Prédica: Isaías 61.1-3,10-11
Leituras: João 1.6-8,19-28 e I Tessalonicenses 5.16-24
Autor: Claudete Beise Ulrich
Data Litúrgica: 3º Domingo de Advento
Data da Pregação: 15/12/2002
Proclamar Libertação – Volume: XXVIII
Tema: Advento
1. Introduzindo...
O presente texto já foi refletido em dois volumes do Proclamar Libertação (no v. VII, por Hans Trein, e no v. XIII, por Leonídio Gaede). Os dois autores trazem contribuições valiosas sobre o texto, com diferentes enfoques e perspectivas, tendo em vista o 2° domingo após o Natal. Neste ano, no entanto, o texto é indicado é para o 3° domingo de advento. Advento é tempo de preparação, de vigilância; é tempo grávido de esperança. É isto que nos dispomos a fazer, a partir do texto: a proclamar, juntamente com o Trito-Isaías, a chegada de um novo tempo, que se concretiza no natal.
2. Meditando sobre o texto
O Trito-Isaías (cap. 56-66) é o profeta da esperança da reconstrução do país depois que os exilados puderam voltar à própria terra. O autor aponta para a restauração que vai acontecer na pátria e que se abre em direção ao futuro. O texto de Is 61 se apresenta como relato de vocação e missão do Trito-Isaías, sendo uma bela poesia, com muitos paralelismos e contrastes.
A primeira parte do texto Is 61.1-3 é uma auto-apresentação profético-messiânica. A proclamação da libertação realiza-se através da figura messiânica como ação de Deus. O Espírito do Senhor Deus está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para pregar boas-novas… A unção é interpretada como missão: de evangelizar, de mensageiro-profeta, de restauração e de consolo. Esta é a função que o profeta-poeta assume em Israel neste momento decisivo da história de seu povo.
Com a força do Espírito de Deus, ungido/preparado pelo Senhor, o profeta anuncia boas-novas aos pobres, é enviado a curar os quebrantados de coração, a proclamar libertação aos cativos e a por em liberdade os algemados. O profeta é semelhante ao arauto que anuncia o início do ano aceitável, o ano do favor/da graça do Senhor. Segundo Lv 25.10,a cada cinquenta anos celebra-se o ano jubilar. No ano jubilar, proclamava-se a libertação para todos os moradores do país. As pessoas recuperavam a sua propriedade e voltavam para a sua família. Neste texto, no entanto acontece algo novo. O profeta anuncia a chegada de um novo tempo em que as relações humanas serão transformadas radicalmente. O motor dessa transformação é o Espírito de Deus que toma conta do profeta e o leva a anunciar um programa de vida radicalmente novo. Ele mostra quais serão os resultados: boas-novas que se concretizam em liberdade, cura e vida para todas as pessoas, especialmente para os sofredores. De acordo com o Evangelho de Lucas 4.18-19, Jesus fez desse trecho seu programa de atuação, quando iniciou seu ministério público. Além de proclamar o ano aceitável do Senhor, o profeta também anuncia o dia da vingança do nosso Deus. Na citação de Jesus (Lc 4.18-19) não está presente esta parte do versículo. Não está bem claro o significado destas palavras. O dia da vingança do nosso Deus pode significar a vingança contra os opressores de Israel ou a vingança contra os israelitas infiéis. O significado destas palavras quer apontar para a justiça perfeita de Deus e não para a vingança humana. O profeta tem também a missão de confortar/consolar a todos os que choram. Anunciar as boas-novas da libertação implica consolar, apontar novas perspectivas de vida.
Neste sentido, no v. 3 estão presentes vários contrastes que reforçam a proposta profética, mostrando esta mudança na vida concreta: ”e a por sobre os que em Sião estão de luto uma coroa em vez de cinzas.” O profeta aponta para a transformação: uma coroa em vez de cinzas… A coroa aponta para a vitória, alegria, festa. No desespero, na dor e no luto os israelitas cobriam a cabeça de cinzas. A alegria ocupará o lugar do luto.
A passagem óleo de alegria, em vez de pranto continua mostrando o contraste entre a felicidade suprema e a profunda tristeza. O anúncio continua mostrando que o povo vestirá uma nova roupa, “veste de louvor, em vez de espírito angustiado. Os contrastes apontam para a força desta transformação dor/luto em alegria/louvor. Esta mudança radical passa pela totalidade da vida. Ela poderá ser vista tanto no exterior como no interior da vida das pessoas. Para que sejam chamados carvalhos de justiça, plantados pelo Senhor para a sua glória. A árvore/carvalho é usado aqui como símbolo da vida de retidão e justiça. Deus mesmo planta os carvalhos de justiça, para a sua glória.
Os v. 10-11, segunda parte de nosso texto, descrevem o resultado dessa transformação social, através de uma imagem muito bonita, alegre e festiva. O profeta vale-se da imagem da preparação do noivo (adornado de turbante) e da noiva (enfeitada com suas jóias) para a festa do casamento. Deus mesmo veste o povo de modo extraordinário: vestes de salvação e manto de justiça. Ser vestido desta forma é motivo de regozijo, de alegria. O profeta fala aqui, no seu cântico de alegria, sobre a glória de Sião restaurada, louvando a Deus pela grandeza da sua salvação. O adorno do noivo e o enfeite da noiva são símbolos da glória e da alegria do povo redimido por Deus.
O texto também aponta para o autor desta mudança radical na vida do povo. Deus é o autor desta transformação: Como a terra produz os seus renovos, e como o jardim faz brotar o que nele se semeia, assim o Senhor Deus fará brotar a justiça e o louvor perante todas as nações (v. 11). Vemos, neste versículo, um belo paralelismo entre a terra/jardim que faz brotar as plantas e germinar as sementes e Deus que faz germinar a justiça/a glória diante de todas as nações. A justiça e o louvor assim precisam germinar e brotar em nosso cotidiano.
O texto do profeta da reconstrução continua sendo um desafio para nós: sem justiça social, o povo não poderá celebrar a festa de casamento com o Deus da vida. A terra continua permitindo que as sementes germinem e brotem: quando veremos nesta terra germinar e brotar a justiça? Como nós podemos proclamar a liberta(ação), a alegria, a justiça, a salvação em nosso meio?
3. Preparando a pregação
No momento em que medito sobre este texto, celebra-se no Brasil a vitória do futebol. O Brasil é pentacampeão. A euforia e a festa tomou conta das pessoas, das ruas e praças de nosso país. A alegria e a festa foi transmitida pela mídia e pelos meios de comunicação. O gosto pelo futebol faz parte da cultura brasileira. É interessante perceber alguns avanços nos comentários sobre a vitória do Brasil no futebol. Eles apontam para a necessidade de que esta garra, euforia, alegria, amor, engajamento nacional estejam presentes em outras situações, como, por exemplo, no combate à violência, à fome, ao desemprego, à corrupção… Como unir estas questões na vida do povo brasileiro?
A festa, a alegria, a comemoração, a celebração são muito importantes na vida das pessoas. O presente auxílio homilético também visa à preparação para uma festa importante da comunidade cristã. Estamos no 3° domingo de advento, objetivamos preparar-nos com dignidade e alegria para a festa do Natal. A celebração do Advento ajuda-nos a recapitular a promessa do profeta-poeta. Quais são os desafios que o texto de Is 61.1-3,10-11 nos traz para preparar a celebração do Natal? O texto é um convite para a proclamação da libertação, da alegria, da cura, da vida, esperança da realização do ano aceitável do Senhor para todas as pessoas oprimidas, cativas. É um convite para se usar novas roupas, vestes da salvação e manto da justiça, preparando-se para ,a grande festa de casamento com o Deus que quer vida e libertação para o seu povo.
O tempo de Advento é um convite para a reflexão sobre o tempo presente que nós vivemos: violência, fome, corrupção, medo, desemprego são temas que estão na ordem do dia. Como estas realidades são refletidas em nossas comunidades? Quais são as ações (pequenas e grandes) da comunidade para mudar a face dessas situações presentes na vida cotidiana das pessoas? Onde nós percebemos sinais de libertação em nossas reflexões e ações comunitárias?
O texto de João 1.6-8; 19-28, evangelho previsto como leitura, aponta para o testemunho, a coragem, a ação e o exemplo de João Batista. Temos exemplos de Joãos Batistas em nossa comunidade e realidade? A epístola prevista como leitura, l Ts 5.16-24, é um convite para que o ser humano seja conservado íntegro e irrepreensível na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Estamos entre o primeiro advento que já aconteceu, quando Jesus nasceu, e o advento que se realizará plenamente quando Jesus voltar outra vez. O que estamos fazendo neste tempo que Deus nos concede para viver? Proclamar libertação, conforme Is 61.1-3;10-11, é um convite para o anúncio do Deus da justiça, da alegria e da salvação, que se mostra nas ações cotidianas que buscam a libertação, especialmente para os sofridos e cativos de nosso mundo.
Sugiro ler a seguinte poesia, no fim da pregação, convidando toda a comunidade a dar-se as mãos.
Se todas as gentes se dessem as mãos
Pessoalmente, não posso fazer feliz toda a humanidade,
mas, louvado seja Deus,
posso estender a mão ao que está perto de mim
e passar-lhe um pouco de felicidade que me enche o coração.
Bastará que o gesto seja imitado
para que a felicidade passe adiante,
e uma corrente se estabeleça ao redor da terra,
fazendo o fim das guerras,
dos preconceitos de raça,
das divisões em castas, línguas e religiões.
Até seria possível,
quais crianças felizes,
brincar-se de roda em torno do mundo,
se todas as gentes se dessem as mãos.
(Trecho de poesia de Myrtes Mathias)
4. Celebrando
Sugestões de hinos: O Povo Canta n° 190 e 47; Hinos do Povo de Deus l,n°4, 5 e 200.
O grupo de liturgia poderá preparar um grande painel, lembrando motivos para se alegrar e ter esperança, como sinais da presença do Deus da libertação, justiça e vida entre nós. Além de preparar o painel, poderá também distribuir papéis para que as pessoas da comunidade escrevam motivos de alegria e esperança, afixando depois todos estes motivos no painel.
No painel poderá estar escrita a seguinte frase: É advento! Deus vem ao nosso encontro! Veja os sinais de advento presentes em nosso mundo!
Invocação
L: Esperamos aquele que há de vir
C: Chegará sem demora e já não haverá temor entre nós…
L: Esperamos contra todas as evidências…
C: Que a paz, a sabedoria e a força
L: inundem os corações dos filhos e filhas de Deus…
C: Transformando a violência em amor…
L: Esperamos olhar o mundo com os olhos cheios de amor…
Todos/as: Há de vir o Salvador. (Vera Lúcia Chivatal)
L: Glória seja dada ao Deus libertador, a Jesus Cristo o Salvador e ao Espírito Santo santificador. Advento é se preparar para receber visita. Esta espera me deixa ansiosa. Tu já estás vindo, já escuto e vejo os teus SINAIS. Amém.
(Neste momento pedir para as pessoas escreverem as suas alegrias e esperanças para colocarem no painel que está no altar.)
Confissão de pecados Perdoa-nos…
Perdoa-nos quando nos achamos sozinhos, únicos na construção do teu reino. Perdoa-nos e transforma-nos em mulheres e homens fraternos, inquietos por tua justiça e famintos de unidade. Faz-nos apaixonados, sensíveis por teus pobres. Dá-nos a ousadia dos teus profetas, poetas, que indicavam a tua vontade-verdade, mesmo sem entender, pois o que é loucura para os homens é sabedoria de Deus. Amém. (Inês de França Bento & Paulo Roberto Rodrigues)
Coroa de advento
Duas velas da coroa já estão acesas. Acender a 3ª. vela da coroa de advento somente após a leitura do Evangelho (João l.6-8, 19-28). Convidar uma criança para acender esta vela. A criança poderá dizer: A luz da libertação brilhe em nosso meio! Momento de silêncio. Realizar, logo após, a leitura da epístola l Ts 5.16-24.
Bênção com unção (óleo perfumado)
É importante preparar pessoas do grupo de liturgia para transmitir a bênção a cada participante do culto. As pessoas que transmitirão a bênção precisam estar distribuídas em diferentes espaços do templo. Antes de transmitir a bênção, perguntar o nome da pessoa. Fazer com óleo o símbolo da cruz na testa da pessoa. Dizer e transmitir a seguinte bênção ou outra:
Que o Deus da libertação,
abençoe a tua vida neste tempo de advento.
Que o Espírito Santo sopre sobre o teu agir
neste tempo oportuno para a salvação
Que as vestes da salvação e o manto de justiça
cubram a tua vida,
fortalecendo-te para a proclama+ação da vida plena
no cotidiano de teu trabalho e existência. Amém
5. Bibliografia
CRABTREE, A. R., A. B., D. B. A profecia de Isaías. V. II (capítulos 10 66). Rio de Janeiro: Batista, 1967.
CRÜSEMANN, Marlene; CRÜSEMANN, Frank. O ano que agrada a Deus: as tradições do ano da remissão e do ano jubilar na Tora e nos Profetas, Antigo e Novo Testamento. Estudos Bíblicos, Petrópolis: Vozes, São Leopoldo: Sinodal, v. 58, 1998.
LETE, Gregorio del Olmo. La vocación del líder en el Antiguo Israel: morfologia de los relatos bíblicos de vocación. Salamanca: Universidad Pontifícia, 1973.
SCHÖKEL, L. Alonso; DIAZ, J. L. Sicre. Profetas: Isaías – Jeremias.Madrid: Cristiandad, s.d.
Proclamar Libertação 28
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia