Proclamar Libertação – Volume 38
Prédica: 1 Pedro 3.13-22
Leituras: Salmo 66.8-20 e João 14.15-21
Autor: Teobaldo Witter
Data Litúrgica: 6º Domingo da Páscoa
Data da Pregação: 25/05/2014
1. Introdução
Escrevo este texto em maio de 2013. É Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Aqui em Cuiabá/MT, todas as noites há alguma celebração na comunidade cristã. Coisa rara, pois isso acontece só uma vez por ano. Em todas as partes do Brasil, especialmente nas sedes da copa da FIFA, há muita propaganda, muito barulho, muito movimento por causa da copa das confederações que se aproxima. Tem gente a favor e tem gente contra. E gritos e movimentos por todos os lados, inclusive com posições opostas e concorrentes caminhando lado a lado nos movimentos de praças e de ruas. Tem gente de outras regiões do Brasil que vem à procura de trabalho. Dizem que o Brasil, em especial Cuiabá, é terra de oportunidades. Vem gente da Bolívia e do Haiti, entre outros. Em cinco meses de 2013, mais de 500 pessoas do Haiti vieram à procura de trabalho. O Centro de Pastoral para Migrantes está com a lotação em dobro de sua capacidade. Tem gente dormindo em corredores, em redes, nos pátios. Todos os haitianos são refugiados de catástrofes naturais em seus países de origem. Estamos mobilizando sociedade e Estado para a prática do amor solidário.
Certamente neste mês de maio de 2014, há muitas manifestações nas ruas e nos estádios de futebol no Brasil. Tem ganhadores e tem perdedores nos estádios, nas ruas e na vida cotidiana. Tem vítimas. E isso deixa os cristãos inquietos. Tem sofrimento. E agora? A pregação não pode ignorar este mundo da vida da cidade e do campo. Mas os gritos e os clamores das praças e ruas são ouvidos por alguém?
O sofrimento humano e ambiental é um dos temas centrais das vozes das praças e das ruas. O que dizem os textos bíblicos neste contexto da dor, da vida e da morte?
Quanto aos textos bíblicos indicados para este domingo, o salmo fala de gratidão. De cara inicia dizendo: “Bendizei o nosso Deus”. Parece tudo fácil, mas não é. Precisamos passar um rastelo no texto e verificar o que o salmista diz nas linhas e nas entrelinhas. Penetrando em suas entranhas, o texto revela “pés que resvalam, corpos que caem em armadilhas, passam por fogo e água, boca que clama, coração vaidoso, vítimas e holocaustos”. Como se pode dizer: “Bendizei o nosso Deus”? Sim, pode louvar Deus, porque ele ouve e atende súplicas. Eis a razão do louvor. Deus é fonte de vida e salvação. Deus ouve e atende.
João 14.15-21 fala de órfãos, de sofredores, de separação, de morte e da promessa da manifestação de Jesus e da presença consoladora do Espírito da verdade, o Espírito Santo. Jesus criou vínculos com seus amigos e amigas. São vínculos fortes da Palavra e da ação de Jesus. Ou da Palavra que é ação. São vínculos afetivos (como projetos de vida) e vínculos racionais que buscam “culto racional” nas palavras do apóstolo Paulo. Não é “oba-oba” que Jesus fez e faz em favor do outro e da outra. É amizade e vida. É amor encarnado na vida de sofredores e sofredoras. E é justamente esse amor vivo e eficaz, materializado na perpetuação do vínculo afetivo e racional divino. “O outro consolador que meu pai enviar, esse ficará para sempre com vocês”, diz Jesus a seus amigos e amigas aflitas. Portanto “continuem a vida no meu amor”.
Segundo 1 Pedro 3.13-22, “façam o bem, pratiquem a justiça, embora sofrimentos estejam vindo sobre vocês”. Pedro retrata em sua carta a situação de comunidades que vivem hostilidades da sociedade marcada pela maldade, pela injustiça, pela corrupção. Vivem situações conflituosas como povo forasteiro, são ameaçados. Vivem o sofrimento assumido por causa de Cristo (v. 14).
2. Exegese
Os três textos trazem em seu âmago o sofrimento. Tem sofrimento porque não quis ouvir Deus e nem viver em sua graça (Salmo), tem sofrimento porque em morte, separação e despedida (João) tem sofrimento assumido pelo nome de Cristo, na prática do bem e da justiça (Pedro). Mas nenhum sofrimento está perdido: Deus ouve clamores, atende orações e faz viver na graça (Salmo), Deus penetra no sofrimento humano e consola na vida em comunhão (João) e Deus vence, em Cristo Jesus, todos os sofrimentos, inclusive a morte, na ressurreição. Portanto o sofrimento está imbricado na promessa da realização do que já recebemos gratuitamente, ou seja, vida e salvação. Por isso, bendito seja Deus, em cujo amor vivemos.
2.1 – Comentários gerais
A temática apresentada na carta de 1 Pedro trata da vida de pequenas comunidades inseridas na sociedade em um contexto social amplo. O sofrimento é enfrentado pelas pessoas em seu cotidiano. Elas enfrentam o sofrimento porque se identificam com o evangelho em meio a uma sociedade em que o mal e a injustiça são considerados normais. O povo cristão, pelo contrário, aprendeu de Jesus e das comunidades cristãs que Deus ama a misericórdia e a justiça. E felizes são as pessoas que têm fome e sede de justiça, praticam e promovem a paz (Mt 5). Como são cristãos que vivem dispersos na diáspora, é fácil viver como todos vivem na sociedade em que ser injusto, corrupto, mau, levar vantagem em tudo, viver do jeitinho brasileiro é algo normal e naturalizado. Os membros das comunidades pequenas são contra e por isso sofrem em sua vida diária, no trabalho, no convívio, na grande família. É o sofrimento por causa do evangelho de Jesus Cristo. O que fazer? Desistir de ser cristão?
Não. A carta convoca-os para fazer a diferença. E isso em duas direções. Primeiro, afirma que o sofrimento não é o fim. Jesus assumiu o sofrimento no contexto da realização da promessa de salvação. Esse seu sofrimento é vicário, isto é, em lugar do outro e da outra. Ele sofreu chicotadas no corpo todo, pregos nas mãos e nos pés, fisgadas com lança no lado do corpo e morte na cruz por nós e em nosso favor. Nesse caminho, Jesus Cristo conquistou para nós a ressurreição por graça. Nós a aceitamos por fé. Além disso, Cristo nos deixou o exemplo de
amor (Jo 14).
Segundo, a carta fala da boa consciência. A boa consciência é sempre uma obra da Palavra. Ninguém tem boa consciência porque quer ou porque faz um grande esforço ou porque se acha melhor do que os outros. A boa consciência é sempre na palavra de Deus, que é viva e eficaz, é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração (Hb 4.12). O sofrimento de um cristão é visto no sofrimento de Cristo (3.19). Por isso é digno o sofrimento vivido em nome da justiça, do bem, da verdade, de Deus. O batismo (v. 21) é ser banhado no sangue de Jesus Cristo, na aliança da salvação e ressurreição. Pedro não chama os cristãos para fora da sociedade maldosa, injusta e corrupta. Pelo contrário, ele os convoca ao testemunho para dentro dela na esperança de mudança e transformação. A fé em Jesus tem seu sentido e significado profundo no comportamento e na postura em relação ao ser humano, ao ambiente e ao mundo. A carta tem um propósito de confirmar a nova identidade cristã, desafiando para a vivência humana solidária e comunhão no corpo de Jesus Cristo.
Concluindo, podemos afirmar que o tema central do texto é o sofrimento real e concreto dos membros, da comunidade e das vítimas do sistema social que se mantém na prática da maldade e da injustiça. A tentação da comunidade é desistir ou enclausurar-se. Mas a carta se pauta no sofrimento assumido “pelo nome de Cristo” (4.14), respectivamente por causa da prática do bem (2.15) e da justiça (3.14). O testemunho em meio ao mundo dá-se na boa consciência em Cristo, alimentada na Palavra viva.
2.2 – Comentários referentes ao texto bíblico de 1 Pedro 3.13-22
Os membros estão expostos a várias hostilidades e adversidades por causa de seu testemunho e de sua conduta fundamentada na ética do amor, por causa da fé em Deus. A grande novidade agora é que eles abraçaram a fé em Jesus Cristo e vivem em comunhão na comunidade. E têm uma compreensão diferenciada sobre o sofrimento e a boa consciência.
V. 13 – O termo “maltratar” sugere agressão, dor e sofrimento físico. Certamente não sofreriam agressões por praticar o bem. Não são somente os cristãos que são zelosos na prática do bem. Em todos os povos há gente que é zelosa no bem. Por que então a pergunta do versículo? Provavelmente há por trás das palavras uma outra situação que o contexto precisa explicar, como segue nos versículos seguintes.
V. 14 – Apesar de dificilmente alguém ser maltratado por ser zeloso na prática do bem, o texto conta com a possibilidade dos maus-tratos. E então fala dos sofrimentos por causa da justiça. Mas não é qualquer justiça, como, por exemplo, justiça com as próprias mãos, justiça vingativa, justiça retributiva, igual à dos escribas e fariseus (Mt 5.20). Essa é a justiça que todos os povos fazem; até os maus a praticam. Ela não transforma vidas. Essa não. Mas seria a bondosa justiça (Mt 20.1-16), a justiça que acolhe, cura, salva. Essa, sim, é a justiça que Deus ama. E ela transforma mentes, corações e estruturas humanas. Por isso ela provoca reação do mundo, que se mantém na maldade e na injustiça. Se forem perseguidos por causa da prática da bondosa justiça, fiquem felizes, sóbrios e sem medo, sem sustos, sem alarme.
V. 15 – Caso o sofrimento vier sobre vocês, não fiquem com medo, nem fiquem alarmados. Mas santifiquem Cristo como Senhor. Além disso, preparem–se bem para explicar os motivos da esperança de vocês em provocar mudanças. É um novo elemento: estar preparado para responder. Firma-se aí o testemunho da fé e da esperança cristã.
V. 16 – Falem com mansidão e temor a Deus. É o oposto do Império Romano na época. Lá, as conquistas são com guerra, violência, tremor e adoração ao rei humano. A ética do amor está fundamentada na boa consciência e no bom procedimento em Cristo. O texto exorta o povo cristão para que não seja motivo de tropeço e de vergonha. Pelo contrário, que os de fora fiquem envergonhados, caso difamem os procedimentos dos cristãos em Cristo.
V. 17 – Se a condição humana for o sofrimento, esse será por dois motivos: pela prática do bem ou pela prática do mal. Então é melhor sofrer por fazer o bem.
V. 18 – A sina leva-nos a sofrer por coisas que não fazemos. E quantas coisas não fazemos mal, mas sofremos as consequências. Sofremos, às vezes, mesmo inocentes. E Deus é solidário conosco no sofrimento, porque Jesus sabe o que são dores. Em meio às nossas dores, Deus nos encontra. Somente o sofrimento de Cristo nos conduz a Deus, “o Justo pelos injustos, o Santo pelos pecadores”. Jesus morreu na carne como humano. Ele era verdadeiramente humano, mas foi vivificado no Espírito.
V. 19-20 – Vivificado, Jesus foi anunciar as boas-novas aos que estavam nas prisões desde os tempos de Noé até os dias de hoje.
V. 21-22 – Água na vida, água no Batismo: o Batismo não é só uma lavagem na banheira. Mas é um lavar restaurador e regenerador da vida e salvação, porque onde há perdão, ali há vida e salvação no Senhor Jesus, segundo Martim Lutero. A boa consciência humana criada na palavra de Deus torna-se uma realidade na vida cristã.
O Jesus ressurreto foi elevado ao céu, onde está em pé (At 7.56), à destra de Deus, pronto para a ação salvadora em qualquer situação. Pois ele tem o domínio sobre todos os poderes que afugentam seu povo.
Cristo é exemplo de resistência não violenta, mas ativa e de paciência. Nele os perseguidos, as vítimas por causa da prática da justiça, encontram comunhão. Em Cristo permanecem unidos, dando testemunho de sua esperança em boa consciência.
3. Meditação
Nesta breve meditação, quero tocar em alguns pontos da mensagem do texto e relacioná-los com o momento atual. E faço-o partindo da reflexão inicial na introdução.
As praças das cidades são lugares importantes de encontro de pessoas. Os shoppings vieram para competir com as praças. Mas não as substituem. Praças e ruas são lugares de manifestações populares. São lugares onde os povos se encontram, reclamam, gritam e manifestam as suas insatisfações em relação aos problemas e políticas públicas.
Com treze anos de idade, participei pela primeira vez de uma manifestação pública. Fui junto com minha família. O nosso clamor foi contra uma decisão da prefeitura, que queria mudar de lugar a escola que frequentávamos. A mudança de lugar da escola significaria que nós deveríamos caminhar mais 2 km diários, além dos 3 que já fazíamos. Portanto seriam 5 para ir e 5 para voltar. A nossa manifestação conseguiu sensibilizar para construir uma nova escola no mesmo local da antiga, porque aquele lugar era central para todas as crianças.
Depois disso, participei de manifestações em muitas ruas e praças do Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Pará, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Áustria e Alemanha. Também participei de algumas que ocorreram nas ruas do Brasil em 2013. Certamente o mesmo ocorrerá em 2014. Em momentos importantes de mobilização popular, fiz questão de estar presente, dar a minha contribuição e influenciar a sociedade e o Estado para construir relações com mais justiça e paz para todos e todas.
Ruas e praças são, para mim, lugares onde o ser humano amplia horizontes de vida. Nos meus 50 anos de participação efetiva, aprendi com o povo e com Saint-Exupéry: “O que é o ser humano? Ser um ser humano é, precisamente, ser responsável. É conhecer a vergonha diante de uma miséria que não parece depender de nós. É sentir-se orgulhoso de uma vitória que seus companheiros obtiveram. É sentir, ao colocar sua pedra, que contribuímos para construir o mundo melhor”. Um mundo com menos maldade, mais justiça e mais esperança.
O sofrimento humano e ambiental é um dos temas centrais dos textos bíblicos e das vozes das praças e das ruas. E a fé em Jesus Cristo a gente vive na rua, no trabalho, na família, ali onde houver gente, houver vida ou morte e posição a ser assumida por nós.
Nesse sentido, vejo que o texto fala de sofrimento. São sofrimentos e dores humanas por todos os lados, às vezes são dores expressas, outras vezes são silenciadas. São dores por doenças, por morte, por dívidas, por falta de trabalho, por falta de amor e carinho, por solidão, por rancor, por medo, por mágoas, por vida sem sentido, por abandono. São muitas dessas dores que ouvimos nas manifestações de praças e ruas. Jesus sofreu as dores na prisão, no palácio, na rua, no monte da crucificação. A pregação contundente, contagiante e sensibilizadora Jesus fez nas ruas e na cruz, em público, com sua morte inocente em lugar dos culpados.
Hoje, um dos grandes problemas são as dores das torturas, feitas em segredo. Torturas nas prisões, nas casas de abrigo, nos quartos onde estão as crianças, as pessoas idosas, as mulheres, as pessoas doentes. E quantos sofrimentos têm ali! O sofrimento assumido em Cristo são as dores do amor que luta para acabar com aquele sofrimento estúpido e sem sentido, imposto pelas próprias pessoas que têm poder de decidir sobre a situação e sobre o corpo e a vida.
Mas também em público há a justiça. A bondosa justiça de Deus, Mateus 20, realiza-se na praça e na vinha, na roça. Para o povo do Israel antigo, a justiça acontecia na porta. Não tem nada de tribunais fechados e cheios de segredos. É a justiça do reino de Deus, visível, palpável e perceptível por todas as pessoas. É a bondosa justiça que esvazia os espaços secretos das torturas e outras dores provocadas pela ganância, pelo egoísmo e pela indiferença humana diante das dores de outros. A bondosa justiça é a justiça que Deus quer, que Deus deseja como projeto de vida para toda a criação.
Após falar sobre mal e sofrimento, muita gente poderia pensar e dizer que o povo cristão é masoquista, desmancha festas, chamador de problemas. Onde fica a esperança? Acho que é muito bonita e significativa a forma como o texto fala da esperança. Gente, estejam sempre prontos e felizes para falar aos outros da esperança que há em vocês. Veja no v. 15: “… sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. Não fala de qualquer coisa, mas diz que é para justificar, com argumentos claros e convincentes, como num tribunal público, a razão da esperança. Quem está sujeito ao sofrimento não teria motivo para esperança. Mas a esperança aqui é contra toda a esperança, como explicam o apóstolo Paulo, na Carta aos Romanos, e Martim Lutero. Tem motivo para ter esperança? Tem, sim. Jesus é a nossa esperança. A comunidade de Jesus é comunidade da esperança. Vivemos na realidade em que Deus venceu o sofrimento, o mal, a morte, mediante a ressurreição de Jesus. A comunidade está sendo criada no Batismo e alimentada por Deus na Ceia do Senhor.
4. Imagens para a prédica
4.1 (Antes da leitura de 1 Pedro 3.13-22) – Por que pregar na igreja e nas praças e ruas? Aliás, você já participou de manifestações populares em praças e ruas? Fez caminhadas por justiça e paz? Acompanhou grupos de solidariedade na luta por boas políticas públicas? Já pregou a palavra de Deus em espaço público? No tempo de Jesus, costumeiros lugares para o ensino da Palavra eram as ruas, estradas e praças. Muitas passagens falam desses lugares. No caminho, Jesus viu e chamou Mateus (Mt 9.9). Andou por toda a Galileia (Mt 4.23). Jesus subiu na montanha, desceu a montanha, entrou na sinagoga, atravessou lavoura de trigo, entrou no barco, foi ao outro lado do lago, encontrou gente nos caminhos, enfim “em todos os lugares onde ele ia, nos povoados, nas cidades, nos campos, traziam os doentes para as praças e pediam que Jesus os deixasse tocar em suas vestes” (Mc 6.56). Os espaços abertos, públicos, ocupam um lugar importante no ministério de Jesus. Ali é o lugar do mundo, da vida pública, onde se combate o mal e se promovem justiça e esperança. O texto bíblico de 1 Pedro 3.13-22 supõe o testemunho público feito de boa consciência pelo povo cristão.
(Antes do escopo da mensagem no final da pregação) – Você conhece algum exemplo vivo de testemunho cristão? (Deixar um breve tempo para pensar.) O pastor Karl Friedrich Stellbrink nasceu em 28 de outubro de 1894 em Münster na Vestfália. Estudou no seminário teológico de Soest, que formava pastores para vir trabalhar no Brasil. Ele serviu durante a Primeira Guerra Mundial. Depois retomou os estudos. Em 1921, veio ao Brasil, enviado pelo Conselho Superior Eclesiástico de Berlim. No Brasil, trabalhou como pastor em Arroio do Padre (RS) de 1921 a 1926, em Monte Alverne (RS) de 1925 a 1929. Teve quatro crianças, sendo que uma delas, a Gisela, está sepultada em Arroio do Padre. Em 1929, retornou para a Alemanha, convicto de que iria participar da reconstrução justa de seu país, que fora arrasado pela Primeira Guerra Mundial. Trabalhou na cidade de Lübeck. Filiou-se ao partido nacional-socialista, mas logo notou os erros e desmandos. Opôs-se e foi expulso. Participou de um movimento ecumênico de oposição ao regime. Foi preso e executado em 10 de novembro de 1944 em Hamburgo, há 70 anos. A Igreja Católica Romana incluiu o pastor Stellbrink em sua lista de mártires não católicos de resistência e de luta contra o mal e em favor da justiça.
5. Subsídios litúrgicos
Sofrimento, justiça e esperança são aspectos fundamentais das manifestações justas e pacíficas nas ruas e praças do Brasil. A comunhão profunda em assumir sofrimento em Cristo envolve-nos na prática do bem e da justiça. Com boa consciência, lapidada pela palavra do Senhor, caminhamos com aqueles e aquelas que, em suas vidas, tiveram e têm momentos de dor, porque não somos capazes de criar relações justas e fraternas. A eles e elas estendemos as nossas mãos, assim como Cristo Jesus nos estende suas mãos e carrega-nos e consola–nos em nosso sofrimento e nossa esperança.
Há motivo para ter esperança? Há sim. Jesus é a nossa esperança. A comunidade de Jesus é a comunidade da esperança. Vivemos na realidade em que Deus venceu o sofrimento, o mal, a morte mediante a ressurreição de Jesus. A comunidade está sendo criada no Batismo e alimentada por Deus na Ceia do Senhor.
Bibliografia
BRAKEMEIER, Gottfried. 7º Domingo da Páscoa. In: Proclamar Libertação XVIII. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1992. p. 152-155.
DREHER, Martin. Mártir do Nazismo. Novo Olhar, ano 5, n. 14, mar/abr 2007, p. 6.
SCHMITT, Flávio. 1º Domingo na Quaresma. In: Proclamar Libertação 36. São Leopoldo: Editora Sinodal, 2011. p. 116-120.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).