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Prédica: Gênesis 8.15-22
Autor: Uwe Wegner
Data Litúrgica: Domingo de Ação de Graças ( em ambiente rural)
Proclamar Libertação – Volume: I
Tema: Ação de Graças

I – Considerações sobre a tradução de Almeida

Vers. 16 – Verbalmente, deveria ser traduzido por: Sai da arca, tu, tua mulher, teus filhos e as mulheres de teus filhos contigo.

Vers. 17 – A tradução … faze sair a todos… deve ser substituída por: … faze sair contigo….
Vers. 18 – No final, leia: … e as mulheres de seus filhos com ele.

Vers. 19 – von Rad (ATD, 104) sugere, com ajuda do aparato crítico, a seguinte tradução: E todo o (animal) selvagem, e todos os pássaros, e todos os répteis que rastejam sobre a terra, segundo as suas espécies saiam da arca”.

Vers. 20 – Literalmente deveríamos traduzir: … e tomou de todo o gado limpo e de todos os pássaros limpos..

Vers. 21 – Ao invés de suave cheiro (= Almeida) traduza por: cheiro da aquietação (ního h = apaziguamento, aplacamento, calma, aquietação, prazer). A expressão e disse Deus consigo mesmo deve ser traduzida literalmente por: … e disse Deus a seu coração….

II – Contexto

O contexto imediato é dado pelos capítulos precedentes: 6-8.14. O contexto da história é teologicamente a tensão entre juízo (6.5-7) e graça (8.15-22), tensão esta que, aliás, permeia toda a proto-história (3.3-16ss; e 11.1-9 em relação a 12.1-3). Em 8.20-22 temos o fim da história do dilúvio segundo o Javista. O capítulo posterior, Gn 9, apresenta o fim da história do dilúvio segundo o Escrito Sacerdotal. Para a prédica, o capítulo 9 é prescindível.

III – Crítica literária

Os estudiosos separam na história do dilúvio duas fontes distintas: o Javista (J) e o Escrito Sacerdotal (P), sendo que para o nosso trecho os verss. 15-19 pertencem a P e os verss. 20-22 ao J. Esta separação de fontes depreende-se facilmente pelos nomes diferentes aplicados a Deus: Nos verss. 15-19 fala-se de Elohim., enquanto que nos verss. 20-22, de Javé (veja von Rad, ATD, pág. 92ss, e Klaus Homburg, Introdução ao Antigo Testamento, pág. 38ss).

IV – Questões exegéticas

Vers. 15 – A saída dos animais bem como de Noé e família se dão por iniciativa soberana de Deus. Com o dilúvio a terra deixou de ser o lugar natural do domínio do homem (von Rad, ATD, pág. 106). Daí se explica que Deus mesmo precisa tomar a iniciativa e ordenar a saída da arca.

Verss. 16-18 – Por que justamente Noé é salvo por Deus, e não qualquer outro? P responde em 6.,9 e 8.1; J responde em 6.8 e 7.1. A salvação é dom gratuito de Deus (6.8: Noé, porém, achou graça diante de Deus; 8,1: Lembrou-se de Noé…), o que não exclui a responsabilidade humana (Noé era homem justo e íntegro entre seus contemporâneos: 6.9; 8.1). No caso dos contemporâneos de Noé, esta responsabilidade faltou (cf. 6.5.11-13)!

A família de Noé é salva juntamente com ele. Bem idêntico também em 19.12 com referência a família de Ló. Deus irradia a sua misericórdia também sobre a descendência daqueles que o amam (Êx 20.6).

Verss. 17-19 – A saída dos animais e a ordem para a sua fecundidade e multiplicação estão estreitamente relacionados com Gn 1.22. P quer mostrar que apesar de ter Deus enviado uma catástrofe cósmica (7.11), a terra não sucumbiu novamente ao caos (1.6ss), e, sim, recebeu de Deus novamente suas funções originais. Ou seja: A saída dos animais e o mandamento para a fecundidade e multiplicação são a prova de que Deus ratifica e assegura também após o dilúvio sua palavra criadora e sua bênção (1.22).

Vers. 20 – O primeiro ato de Noé após a salvação da catástrofe consistiu no levantamento de um altar para Deus com oferta de holocausto (olot). Holocaustos (holos – todo, inteiro, e kaio = queimar) eram sacrifícios em que os animais eram queimados inteiramente sobre o altar, sem participação do efertante na comida.

Quanto ao sentido desta oferta de holocaustos no contexto do capítulo 8, os comentaristas opinam de duas maneiras: Uns acentuam mais o caráter da gratidão na oferta (Dankopfer), enquanto que outros já o entendem mais como sendo um sacrifício de arrependimento e expiação (Suehnopfer), tendo em vista, principalmente, as palavras do ver. 21: Deus cheirou o cheiro da aquietação (veja também Ef 5.13). von Rad (TAT l, pág. 268s) constata que holocaustos podiam ser ofertados por motivos vários. Isto nos permite aventar a hipótese de ter tido a oferta de Noé tanto um como o outro sentidos: ela é, a um só tempo, oferta de gratidão e de propiciação (O sentido reconciliatório da oferta deve ser preservado, não por último, pelo seguinte: A saída da arca ainda não é posse da salvação. A palavra final de graça não é dita antes, e sim, somente após a oferta de Noé, no vers. 21!)

Vers. 21 – As palavras proferidas por Deus retratam uma decisão com vistas ao término de toda a catástrofe. A conexão com o vers. 20 é dada pelo fato de ter Deus cheirado o cheiro da aquietação. Mas, as palavras, de Deus que seguem não são resposta direta ao ato de Noé no vers 20, e sim, relacionam-se com toda a catástrofe, ou melhor, com toda a história do dilúvio. (Uma interpretação contrária faria do sacrifício de Noé um protótipo do sacrifício de Cristo, o que teria consequências para a prédica).

Impressiona nestas palavras de Deus que ele fundamenta sua decisão de misericórdia com os mesmos motivos que no prólogo usou para fundamentar o seu juízo, quais sejam, a corrupção interior do homem desde a sua infância (cf. 6.5). Entre prólogo e epílogo há, pois, uma tensão. É a tensão entre o juízo e a graça de Deus que permeia a proto-história (compare Gn 3.3.16-19 com 3.21; 4,11s com 4.15; 11.1-9 com 12.1-3), a Bíblia toda, culminando com o evento de Jesus Cristo.

Mas como entender estas palavras de Deus? Trata-se de uma capitulação, de um conformismo?

Antes de mais nada, trata-se de um reconhecimento. Deus reconhece que a maldade e inerente ao homem. Em segundo lugar, trata-se de uma aceitação paciente e misericordiosa: Deus aceita a existência deste homem maldoso. A hipótese da capitulação ou do conformismo é errônea. Ela seria viável se Deus não tivesse outras alternativas. Mas a história do dilúvio nos mostra que Deus tinha outras alternativas!

Quanto ao mais, é preciso cuidar para não superinterpretar. Um comentarista adverte: O vers. 21 não afirma que Deus não castigará a maldade. Afirma só que Deus não destruirá mais totalmente a humanidade!

Vers. 22 – Este versículo concretiza a misericórdia de Deus. Segundo ele a misericórdia divina se revela na preservação das leis da natureza, uma preservação que o dilúvio havia posto em cheque.

V – Avaliação do conteúdo teológico

A. A salvação de Deus

Nosso trecho mostra uma progressão na salvação de Deus: sua bondade para Noé, a família e o reino animal é estendida nos verss. 21s para todos os viventes. Assim sendo, os citados versículos testemunham o caráter universal da bondade divina.

No vers. 21 a bondade de Deus é qualificada como bondade misericordiosa, graciosa. Deus não preserva qualquer humanidade, e sim, concretamente, uma humanidade pecadora. Paradoxalmente, a progressão da maldade na humanidade faz crescer em Deus a sua bondade. A maldade do homem progride da mentira de um casal (Gn 3) para o fratricídio entre Caim e Abel (Gn 4), culminando com a corrupção de todo o vivente (Gn 6). Assim também a bondade de Deus: vai de Adão e Eva, passando sobre Caim, recaindo finalmente sobre todo o ser vivente na historia de Noé e sua arca. Semelhante a Mt 5.43ss temos aqui o testemunho de um amor que não pode ser racionalizado. É o amor divino que rompe as barreiras do calculismo meritório e se derrama graciosamente sobre todas as criaturas. Este amor gracioso e o milagre que Deus realiza com a humanidade. Longe de representar uma reação natural, resulta o mesmo de uma luta interior do próprio Deus, onde em meio a um juízo aterrador (Gn 6.5-7.12s) prevalece, inexplicavelmente, a bondade.

Positivamente, este amor gracioso de Deus sobre todo o ser vivente se manifesta:

1) na resolução de não mais destruir totalmente a humanidade (vers. 21). A expressão enquanto durar a terra (vers. 22) aponta, segundo Westermann (pág. 78), tanto para o fato de a terra ser somente criação e, portanto, estar sujeita a um fim, como para o fato de que doravante nenhum poder ou força humanos poderão mais destruí-la por completo, ou seja: Deus se arroga o direito de permanecer o único Senhor sobre sua criação;

2) na preservação das leis da natureza. Esta preservação é funcional, pois é só por intermédio dela que ao homem é garantido o sustento e a vida.

B. O comportamento de Noé

Teologicamente o comportamento de Noé expressa a ação de Deus em sua salvação. Noé sentiu em meio a todo o episódio da catástrofe a ação bondosa e salvífica de Javé. Por isso o seu primeiro ato não é o preparo de um banquete, e sim, de um altar. A oferta de sacrifício tem para a época a finalidade de possibilitar relação com Deus e através dela Noé expressa, a um só tempo, a sua gratidão e seu desejo de propiciação.

VI – Meditação

A. O culto de ação de graças em ambiente rural (CAG)

O CAG é realizado comumente após a colheita. A sua data varia de região para região, paróquia para paróquia, sendo determinada pela época da colheita dos produtos. A data de realização do CAG é, pois, por natureza, flexível. Numa região de produção de feijão/milho poderia ser realizado entre janeiro e março; onde o principal produto é soja, em junho/julho; onde se cultiva o trigo, em outubro/novembro. De acordo com a produção regional as paróquias geralmente convencionam determinadas épocas para a sua realização. Parece-me que normalmente é realizado no inverno.

A forma exterior do CAG é igualmente flexível e variada. Tradicionalmente temos o costume de colocar sobre o altar oferendas (legumes, frutas, verduras, saquinhos de feijão, arroz, milho, etc.) que após o culto são leiloadas, sendo o lucro destinado para fins diversos. Uma outra forma consiste na distribuição de envelopes antes do culto, sendo que cada pessoa agradece pela colheita com uma dádiva em dinheiro, recolhida em lugar da coleta. Além destas, existem ainda muitas outras formas possíveis de realizar o CAG, as quais são aplicadas em maior ou menor intensidade nas diversas paróquias, dependendo, principalmente, do grau de tempo, criatividade, interesse e estímulo dos pastores, diretorias e comunidades.

O sentido do CAG é, por excelência, a gratidão a Deus pela colheita, ou seja, pelas dádivas da criação. Warth (pág. 208) comenta: A festa de agradecimento pela colheita é a festa do primeiro artigo da fé. Convém lembrar que não realizamos uma festa para Baal, na qual são honradas as forças e os poderes da natureza, e, sim, que agradecermos ao Criador, Pai de Jesus Cristo, pelas suas dádivas.

B. A palavra de Gn 8.15-22 frente à situação

Os trechos clássicos da proto-história (Adão e Eva; Caim e Abel; o dilúvio e a construção da torre) são conhecidos pela maioria dos ouvintes. Por isso a associação do trecho com a catástrofe do dilúvio se dará automaticamente com a leitura da passagem proposta.

Uma associação imediata do trecho coma situação dos ouvintes é dada pelos verss. 16-19,22: família, mulher,filhos, animais, gado, pássaros, sementeira, colheita, inverno, verão, etc. O trecho está permeado pelo mundo vivencial do agricultor.

Que atualidade tem nossa perícope para os agricultores? Três aspectos nos parecem merecer destaque:

1) Deus permanece ainda hoje Senhor absoluto sobre a sua criação

Creio que o agricultor percebe isto. É certo que ele trabalha cada vez mais com os benefícios da mecanização, adubos, inseticidas, etc. Mas um domínio absoluto sobre a criação ele está ciente de não ter. Uma tempestade, uma chuva de granizo, as pragas, as secas continuam imprevisíveis e pairam como constante ameaça sobre os plantios. É verdade: amanhã ou depois a técnica talvez consiga corrigir e assegurar algumas destas ameaças. Mas ninguém se iluda: outras tantas estarão pela frente. Basta ler um tratado sobre ecologia! Perguntamos: Que sentido têm estes problemas e ameaças que continuamente pairam sobre os plantios? Parece-nos que eles são sinais. Sinais com os quais Deus quer nos abrir os olhos e nos fazer ver que a última decisão sobre o sucesso ou malogro dos plantios permanece na mão do Criador. Ao mesmo tempo eles são sinais da outra alternativa possível, da alternativa do juízo, ou – neutramente – da destruição. Estas ameaças querem nos fazer ver que nada é natural, que existem outras possibilidades que unicamente o sucesso de nosso plantio e que, portanto, toda boa colheita é um milagre.

2) Deus agracia uma humanidade pecadora

Deus não quer ser somente o Criador, e, sim, também o Senhor sobre suas criaturas. Deus é Senhor sobre agricultores quando a sua vontade é obedecida, seu amor vivido. Mas qualquer retrato de uma comunidade do interior (de todas, aliás) é sempre um retrato obscuro, manchado e distante do ideal. Estas manchas e estas obscuridades, que variam de comunidade para comunidade, ratificam as palavras de Deus: … porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade (Gn 8.21). Também a atual comunidade rural é comunidade sob o signo do pecado, da maldade. O segundo motivo de agradecimento da comunidade rural é o fato de que Deus permite justamente também para ela, na qualidade de comunidade pecadora, a colheita e os benefícios da terra. Ou seja: Não a colheita, mas o fato de tê-la Deus concedido para o AGRICULTOR é o segundo motivo da gratidão, o verdadeiro milagre.

Será que o agricultor captará este milagre, que Deus abençoa uma humanidade pecadora, da qual ele faz parte integrante? Depende muito, fará quem toda colheita é um milagre (cf. acima), para quem a natureza – inclusive o homem – tem a ver alguma coisa com o Criador, não será difícil. Mas existem também membros de comunidades que participam nos cultos por mera tradição e para os quais uma associação natureza-criatura-Criador não pode ser pressuposta. Nestes, aquele calculismo meritório que Deus justamente rompe é na verdade o status confessionis: Quem não trabalha, não deve comer, mas quem trabalha é digno de seu salário. Não que isto esteja errado. Mas onde há só isto, o verdadeiro milagre de nossa perícope não encontrará corações receptivos. Para tais pessoas uma boa colheita é só aquilo a que eles fazem jus; uma má colheita é uma injustiça. Nestes casos uma má colheita não dá sinal nenhum (vide acima), pelo contrário: ratifica muitas vezes que o bondoso e justo Deus é uma ilusão…

3) Noé é protótipo daqueles que se reconhecem agraciados por Deus

Noé constrói um altar para o Senhor e oferece holocaustos. Westermann (pág. 77) comenta: Este ato daquele que foi salvo é um culto. O sacrifício é a maneira usada na época para expressar que Noé reconheceu a sua salvação das águas como uma ação de Deus… Ele tinha que responder a esta ação: sua resposta era o culto. Segundo Westermann a história de Noé contém inclusive um dos motivos fundamentais do culto, qual seja, a experiência humana da salvação frente a morte. E ele conclui (op. cit.): Há uma conexão profunda e inseparável entre a oferta de louvor de Noé e a comemoração da santa ceia na igreja, a qual igualmente gira em torno de uma salvação.

Concordamos com esta reflexão. Mesmo assim temos que constatar que Noé é objeto de uma salvação particular, para não dizer, especial. Os ouvintes são, porém, segundo o texto, objetos de uma salvação geral, que Deus estende graciosamente a todas as criaturas (Mt 5.45) através da preservação das leis da natureza. Uma alusão a santa ceia (curva cristológica?) me parece prescindível justamente para preservar este caráter geral da misericórdia divina a que o texto (verss. 21s) alude. Mas que importância teria neste caso a atitude de Noé para esta humanidade globalmente agraciada por Deus?

Noé é o protótipo daqueles que se reconhecem agraciados por Deus. Os que são agraciados por Deus (espontaneamente? Westermann) tendem a lhe prestar reverência, culto. Assim também os agricultores tenderão a prestar reverência e culto a Deus quando reconhecerem na colheita uma graça de Deus.

Em Noé a oferta foi um misto de gratidão e propiciação (Dankopfer + Suehnopfer). Onde em meio a pecados o homem é agraciado, a gratidão que ignorar o pecado será uma gratidão cega. Por isso, enquanto o homem pertencer a uma humanidade pecadora, toda gratidão por benefícios recebidos de Deus terá que ser sempre gratidão a luz do pecado, ou seja, gratidão que busca o arrependimento e a reconciliação com Deus. Gratidão (inclusive culto de ação de graças) que não tenha este objetivo torna a graça barata e Gn 6.5-7.12s uma brincadeira.

C. Sugestão para a prédica

1) Ref. ao B1 da meditação – O pregador poderia iniciar com uma alusão à catástrofe do dilúvio: 40 dias e noites de chuva. A alusão à chuva daria a conexão com as ameaças sobre o plantio na atualidade. Apesar de ter havido considerável avanço técnico, a dependência da natureza permanece praticamente a mesma hoje, como na antiguidade. O domínio da natureza não escapou para as mãos da criatura: permanece na mão do Criador. Esta dependencia, embora nos dê dores de cabeça e muitas preocupações, tem um sentido positivo: Ela é o sinal que Deus nos dá para lembrarmos a sua soberania e o seu amor. Noé experimentou soberania e amor de Deus na arca que não sucumbiu, naufragou: Ele foi salvo. A nossa arca, aquilo que nos protege, assegura e mantêm a vida – no caso do agricultor, o seu chão, a sua terra – também não sucumbiu. Deus protegeu também a nossa arca!

2) Ref. ao B2 da meditacão – Mas a história de Noé não é só historia de salvação. É também historia de perdição e juízo. Noé não foi salvo por acaso, e, sim, por ter tido Deus agrado em sua vida (Gn 6.9). A vida que a humanidade ao seu redor levava era, porém, vida dissoluta e corrompida. Por isso Deus a condenou. Ao pregador caberia, na parte que segue, mostrar à comunidade:

a) que um pouco desta vida dissoluta e corrompida germina no coração de cada um (vers. 21): A comunidade, hoje, também ainda não é o que devia ser. Nós nos sentimos ligados a Noé por uma salvação, embora por muitas vezes nos encontramos distantes de Noé no que se refere a uma vida que agrade e que seja de acordo com a vontade de Deus;

b) que Deus – a colheita o mostra – esta inexplicavelmente abençoando esta comunidade (O cidadão que não obedece as leis vai para a cadeia; o filho que não obedece seu pai, recebe castigo; uma comunidade que esta em dívida com Deus e abençoada!?);

c) que nós, justamente por estarmos em dívida com Deus, não temos direito de exigir colheita. Que proveito tem Deus de uma rendosa colheita, se a família que a recebe leva vida que lhe desagrada? Se nós, como pecadores, recebemos colheitas, Deus não está cumprindo um dever, e, sim, está nos querendo abrir os olhos para o seu amor.

3) Ref. ao B3 da meditação – Foi o que aconteceu com Noé. Ele não fez colheitas, mas foi igualmente salvo de catástrofe da natureza. E com esta salvação Deus lhe abriu os olhos para o seu amor. A resposta que Noé deu a Deus foi a construção de um altar com a oferta de sacrifícios. Antigamente era este o costume usado para agradecer. Hoje, a comunidade se encontra reunida pelo mesmo motivo: Ela quer responder a Deus, quer agradecer. Aqui o pregador deveria lembrar a comunidade que ela agradece a Deus em vistas de sua condição pecadora. Ela agradece a um Deus para o qual o pecado pesa no coração (Gn 6.6). E poderia haver agradecimento mais agradável para este Deus, do que tirar-lhe o referido peso do coração?

Bibliografia

– RAD, Gerhard von: ATD, Teilband 2/4 (Das erste Buch Mose – Genesis), Goettingen 1967 .
– RAD, Gerhard von: Theologie des Alten Testaments – TAT -, vol. I, Muenchen 1965.
– WARTH, Walter: l Mose 8.15-22, em Calwer Predigthilfen, vol. 2, pág. 201-208, Stuttgart, 1963.
– WESTERMANN, Claus; Die Sinflut und die Gegenwart (1. Mose 6-9), em Calwer Predigthilfen, vol. 6, pág. 69ss, Stuttgart 1971.

Proclamar Libertação 1
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia