Ao olhar para os campos e para as montanhas, vemos um tempo novo. Tempo de renovação, de perspectivas e de esperança. É o verde que lentamente vai cobrindo o cinza do tempo frio. É o rebento, é o broto anunciando o tempo novo. É a primavera que desponta em todos os lugares. Aqui no Planalto o cinza é mais intenso, assim também o renovo é muito mais visível. Vivemos o despertar das gemas dormentes. São flores e folhas que despontam para a vida. No rigor do inverno, os brotos de nova vida não se atrevem a aparecer. Ficam os galhos secos, aparentemente mortos. Galhos sem perspectiva e sem alegria..
Com o anúncio da primavera, a paisagem vai mudando. O que parecia seco e sem vida vai se transformando num espetáculo sem igual. As flores e as folhas nascem, irrompem a casca endurecida, sem a nossa participação. O tempo novo vai se fazendo. São cheiros, cores e formas que preenchem nossos espaços e despertam em nós a esperança. Esperança de sombra, de flores, de cheiros, de frutos e de sabores. É a primavera em sua primeira semana, anunciando o novo, a possibilidade, a beleza, a concretude da vida.
A primavera anda em nós e nós andamos na perspectiva. Neste tempo que se anuncia como novo, estamos prestes a exercer mais uma vez nosso direito e nosso dever do voto. Estamos prestes a indicar pessoas para a composição do mando e comando de nosso País e Estado. Não sabemos o que vem. Sabemos apenas que existe uma estrutura dormente, igual os ramos de árvores no inverno. Ansiamos pela primavera em nosso País. Desejamos uma nova paisagem. Sonhamos com flores e necessitamos de bons frutos.
A primavera vem sem nossa participação – a democracia e a dignidade de cidadão, não. Cada pessoa é responsável e contribui nesse processo. Nossa participação, nosso envolvimento é determinante para o processo ser portador da esperança e da possibilidade. Nossa opinião, nossa participação e nosso voto consciente são fundamentais para a construção deste tempo novo. A primavera será possível em nossa República se houver a possibilidade da renovação, e a justiça for a sustentação das ações.
Nosso Planalto aqui ainda está cinza. Que as cinzas de nosso Planalto de lá se transformem em fonte de energia e força para este povo cansado de inverno e secura. Não é mais possível esta desesperança. Necessitamos de tempo novo. Tempo de rebento, onde não haverá mais criança para viver poucos dias, nem velho que não cumpra os seus. Eles edificarão casas e nelas habitarão; plantarão vinhas e comerão de seus frutos (Isaías 65.20a,21). O profeta Isaías sonha. Também nós somos convidados a sonhar. O sonho profético é sonho de fé. Fé pressupõe mãos à obra, ou seja, envolvimento e participação.
O tempo novo se fará, se nós o fizermos. Assim como a primavera vem, assim podemos apostar numa nova possibilidade, se nossa participação for efetiva. Podemos acreditar, devemos sonhar que ainda é possível tornar o cinzento Planalto num lugar de gestação de vida. É possível. É importante. É necessário. É urgente. Eis que vivemos o anuncio de um tempo novo. É a primavera querendo chegar. A primavera é sempre novidade. Não tenha medo, sua novidade é a possibilidade de recomeçar.
Sisi Blind
vice-pastora sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
pastora da Paróquia de Curitibanos
em Curitibanos – SC
Jornal ANotícia – 27/09/2002