vem só para roubar e matar. Há paredes que resguardam pessoas durante o sono reparador ou então proporcionam a devida liberdade para a intimidade de quem ama. Ali onde se concentram multidões, paredes delimitam espaços para que pessoas desenvolvam adequadamente sua profissão, suas habilidades e seus dons.
Apesar dos aspectos negativos e positivos do uso das pedras, é imprescindível que uma comunidade não se feche em si mesma, não se dê ao luxo de resguardar apenas seus próprios interesses. Ela precisa proclamar as obras daquele que a chamou “das trevas para sua maravilhosa luz” (v. 9).
Não somos igreja em função de nós mesmos. Somos instrumentos para colocar sinais visíveis do reino de Deus. Se não sofremos perseguição, experimentamos descrédito e indiferença. A igreja está dividida e possui, no meio de si mesma, segmentos de diferentes orientações e práticas. Quando são alvo de críticas, ela são generalizadas e prejudicam a imagem de quem mantém coerência no falar e no agir.
Se persiste um mundo de “trevas”, onde está a luz das pessoas cristãs que foram edificadas “casa espiritual” (v. 5)? Se somos daqueles que foram alcançados pela misericórdia e, portanto, passamos das “trevas para a verdadeira luz” (v. 9), por que o mundo não vê isso em nossas atitudes? Não é hora para uma espécie de “cruzada santa” contra os inimigos de Deus? Mas o “sacerdócio santo”, a que somos chamados, deve levar-nos a colocar sinais de acolhida humilde, de solidariedade constante àqueles e àquelas que são vítimas das dores causadas pela injustiça, pelo ódio, pelo egoísmo, pelo sentimento de impotência diante da fragilidade da vida.
Como povo de Deus deveríamos estar na linha de frente, definindo uma posição à luz do evangelho, que privilegie a vida e responda aos profundos anseios de vida, de paz, de felicidade em várias questões que afligem: família, para onde vai? – aquecimento global – uso de células-tronco na medicina – agricultura agroecológica – separação do lixo – conhecimentos teóricos e práticos de uma vida saudável – abertura para cultos contextualizados que privilegiam uma espiritualidade luterana e libertadora – aproximação das igrejas históricas e aprofundamento do diálogo ecumênico etc. Tudo isso e muito mais deve acontecer. No entanto, a redescoberta do evangelho por Martim Lutero, ou seja, a misericórdia de Deus em Cristo Jesus, deve iluminar essa caminhada.
Humildes, deveríamos perguntar à luz da palavra de Deus e do conhecimento humano: O que e como fazer? Também nós deveríamos poder auxiliar profissionais em várias áreas do saber humano, a fim de fazer uma caminhada como igreja que dialoga sem medo e sem a pretensão de ser dona da verdade ou constrangendo seus membros com leis que ignoram a liberdade, que o evangelho nos presenteou (Gl 5.1), se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso (v. 3).
4. Imagens para a prédica
A lenda do reino invisível
Conta-se que alguém recebeu de presente um reino invisível. Somente quem recebia aquele presente podia ver e experimentar esse reino. A todas as demais pessoas ele era invisível. Era semelhante a um mapa. E quando essa pessoa abria o mapa, então algo fantástico acontecia. Como num abrir e fechar de olhos ela tinha diante de si o palácio do rei, um parque maravilhoso. Nele havia tudo o que se podia imaginar e deve existir num parque. Fazer a experiência de abrir o mapa e deparar-se com tudo isso tornava essa pessoa imensamente feliz. Ela não suportava tão-somente sua vida pobre e miserável, mas, por vezes, a vida real confundia-se com o que se passava ao abrir o mapa. Nisso o seu dia-a-dia tornava-se um reino visível. Os amigos e vizinhos ficavam admiradíssimos como uma pessoa tão pobre pudesse ser tão feliz.
Do rei de Esparta
Conta-se que um rei de Esparta, ao receber a visita de outro monarca, falava orgulhosamente a respeito das muralhas que cercavam a cidade. O visitante olhou ao redor e não viu nenhuma muralha. Então perguntou ao rei: “Onde estão as muralhas de que tanto falas?” O rei apontou, orgulhosamente, para sua guarda pessoal, formada por guerreiros valentes e disse: “Estas são as muralhas de Esparta. Cada um desses homens é um bloco de pedras”. (Fonte: Meditação sobre 1 Pedro 2.9, de Arnaldo Hoffmann Filho, em: Castelo Forte 1996, 17 de janeiro de 1996).
Comentário
Pessoas cristãs, por mais sensibilizadas pela misericórdia de Deus e por mais simpatia que encontrem no mundo, viverão num reino invisível. Possuem, no entanto, o que ninguém lhes pode tirar (veja a lenda acima).
Esse reino invisível não pode fazer dos cristãos pessoas decorativas, mas, sim, “sacerdócio real”, ou seja, pessoas que, por sua ligação com Deus, sua misericórdia, vivenciam o que ninguém lhes pode tirar.
Esse reino invisível pode parecer uma idiotice para quem não o vê. Lamentavelmente, muitas pessoas cristãs ficam devendo um testemunho consequente. Permitem que a fé cristã caia em descrédito.
Quem, no entanto, como aquela pessoa do reino invisível confiar-se à ação bondosa de Deus permitirá que esse reino, ou seja, o que provém de Deus, o envolva. E nisso não vai sossegar, enquanto o outro/a outra experimente essa ação misericordiosa de Deus.
5. Subsídios litúrgicos
Sugiro uma liturgia que siga os passos de “Um modelo da Liturgia Oficial da IECLB”, do Livro de Culto da IECLB ou da Bíblia Personalizada da IECLB, p. 175, final do HPD I, II e Catecismo Menor.
Observação: Quanto aos hinos a ser entoados durante o culto, lembro que HPD 109 foi escrito levando em conta o texto da prédica. Destacaria ainda do HPD: 324, 438, 441, 449, e de O Povo Canta: p. 158: Não é vida a vida…
Acolhida
Somos comunidade que celebra o tempo pós-pascal. Acolhendo-nos uns aos outros, lembro o Salmo 118.22, mencionado no texto da prédica, incluindo os v. 21 e 23: “Render-te-ei graças, porque me acudiste e foste a minha salvação. A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor e é maravilhoso aos nossos olhos”. O culto convida-nos a beber o “genuíno leite espiritual”, a palavra de Deus, palavra que liberta. Onde essa palavra orienta pessoas e comunidades, elas vão se construindo sobre a pedra angular, da qual nos falou o salmista. Sobre essa pedra angular Deus deseja com aqueles a quem mostrou sua misericórdia construir e manifestar a vida que é de sua vontade.
Confissão de pecados (de pé)
Ó Senhor misericordioso, confessamos que nem sempre buscamos tua palavra como alimento que sacia a fome e a sede para uma vida que valha à pena. Desejaste que fôssemos pedras vivas de tua igreja. Perdoa-nos, porque nos afastamos de ti e não assumimos ser teus escolhidos desde o dia de nosso Batismo. Renova-nos em teu amor, manifestado plenamente na morte e ressurreição de Jesus Cristo, por todos e todas nós. É por isso que, humildes, pedimos por tua misericórdia, orando e cantando: Perdão, Senhor, perdão! (Conforme: Em Tua casa, Liturgia I, n. 1)
Palavra da graça
Que a oração sincera de cada um devolva-nos a alegria da salvação que Deus nos deu a conhecer em Jesus Cristo. Que se renove em nós o desejo de encontrar em sua palavra o alimento para uma vida que dia após dia sacia-se com a sua bondade. “Jesus Cristo nos diz: Não só de pão viverá o ser humano, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4).
Kyrie (sentados)
Irmãs e irmãos! Vivemos num mundo que não experimentou plenamente a nova vida em consequência da ação misericordiosa de Deus na ressurreição. Como igreja ficamos devendo ao mundo um testemunho coerente. Em inúmeras situações não se levou em conta a vida que Deus quer. O dito popular “Se cada qual fizer a sua parte” não vingou. As graves questões sociais e o distanciamento entre pobres e ricos não são levados em conta por aquelas pessoas que são formadoras de opinião. Nem mesmo como igreja conseguimos nos dar as mãos e propor saídas que dignifiquem a vida, especialmente dos mais sofridos. Diante de tudo isso entristecemo-nos e nos sentimos pequenos demais. Clamemos a Deus, atentos à musicalidade e às palavras do Kyrie: “Pelas dores deste mundo…” (Miriã I, n. 12 ou Em Tua casa, n. 2/Liturgia I)
Glória (de pé)
Ao cantar o Glória, oficiante e comunidade podem intercalar as antífonas indicadas no Lecionário Comum Revisado da IECLB, p. 27 (Sl 31.5; 22.27 e 148.13). Após cada antífona, propõe-se que a comunidade cante: Glória, glória, glória a Deus nas alturas. Glória, glória. Paz entre nós, paz entre nós. (Miriã I, no. 21; Em Tua casa, Liturgia I, no. 3).
Bibliografia
BRAKEMEIER, Gottfried. Proclamar Libertação, v. I. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1976. p. 55-60.
MENDT, Dietrich. Textspuren – Konkretes und Kritisches zur Kanzelrede, v. 6. Stuttgart: Radius Verlag, 1995. p. 134-135.