Como nos preparar para os tempos do fim?
Proclamar Libertação – Volume 43
Prédica: 2 Tessalonicenses 1.1-4,11-12
Leituras: Isaías 1.10-18 e Lucas 19.1-10
Autoria: Erní Walter Seibert
Data Litúrgica: 21º Domingo após Pentecostes
Data da Pregação: 3 de novembro de 2019
1. Introdução
Nos domingos do final do Ano Eclesiástico, os textos bíblicos apontam para o final dos tempos. Assim, assuntos que mostram como serão os tempos anteriores à segunda vinda de Cristo e como será o juízo final aparecem em maior destaque. Paulo escreveu duas cartas aos tessalonicenses. A segunda carta visava complementar instruções dadas na primeira sobre a segunda vinda de Cristo e a importância de uma vida cristã responsável nos tempos do fim.
As leituras do culto do domingo reforçam o tema da leitura da epístola. Na leitura de Isaías 1.10-18, o profeta fala contra a religiosidade formal e não sincera. Deus não quer um culto que não seja prestado de coração. O formalismo sem conteúdo é condenado no texto de Isaías. O culto que agrada a Deus é o que não apenas cumpre rituais, mas que põe em prática o amor ao próximo.
O texto do evangelho – Lucas 19.1-10 – conta a história de Zaqueu, o publicano. Nesse texto, um funcionário público corrupto se aproxima de Jesus e o convida a ir à sua casa. Naquele dia, na casa de Zaqueu, houve mudança de vida. Ele reconheceu seus erros e procurou reparar o malfeito. Sua vida não foi apenas de palavras, mas de fato e verdade. Uma vida responsável diante de Deus.
2. Exegese
O texto da epístola não tem grandes dificuldades de entendimento. Como o texto está no início da epístola, ele segue algumas formalidades desse tipo de escrito. Paulo começa apresentando a si mesmo e seus companheiros Silvano e Timóteo. Silvano é a forma latina do nome Silas. Ele aparece em Atos 15 como incumbido pela igreja de Jerusalém de acompanhar Paulo e Barnabé até Antioquia para transmitir a decisão do Concílio de Jerusalém. Silvano foi escolhido por Paulo para acompanhá-lo na sua segunda viagem missionária. Timóteo era ainda um jovem nos afazeres missionários. Ele era tido em alta estima por Paulo. O apóstolo considerava Timóteo seu filho em Cristo. Silvano e Timóteo são citados no início da carta como remetentes da mesma ao lado de Paulo.
Os dois primeiros versículos são muito formais. Além da apresentação dos remetentes, há uma saudação aos leitores. A saudação expressa votos de que a graça e a paz que vêm da parte de Deus, por meio de Cristo, cheguem a todos. Graça e paz só podem ser entendidas quando se olha para Deus Pai e para a obra de Jesus Cristo.
Depois da saudação, o texto começa a introduzir a razão da carta. Primeiro vem uma palavra de gratidão a Deus pela fé e vida consagradas dos tessalonicenses. Crescem entre eles a fé e o amor mútuo. Isso é testemunhado pelo apóstolo às igrejas com as quais ele tem contato. O destaque da fé e do amor torna-se ainda mais notável porque eles crescem em meio a perseguições e tribulações.
Os tessalonicenses sabiam o que eram perseguições. Em Atos 17.1-9, é contado de uma perseguição que se deu justamente quando Paulo lá esteve pregando. A igreja local, recém-iniciada, já passava por perseguição. Essa não foi somente contra Paulo, mas também contra membros da igreja. Apesar desse início difícil, os tessalonicenses mantiveram-se firmes na fé em Jesus Cristo. E quando Paulo destaca isso, eles bem podiam compreender o que ele queria dizer.
As dificuldades da perseguição são enfrentadas com fé e paciência. A fé apega-se à graça do Senhor Jesus e ao amor de Deus Pai. Se confiamos em Deus no meio do sofrimento, teremos um porto seguro, um castelo forte, um socorro bem presente. A paciência é necessária porque, em meio ao sofrimento, por vezes, não vemos com clareza uma solução para os problemas. Se a impaciência orientar nosso comportamento no meio do sofrimento, então temos muito mais chances de cometer erros e ser derrotados. A paciência, ao lado da fé, faz uma condução segura.
A leitura da epístola do domingo faz um corte ao final do versículo 4, indicando como continuação os versículos 11 e 12. Nesses versículos, o apóstolo Paulo olha para os tempos do fim como próximos. É a perspectiva da pessoa cristã de olhar o futuro. No futuro, ela sempre vê a volta de Cristo. O quadro do futuro imediato não antevê o final da tribulação como algo que acontecerá. Mas o que o texto deixa muito claro é que, no fim dos tempos, Deus dará o prêmio da vida eterna aos que permanecerem fiéis. E aos que perseguiram os fiéis de Deus será dado o castigo eterno.
Com esse pano de fundo, nos versículos 11 e 12, o apóstolo diz que ora pelos tessalonicenses para que fiquem firmes em meio às dificuldades. Por meio de uma vida de fé, consagrada, o nome de nosso Senhor Jesus é glorificado. As palavras do apóstolo querem estimular os tessalonicenses, com base na graça de Deus em Cristo, a se manter firmes na fé e na vida consagrada. Se os tessalonicenses desistirem no meio do caminho, o propósito de Deus para com eles não se cumpre. Para que eles possam seguir firmes é importante que a relação com Deus em Cristo siga sem interrupção. O nome de Jesus é glorificado pela vida deles e neles; e eles permanecem firmes em Cristo. O jogo de palavras – ele em vós e vós nele –, no versículo 12, resume a relação estreita que o apóstolo vê e recomenda a seus leitores. O apóstolo, no versículo 11, atribui tudo à ação de Jesus na vida dos tessalonicenses. Jesus, pelo seu poder, realiza os desejos dos tessalonicenses e completa o trabalho iniciado – a salvação deles. Os desejos são os que provêm da fé e o trabalho é o que é feito a partir da fé.
3. Meditação
Quais são os objetivos do apóstolo Paulo ao escrever este texto? Entendendo os objetivos do autor é mais fácil estabelecer o objetivo da prédica. O apóstolo tem mais de um objetivo. Ele quer dar a seus leitores informações sobre os tempos do fim. Mas não podemos dizer que seu objetivo maior seja na área dos conhecimentos. As informações que o apóstolo traz visam firmar seus ouvintes na fé para enfrentar os tempos de dificuldades. Este é o grande objetivo: firmar seus ouvintes na fé em Jesus Cristo para prepará-los para os tempos do fim. Embora ele chame a atenção para o comportamento dos tessalonicenses, que deveria ser coerente com a fé, a preocupação maior é que seus leitores passem firmes na fé pelos tempos difíceis, alcancem a salvação, e Deus, com isso, seja louvado.
Se olharmos para a situação atual no mundo, veremos a realidade de sofrimento dos cristãos? Por um lado, sim. Dizem as estatísticas que nos dias de hoje são mortos mais cristãos do que em outros tempos da história. Estima-se que, ao longo da história, 70 milhões de cristãos foram martirizados. Metade desse número foi martirizada no século passado. E nos primeiros dez anos do século XXI, a média de cem mil cristãos morreram por martírio a cada ano (dados do The Center for The Study of Global Christianity). Esses números são tão altos por causa de perseguições políticas, religiosas e ideológicas que o cristianismo sofreu e sofre em diversos países.
Mas há outra realidade que não pode ser ignorada. Em muitos países tradicionalmente cristãos, uma boa parte da igreja vive aparentemente de forma tranquila, sem perseguições e até de maneira acomodada. Muito se fala em um esfriamento da fé. Os tempos do fim, segundo as Escrituras, apontam para essas duas realidades: sofrimento e perseguição, por um lado, e esfriamento da fé, por outro. A advertência do texto bíblico de 2 Tessalonicenses adverte para as duas situações. Não é a perseguição que faz com que a fé e a vida dos cristãos sejam mais coerentes. Mas é necessário ficar firmes na fé em Deus para que tanto a perseguição como o esfriamento sejam enfrentados e vencidos.
Outra lição que podemos aprender do texto é que a lembrança do que acontecerá no futuro, no caso do texto bíblico, no final dos tempos, ajuda a mudar a atitude das pessoas no presente. Isso é muito comum no dia a dia das pessoas. Os especialistas em finanças aconselham as pessoas a guardarem recursos financeiros no presente para poder enfrentar o futuro com mais tranquilidade. Os pais aconselham os filhos a estudarem durante a infância e juventude para poder enfrentar melhor os desafios do mundo do trabalho no futuro. Perder a fé no presente tem consequências funestas no futuro.
Como se exercita a fé no presente? Olhando para o autor e consumador da fé, Jesus Cristo. Cristãos podem se exercitar na fé buscando força e orientação na palavra de Deus. A leitura e o estudo da palavra de Deus aproximam de Jesus, e isso fortalece a fé. Mas isso não é apenas um exercício teórico. Quanto mais perto estivermos de Jesus, mais vamos praticar as obras que ele quer que pratiquemos. Ele começa e completa seu trabalho em nós.
O texto chama a atenção para o fato de que Deus é louvado por meio de nossa vida de fé. A glória de Deus é sermos salvos. Se alcançarmos a salvação eterna, Deus é louvado. E esse louvor já começa nesta vida. Deus é honrado com a vida de fé e boas obras dos cristãos.
As perseguições e os sofrimentos são obstáculos que querem nos impedir de andar nos caminhos do Senhor. Aqui é bom lembrar o que dizem as demais leituras do domingo. Isaías fala de uma fé não praticada. O evangelho fala de Zaqueu, uma pessoa corrupta que se arrependeu e mudou de vida. Vale a pena examinar como estamos vivendo a nossa fé. Pelo nosso viver e agir, Deus é glorificado ou desonrado?
Muito se fala que o Brasil é um país cristão. As estatísticas dizem que o número das pessoas que se declaram cristãs (católicos e evangélicos) chega perto de 90% da população. No entanto, o Brasil também é conhecido por ser um dos países mais corruptos do mundo. E isso não é só no mundo da política. O desrespeito aos bens alheios, à vida alheia, à honra alheia é constantemente noticiado nos meios de comunicação. A família brasileira também vive momentos difíceis. Há crianças que preferem viver na rua a ficar em casa. Pais não sabem como deveriam educar e orientar seus filhos. Até o que é uma família parece não estar claro em nossa sociedade. O que a lembrança do final dos tempos pode nos ensinar? Como deveríamos viver sabendo que o final dos tempos está próximo?
O apóstolo Paulo, no texto da epístola deste domingo, aponta para Jesus Cristo. Se ficamos firmes em Jesus, podemos enfrentar e superar as dificuldades que o mundo coloca diante de nós.
4. Imagens para a prédica
As reações das pessoas ao ouvirem falar sobre o fim do mundo são diversas. Algumas ficam com medo e outras, felizes. Na virada do milênio, em 1999, em muitas escolas, as crianças ficavam com medo quando alguém falava das profecias que eram divulgadas sobre o fim do mundo. Tente fazer uma pesquisa com os membros da igreja a respeito dos sentimentos que eles têm em relação a esse assunto. Isso ajudará a fazer com que a prédica esteja mais contextualizada.
Os movimentos preservacionistas em geral falam que o ser humano está destruindo a natureza, que isso provocará a extinção de diversas espécies e a extinção do próprio ser humano. O que os membros da igreja pensam dessa discussão? Como falar sobre esse tema à luz do texto de 2 Tessalonicenses? Uma experiência bastante comum ao ser humano é ter de enfrentar a notícia de que tem uma doença grave que poderá levar a pessoa à morte em pouco tempo. Não é o fim do mundo como um todo, mas, de certa forma, é o fim do mundo para aquela pessoa. Como o texto pode ajudar a pessoa a enfrentar essa situação de vida?
5. Subsídios litúrgicos
A liturgia da igreja, em vários momentos, fala da eternidade. Isso fica muito claro, por exemplo, no Credo Apostólico, onde se diz que Cristo há de vir a julgar os vivos e os mortos e que haverá um juízo final. Mostrando essas expressões na liturgia pode-se mostrar aos participantes do culto como a igreja sempre teve esse conceito de que a visão cristã de história caminha para o fim e aí virá a eternidade. A visão cristã de história é linear, e não cíclica. É isso que o texto nos lembra.
Como nos preparar para os tempos do fim?
– Firmando-nos na fé em Cristo.
– Colocando em prática o que cremos.
Bibliografia
BÍBLIA DE ESTUDO NTLH. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil.
Disponível em: . Acesso em: 26 fev. 2018.
Proclamar libertação é uma coleção que existe desde 1976 como fruto do testemunho e da colaboração ecumênica. Cada volume traz estudos e reflexões sobre passagens bíblicas. O trabalho exegético, a meditação e os subsídios litúrgicos são auxílios para a preparação do culto, de estudos bíblicos e de outras celebrações. Publicado pela Editora Sinodal, com apoio da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).