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O ecumenismo brasileiro é um rebento que cresce na árvore histórica do ecumenismo. Ele se desenvolveu sobre documentos das igrejas, sobre orientações que foram dadas e cresceu com base em experiências vividas por pessoas que, no decorrer da história, tentaram viver o espírito que aponta à unidade dos cristãos. É característica do ecumenismo brasileiro que ele se apresenta .com uma vitalidade extraordinária. A prática ecumênica, muitas vezes, é mais ativa e perseverante nas bases comunitárias do que na cúpula das igrejas. É verdade que a força do ecumenismo nem sempre evidencia constância e intensidade iguais. Por causa das condições de vida do nosso povo, em função da realidade da violência, da falta de condições de vida saudável e justa para todas as pessoas, por causa da corrupção e da impunidade, em função da opulência de um lado e das condições miseráveis de uma ampla maioria, por outro lado, a divisão entre os cristãos se constitui em escandaloso luxo. Foi dessa maneira que se expressou uma liderança da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. O ecumenismo no Brasil apresenta características próprias. As igrejas que cooperam no processo de unidade evidenciaram menos vigor nos debates de questões confessionais e problemas eclesiais, ainda que houveram e continuam debates importantes dessa ordem. O ecumenismo brasileiro tem perguntado pela vontade de Deus e do compromisso das igrejas decorrente dessa vontade em busca de mais vida e de transformação individual e social.

A prática do ecumenismo não se inspira tão somente em política de boa vizinhança entre as igrejas. A necessidade da convivência ecumênica é exigência da própria situação em que se encontra o nosso povo. O fato de nos empenharmos pela unidade dos cristãos parte, antes de tudo, de um mandato calcado no próprio Evangelho. A Bíblia, nossa base comum, impulsiona as comunidades ao empenho conjunto por vida em abundância, para todas as pessoas.

Por causa da vivência comunitária, tanto na área geográfica da Diocese como no Sínodo Norte Catarinense, descobrimos a necessidade de urgências provocadas pelos desacertos na realidade social, econômica e também desacertos na prática da vida religiosa que nos motivam à prática ecumênica. A oferta bíblica de unidade se apresenta como desafio a partir dos reclamos e das necessidades do próprio povo cristão. A credibilidade das nossas celebrações, dos nossos encontros, dos projetos missionários passa pela soma de esforços e das ações ecumênicas Se não o fizermos, corremos sério rico de sofrer prejuízos na edificação e no fortalecimento das próprias comunidades.

Quais seriam as nossas necessidades na Diocese Católica e no Sínodo Norte Catarinense capazes de estimular a ação conjunta das igrejas? As exigências e as expectativas são diferentes. Será preciso que definamos o tipo de compromisso ecumênico a nos orientar nos atos práticos e nos estudos em conjunto. O ecumenismo não só motiva ao entusiasmo. Ele pode despertar desconfiança, temores e gera mecanismos de defesa. O vento anti ecumênico também sopra! Isto acontece, quando nos preocupamos com a perda da identidade confessional própria ou quando se acirra a concorrência religiosa onde se procura atrair membros para os seus próprios rebanhos. O quadro do ecumenismo no Brasil tem vários rostos. Existem modelos e propostas diferentes. Não faltam as divergências. Sentimos avanços e convivemos com recuos.

O tema ecumenismo não só é fonte para a reflexão teórica entre lideranças teológicas e eclesiais, padres, pastores/as, obreiros em geral. É missão comunitária que deve acontecer igualmente na prática: entre comunidades, famílias, vizinhos, colegas de trabalho, nas escolas. É prática responsável diante do Senhor da Igreja, Jesus Cristo. É compromisso fundamentado no Evangelho, base comum e fonte de inspiração para as celebrações e ações em conjunto.

O ecumenismo brasileiro não é assunto preso em formas, ritos fixos, teses teóricas, mas é dinâmico. Aliás, o ecumenismo sempre se apresenta como um processo de aprendizagem comum de ser igreja de Jesus Cristo neste país. A reflexão e as ações em conjunto favorecem o fortalecimento da consciência de unidade.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Diosece Informa – 10/2002