Caminhar juntos/as – Eis o propósito colocado por comunidades/paróquias, obreiros/as, conselho sinodal e pastor sinodal nesta nova estrutura de Igreja. Caminhar juntos/as significa olhar na mesma direção, ter o mesmo propósito, tendo lado a lado pessoas, grupos, movimentos, organizações, instituições com projetos comuns. Não que este propósito não estivesse presente anteriormente. Acontece que agora as expectativas voltam-se menos para a direção central/nacional e focaliza-se mais a realidade local e regional como lugar de articulação da Igreja com vistas ao testemunho e a missão evangélica.
Este foco novo exige uma reeducação por parte de lideranças e obreiros/as. Além disso todo este projeto se desenrola tendo como protagonistas os/as obreiros/as não ordenados/as mais conhecidos/as como leigos/as.
A descentralização teve e tem como meta conferir ao povo de Deus, organizado em comunidades, a precedência no testemunho e na missão. Seria, adaptando o ditado dos ecologistas “pensar globalmente e agir localmente”, pensar no conjunto da Igreja e agir comunitariamente a nível local. A sinodalidade estará garantida quando estiver acontecendo o equilíbrio entre a atuação local e a visão regional/nacional.
Esta novidade não se impõe por decreto. Antes é um novo espírito que marca as relações de poder e as atividades pastorais das comunidades e entre as comunidades. Este novo jeito exige um constante repensar dos papéis que são atribuídos a todos/as neste processo de sinodalização. Neste sentido estamos todos aprendendo. Tanto Conselho Sinodal e sua diretoria como Pastor Sinodal estão procurando acertar o novo foco. Até agora aconteceram algumas atividades que indicam a grandiosidade do desafio que está colocado diante de nós.
A visitação às comunidades por ocasião de eventos festivos ou por ocasião da apresentação, investidura, ordenação de obreiros/as e mediação de conflitos torna-se uma oportunidade importante para perceber alegrias, angústias, conquistas, anseios e preocupações.
Na visita aos extremos geográficos (Teófilo Otoni/MG e Rio Claro/SP) pude verificar a riqueza e variedade do testemunho em nossa área geográfica tão vasta. Esta riqueza em termos de experiências tão diversas na missão, na diaconia, na edificação de comunidade, no acompanhamento pastoral, na alimentação espiritual e na promoção da comunhão fraternal necessita de espaços para ser partilhada.
A construção de uma rede de solidariedade entre comunidades passa pelo conhecimento mútuo de sua atuação e de suas necessidades. Como vamos fazer “pontos com nós” sem que homens, mulheres, jovens e crianças tenham um rosto concreto?
Na rede existem ligações/nós (comunidades/grupos) feitas por pessoas que se encontram e se comunicam com outros ”nós”. Neste particular chamo atenção para a necessidade de um intercâmbio maior entre áreas missionárias e trabalhos missionários das comunidades bem como entre trabalhos diaconais existentes no âmbito do Sínodo Sudeste.
No acompanhamento de reuniões de presbitérios, Conselhos de Uniões Paroquiais e Assembleias de Uniões Paroquiais (RJ, Campinas e SP) percebe-se a necessidade de uma constante dinamicidade para fazer frente aos mais diversos desafios. Sente-se uma abertura para inovações que conduzem a uma vivência comunitária mais participativa e envolvedora. Dezenas de homens e mulheres dedicam grande parte de seu tempo para a administração e coordenação das atividades comunitárias com muito amor e paixão por sua Igreja.
No entanto, chama a atenção a necessidade de formação de novas lideranças para que as responsabilidades de coordenação e decisão sejam partilhadas por mais pessoas. Ao mesmo tempo respira-se uma certa animosidade e um sentimento de fragilidade frente aos desafios e anseia-se mais participação e mais dinamismo. Espera-se por uma “pedra-de-toque” quase mágica que remove obstáculos e impulsiona a Igreja como um todo.
Os setores de trabalho estão encontrando seu jeito na nova estrutura. A Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (OASE) e a Juventude Evangélica (JE) já realizaram reuniões e eventos com vistas a sua organização. Escolheram suas coordenações e programaram atividades que tem como objetivo a dinamização dos grupos locais nas comunidades.
No que se refere ao acompanhamento dos/as obreiros/as ordenados/as constata-se que há oportunidade para partilhamento por parte de uns, mas o isolamento por causa das distâncias impede encontros mais freqüentes por parte de outros.
A partilha de experiências, o estudo de temas teológicos e a animação mútua acontecem basicamente entre obreiros/as das Uniões Paroquiais. Seminários e conferências de caráter sinodal são uma necessidade. Neste particular ainda precisamos encontrar modalidades para suprir as deficiências já que a sinodalidade da Igreja também passa pela possibilidade de encontros de estudo e aprofundamento daqueles/as que são responsáveis pela vida espiritual das comunidades/paróquias.
Em termos gerais pode-se afirmar que a ênfase principal que tem norteado até agora as conversações e o planejamento gira em torno da formação e da capacitação para a missão. Serão elas os pilares que sustentarão a vida das comunidades da Igreja para o futuro. Caminhar juntos/as nesta perspectiva anima e compromete.
Enquanto Pastor Sinodal, em conjunto com a Diretoria e Conselho Sinodal, gostaria de ser mediador, interlocutor e animador deste processo. Trata-se, no entanto, de um grande mutirão em que se somam e se partilham forças e os recursos ao mesmo tempo. Para ilustrar este processo, finalizo com duas histórias.
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Uma pessoa desconhecida, elegantemente vestida está parada de repente em frente ao portão de uma casa. Ela pede à dona-de-casa, cheia de espanto e admiração, que esta lhe dê de comer. “Lamento muito”, diz ela, “no momento eu não tenho nada em casa”.
“Não se preocupe”, disse a pessoa com muita simpatia, “eu tenho uma pedra para sopa em minha mochila. Se você permitir, eu a coloco em uma panela com água fervente e farei com ela a melhor sopa do mundo. Uma panela bem grande, por favor!”.
A mulher ficou curiosa. Ela colocou a panela sobre o fogão e imediatamente foi cochichar para a vizinha a história da pedra. Mal a água começara a ferver, lá estava toda a vizinhança para ver a estranha pessoa e a sua pedra de fazer sopa. A pessoa jogou a pedra na água, adicionou uma colher de óleo e, após alguns minutos com o rosto cheio de prazer, exclamou: “ Que preciosidade! Precisaria apenas de algumas batatas”.
“Eu tenho batatas em casa”, gritou uma mulher. Em poucos minutos ela trouxe uma boa quantidade de batatinhas descascadas e picadas que foram jogadas na panela. Depois de algum tempo a estranha pessoa experimentou o cozido. “Excelente!” ela disse e desoladamente acrescentou: “Se pelo menos tivéssemos um pouco de carne, isso daria um prato muito gostoso”.
Uma outra mulher correu para casa e voltou com um pouco de carne que a pessoa, muito agradecida, recebeu e jogou na panela. Ao experimentar novamente o caldo, ela olhou para cima com as vistas brilhando e disse: “ Que deliciosa! Se tivéssemos uns legumes ela ficaria perfeita, realmente perfeita!”.
Um dos vizinhos foi para casa e veio com uma cesta cheia de cenouras e cebolas que também foram parar na panela. A pessoa sorveu o caldo e, em tom de súplica, exclamou: “Sal e Maggi.” – “Estão aqui”, disse a dona-de-casa.
E para finalizar mais um pedido: “Para cada um prato de sopa!” As pessoa correram para casa para buscar os pratos. Alguns até trouxeram pão e frutas.
Todos se sentaram para uma refeição muito rica e a estranha visita distribuiu uma grande porção de sua inacreditável sopa. Todos estavam felizes enquanto falavam, riam e pela primeira vez comiam juntos. Em meio a felicidade a estranha pessoa sumiu sem ser notada e deixou para trás a pedra milagrosa que eles podiam usar toda vez que tivessem vontade e assim preparar a melhor sopa do mundo.
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Numa aldeia deveria acontecer uma enorme festa e todos os moradores deveriam contribuir com uma garrafa de vinho que todos despejavam num enorme barril. Quando a festa começou e se abriu a torneira do barril só saía água.
Um dos moradores da aldeia tinha pensado: “Se despejar uma garrafa de água neste enorme barril, ninguém vai perceber a diferença”. Só que ele não pensou que cada um dos demais moradores também tivera a mesma ideia.
Como lideranças reunidas nesta Assembleia Sinodal, cozinhemos a melhor sopa do mundo! Não esquecendo o vinho, é claro!
Que o Espírito de Deus, criador e mantenedor de seu povo, nos anime e conduza nesta caminhada comum.
Rolf Schünemann
Pastor Sinodal