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Proclamar Libertação – Volume 18
Prédica: Mateus 2.1-12
Leituras: Isaías 60.1-6 e Efésios 3.2-12
Autor: Aline Steuer
Data Litúrgica: Epifania
Data da Pregação: 06/01/1993
Tema: Epifania

 

1. Introdução

Estamos no início de um novo ano; também no início de um novo ano litúrgico. É tempo de revisão de vida, tempo de tomar resoluções. Como vamos fazer a avaliação do passado? Com que perspectiva vamos pautar os dias deste ano, para que ele seja diferente do ano e dos anos passados? Será que a festa da Epifania tem algo a dizer sobre o assunto?

O ano inicia mal. A recessão chegou para valer. O desemprego alcançou os níveis mais altos. Casos de corrupção explodem todos os dias nos jornais. O salário mínimo já está abaixo dos próprios índices propostos pelo governo e muito aquém das necessidades básicas da população. O governo parece determinado a entrar na modernidade a custo das vidas de 75% da população brasileira. Diante desse quadro, o que três reis do Antigo Oriente podem dizer que seria do nosso interesse?

 

2. Texto

2.1. Contexto

O Evangelho de Mateus aborda uma série de temas que aparecem, desde o início, como prefigurados nas histórias da infância de Jesus: a abertura ao universalismo, a necessidade de optar a favor ou contra Jesus, a aprovação daqueles que respondem com fé, seja qual for a sua origem. Pois a própria comunidade está enfrentando um conflito entre os judeu-cristãos, membros dela desde o início, e os gentios que estão entrando nela especialmente depois do seu deslocamento de Jerusalém para Antioquia. Abrir ou fechar? Quem tem acesso à fé? Aceitar Jesus: quais as exigências? Estas são algumas das perguntas com que a comunidade lutava.

Na introdução ao evangelho, a comunidade de Mateus está remontando a vida de Jesus até as suas origens. Após a genealogia (que já toca alguns dos temas notados acima) e o relato do nascimento de Jesus, aparece a visita dos três magos, vindos do Oriente. Nesta parte do evangelho, é necessário ter em mente que as histórias da infância de Jesus não têm o mesmo objetivo nem os mesmos critérios dos relatos de sua vida pública. Aqui o autor usa muita imaginação e simbolismo, a fim de colocar algumas verdades sobre Jesus, mas não pretende fazer um vídeo dos acontecimentos contados. E aí temos uma chave para a leitura: temos também de usar bastante imaginação e entrar no simbolismo se quisermos entender a mensagem desse trecho.

2.2. Texto

Parece que o texto tem uma organização: a-b-b’-a. A = vv. 1-2, a introdução dos magos com sua busca, tendo interpretado os sinais; b = 3-8, os magos frente ao rei Herodes, com o contraste entre eles; b’ = 9-11, os magos, na presença de Jesus e Maria, oferecem seus presentes; a = 12, os magos, outra vez discernindo os sinais. Assim, fica óbvia a comparação entre os magos, que sabem entender os sinais dos tempos, e Herodes, os sacerdotes e escribas, que apesar de terem toda a informação nas mãos, não entendem nada. Outra comparação, implícita, está na concentração de poder nas mãos dos poderosos de Jerusalém, contrastando com a partilha de bens, simbolizada nos presentes dados a Jesus.

A palavra mago (magoi) indicaria sábios do Oriente, que poderiam ser sacerdotes. Se na origem o termo aplicava-se a pessoas vindas da Pérsia, Mateus diz simplesmente que eles vêm do leste. -Porém, são astrólogos e, nos tempos helenísticos, o centro de astrologia estava na área da Mesopotâmia, região dos tradicionais impérios opressores de Israel. Os magos vêm porque vimos a sua estrela no Oriente. A sua sabedoria está ligada à leitura dos astros, mas não se limita a isso. Pois eles sabem que a estrela que viram aponta para o recém-nascido rei dos judeus. Eles sabem entender o significado dos sinais e vêm para prestar homenagem ao novo rei.

Contrasta com esses magos Herodes Magno: os magos frente ao Magno. O que impressiona aqui não é somente a ignorância de Herodes diante dos magos, mas o fato de ele e toda a cidade de Jerusalém ficarem alarmados. Como é que o nascimento de uma criança pode amedrontar um rei e toda a sua laia? Pois, obviamente, toda a cidade quer indicar somente aqueles que vivem ligados ao rei e às custas da população. O primeiro anúncio do nascimento de Jesus provoca medo nos grandes, nos que oprimem e empobrecem os marginalizados e fracos da sociedade. Para eles, Jesus é uma ameaça.

Os magos parecem saber que uma estrela avança de Jacó, um cetro se levanta de Israel (Nm 24.17) e buscam este que a estrela notifica. Herodes tem que chamar os sacerdotes e doutores da lei para poder responder algo aos magos e, assim, esconder a sua ignorância. Mq. 5.1-3 e 2 Sm-5.2 são juntados pelos sábios de Jerusalém para dizer que tipo de rei dos judeus os magos devem procurar e onde, embora o pessoal de Jerusalém não entenda a implicação destes versos. E nem pode, pois Jerusalém está na escuridão: a estrela não brilha lá.

Belém é a cidade natal de Davi, o rei justo. Toda Israel está desejando a vinda de um que fará justiça (Sl 72). Miquéias diz que ele governará com a própria força de Javé, com a majestade do nome de Javé (…) E habitarão tranquilos (…) Ele próprio será a paz (5.3-4). 2 Samuel afirma que é um chefe que vai apascentar Israel, meu povo. Um pastor que conduz a verdes pastagens e águas tranquilas. Eis a descrição daquele que deve nascer e que a estrela aponta. Jerusalém não é ignorante das promessas; não é ignorante da lei ou do projeto de Deus. Mas Jerusalém e Herodes encarnam e encabeçam um regime absolutamente contrário ao que o novo rei vem instalar. Daí vêm o medo e os planos de morte.

Jesus, a criança recém-nascida em Belém, uma pequena cidade quase na periferia de Jerusalém, ameaça Herodes e Jerusalém. Pois ele vem realizar os desejos do povo. Ele vem como resposta aos pedidos expressos no Salmo 72. É impossível aos grandes reconhecerem e aceitarem tal rei. Ele terá que ser morto. Porém, os que sabem ler os sinais dos tempos e que buscam o projeto de Deus irão encontrá-lo e reconhecê-lo como a realização dos desejos do povo e das promessas de Deus.

Na cidade de Herodes não há luz: a estrela não pode brilhar lá. Os projetos desse rei são de morte e não de vida. Herodes tenta enganar os reis, fingindo que quer também prestar homenagem ao recém-nascido. Mas os planos dele são para matá-lo. E, como muitos grandes, frustrado este plano, ele matará indiscriminadamente.

Fora de Jerusalém, a estrela não só brilha, mas conduz até a casa onde está Jesus. Os magos presenteiam a criança com o ouro dos reis, o incenso dos deuses e a mirra dos mortos. Com certeza, as dádivas prefiguram a vida, morte e ressurreição de Jesus. Porém, o fato de os três magos virem do Oriente parece indicar que há algo mais em jogo.

Historicamente, o Oriente foi inimigo, invasor e opressor de Israel. A Assíria enriqueceu com os tributos dos reinos de Israel e de Judá e, finalmente, destruiu o Reino do Norte por completo. A Babilônia fez o mesmo serviço a Judá. E, apesar de Ciro ter permitido a volta dos exilados, a Pérsia agiu da mesma forma em vista das divisas que entrariam nos seus cofres e da necessidade de ter nações amigas nas fronteiras do seu império.

Parece que não é gratuito o fato de os magos virem do Oriente. As nações que enriquecem ilicitamente trazem de volta sua riqueza. Os poderes inabaláveis do Antigo Oriente vêm prestar honras ao novo rei e ao novo sistema de justiça e de igualdade que ele deseja implantar. Reconhecem que este é o Deus dos anseios de todos os povos.

Esse três magos são as primeiras pessoas às quais Jesus se manifesta. Eles, neste papel, representam todas as nações que vêm ajoelhar-se aos pés de Jesus. Também eles representam o convite à reconciliação entre os judeus e seus históricos inimigos, e isto especialmente dentro da comunidade de Mateus, onde a entrada de gentios estava causando uma polêmica. Através de sua busca, de sua leitura dos sinais e de seus presentes, os três magos nos falam de uma consciência clara do projeto de Deus para o seu mundo e proclamam que este projeto se realiza em Jesus, este fraco recém-nascido. E mais! São esses magos, de um país estrangeiro, tradicional inimigo, que encontram Jesus e se ajoelham diante dele, reconhecendo e aceitando-o. Herodes e Jerusalém, com os doutores da lei, o templo e o poder, não aceitam de forma alguma um sistema que tire os seus privilégios. Os grandes rejeitaram e rejeitarão Jesus e o seu reino.

 

3. Subsídios litúrgicos

1. Use Sl 72 tanto para uma reflexão sobre o reino de Jesus, quanto sobre como deve ser a nossa organização em sociedade.

2. Os presentes oferecidos a Jesus são sinal de partilha. Organize uma coleta a favor dos mais necessitados e crie uma maneira interessante de distribuição que conscientize todos.

3. Prepare uma dramatização de uma história de hoje que toca nos pontos da leitura.

4. Levante com a comunidade as maneiras como os grandes conseguem enganar-nos, fingindo ter os mesmos interesses, quando de fato estão tramando corromper-nos. Coloque esses pecados sociais diante da misericórdia de Deus.

5. Organize, a partir dessa celebração, um grupo de educação política para refletir sobre os sinais dos tempos e ajudar a comunidade a evitar ser cooptada pelas falsas promessas dos grandes.

 

4. Bibliografia

DOBBERAHN, F. Epifania: Is 60,1-6, em Proclamar Libertação. São Leopoldo, Sinodal, 1991;
LÉON-DUFOUR, X. Os Evangelhos e a História de Jesus. São Paulo, Paulinas, 1972;
MCKENZIE, J. The Gospel According to Matthew, em Jerome Biblical Commentary. New Jersey, Prentice Hall, 1968;
STORNIOLO, I. Como Ler o Evangelho de Mateus. São Paulo, Paulinas, 1990.

 

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Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).