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Inclusão é a palavra-chave da prática de Jesus. Como cristãos somos desafiados a proceder da mesma forma. Na sociedade contemporânea de Jesus a inclusão não era experimentada. O testemunho dessa realidade é denunciado por Jesus em sua atuação. Na lista dos excluídos estavam os deficientes físicos e mentais, os doentes, os pobres, os estrangeiros, as mulheres e as crianças..

Não se pode dizer qual era o grau de exclusão de cada categoria, mas se pode precisar com segurança que esses grupos eram excluídos das relações sociais, comunitárias e religiosas da época. A ação de Jesus vem na contramão da experiência social e religiosa. Seu testemunho é de acolhida, orientação, cura e partilha.

Diante do Dia da Criança, somos chamados a fazer uma análise da conjuntura social e religiosa de nossa época. Somos hoje uma sociedade democrática e livre; as religiões proliferaram; a comunicação é rápida; e o avanço tecnológico tem dimensões gigantescas. No entanto, ainda não entendemos e não conseguimos superar a prática da exclusão. Convido para que afunilemos nossa análise somente para a relação em torno do mundo da criança.

Jesus disse: Deixai vir a mim os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque delas é o Reino de Deus (Mateus 19.14). Deixar vir, naquele contexto, significou romper com a barreira do preconceito e construir a dignidade inclusiva dos pequenos. Cabe-nos a tarefa de avaliar nossos modelos de sociedade civil e religiosa e verificar se de fato as crianças todas têm acesso à dignidade e inclusão.

Com sinceridade, vejo que nem a dignidade e nem a inclusão das crianças é prática comum entre nós. Pois se assim fosse, não teríamos tantas crianças recém-nascidas morrendo por falta de condições básicas de sobrevivência, ou dormindo ao relento sem comida, cama e vestimenta. Também não teríamos esse grande contingente infantil abandonado sem pai para lhes dar amor e a mão orientadora e segura. Há tantas outras que não têm pai e nem mãe. Outras ainda aguardam na fila da espera para a adoção, quando as estatísticas nos mostram que existem mais famílias na lista de espera do que crianças a serem adotadas. Seria o preconceito a grande barreira? Talvez a criança que espera não tenha as características que a sociedade pede?

Não as embaraceis. Jesus em sua sabedoria nos coloca em alerta. Precisamos abraçar essa causa. Não é mais possível ver tanto embaraço. Que pode causar maior embaraço na vida de uma criança do que a violência? A violência sexual contra os pequenos parece que tem aumentado em gênero, número e grau. Os dados são assustadores. A polícia não dá conta de combater esses crimes hediondos. Os bosques e praças, as paredes das casas familiares, das instituições civis e eclesiásticas têm sido testemunha desta violência muda e mortal. A humanidade é mesmo desumana.

A inclusão é desafio milenar. Muitas pessoas, instituições e projetos assumem esse desafio. Mas é preciso mais força. É preciso que cada um de nós se engaje na tarefa do anúncio e da denúncia. É preciso coragem e ousadia. É urgente quebrar barreiras e derrubar muros. Das crianças é o reino de Deus, e este reino quer se instalar neste mundo. O exemplo já temos. Resta-nos assumir ainda mais nossa tarefa de pessoas cristãs. Cuidemos de nossos pequeninos!

Sisi Blind
vice-pastora sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
pastora da Paróquia de Curitibanos
em Curitibanos – SC
Jornal ANotícia – 11/10/2002