Parábolas, na realidade, são símbolos desenvolvidos de imagens do cotidiano a serviço da comunicação. Instrumentos simbólicos que revelam verdades e valores existenciais, que carecem de interpretação. Trata-se de chaves que permitem o ingresso a reservas de conteúdos significativos..
Trago, nesta oportunidade, à leitura reflexiva uma parábola. É a história de um pão, recém-saído do forno. Pão crocante, dourado e de aspecto impecável. Mas esse pão não queria ser consumido. Seu cheiro tão bom e comunicativo deixava correr água na boca. Todos os demais pães admiravam, invejosos, aquele pão especial. Pensava: Eu sou o pão mais vistoso da panificadora. Será que mereço ser vendido? Não, não quero desaparecer numa sacola, cortado em fatias, para então ser consumido. Isso não me convence, não quero passar por tamanha humilhação!
Sempre que a vendedora atendia um freguês e pegava pães na prateleira, aquele pão egoísta se escondia. Em determinado momento, a vendedora abriu uma gaveta. Tirou algumas sacolas. Quando deu as costas, o pão orgulhoso saltou da prateleira e se escondeu na gaveta. Lá dentro ele pensou: Agora estou salvo. Aqui no fundo da gaveta ninguém vai me encontrar.
Na gaveta, as sacolas muito entusiasmadas diziam: Hm… que pão especial! Nunca vimos algo igual. E aquele cheiro…como é gostoso!
Passados dois dias, a admiração das sacolas pelo pão dourado já não era mais tão grande. Depois de uma semana, sua aparência não era a mesma. A casca deixou de ser crocante, e o cheiro, antes tão bom, estava desaparecendo. Aos poucos, o pão começou a emplacar bolor. Apareceram os primeiros fungos. As sacolas criaram nojo do pão. Seu cheiro azedo e de mofo tornou-se insuportável. Diziam as sacolas, até com uma dose de raiva: Só falta nós, sacolas tão branquinhas, sermos contagiadas pelos fungos e pelo cheiro azedo.
Passaram mais alguns dias, e a vendedora sentiu aquele cheiro azedo e o ar de mofo que vinha daquela gaveta. Ao abri-la, ficou com nojo com o que viu. Pegou a gaveta e jogou tudo o que nela estava guardado numa grande lixeira.
Assim é a história do pão orgulhoso, egoísta. Pão que se esquivou de servir de alimento. Receoso, azedou no fundo de uma gaveta. Criou fungos, cheirou mal e, por fim, parou no lixo.
Uma parábola que faz pensar na vida, em suas omissões, nas ofertas. Faz refletir sobre os valores da vida. Lembra o medo coletivo, as decepções e as incertezas existenciais, que, no mundo presente, geram crises, angústias e ofuscam o brilho das imagens da esperança e da paz. Um novo ano litúrgico está prestes a iniciar. O tempo de Advento se aproxima depressa. O céu se abre. Jesus Cristo, o Messias prometido, vem! Seu movimento é de vinda, não de afastamento. Ele vem como portador da esperança para o mundo. Cristo vem para libertar, trazer redenção. É o braço estendido, a missão de Deus materializada para oferecer esperança, repartir as Boas Novas, assim como se reparte o pão que sacia a fome. A função do pão é servir de alimento para fortalecer, ser ajuda no caminho. Os raios da esperança rasgam a escuridão. O medo deixa de ter a última palavra. Surge o novo. É o novo amanhecer que se aproxima; a sombra e as trevas dão lugar à Luz do Mundo. Nosso Deus abre os céus sobre a Terra na hora que Ele estabelece. A liberdade e a iniciativa são suas. É o Senhor que vem agindo com paciência. Ele espera conosco, à medida que servimos e organizamos, em comunhão, o novo dia de amanhã, a vida em abundância. A eternidade irrompe e festeja sua presença, já aqui e agora.
A parábola do pão egoísta: uma chave a serviço da esperança que gera curiosidade e criatividade; uma parábola a serviço da paz que favorece a dignidade da vida e traz lições para a transformação das pessoas e da sociedade mediante a nossa cooperação.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 22/11/2002