|

O jornal A Notícia se aliou, nesta semana, à geração dos octogenários: 80 anos de existência em terras brasileiras. História marcante, bela história, a serviço do movimento da comunicação. A boa comunicação sempre serve à aproximação de pessoas, povos, etnias, culturas. Comunicação de qualidade supera desacertos e afasta desníveis entre gerações e povos que se polarizaram e se contradizem..

A falta dos laços de comunicação lembra a experiência amarga dos construtores da torre de Babel. Babel, na língua hebraica, é expressão para confusão, caos. Pessoas, instituições e impérios, caracterizados pela mentalidade egoísta e sedentos de poder, revelam verdades particulares e conflitivas, se satisfazem com a afirmação do espírito polêmico. As próprias experiências se sobrepõem, então, às necessidades da coletividade.

No cotidiano, nossos lares são banhados pelas ofertas de comunicação interesseira e barata. São formas de comunicação que se indispõem ao fomento da verdade e do amor. É comunicação fútil, superficial, enganosa, deformadora da personalidade, gera descompassos e dasacertos emocionais, sociais, políticos e econômicos. Desestrutura a família sendo símbolo de comunhão fraterna, ninho gerador de calor humano, de equilíbrio, fatores básicos ao processo de amadurecimento da pessoa humana.

A sociedade moderna é conhecedora de muitas palavras veiculadas através de textos e de imagens. Palavras vazias, caminho aberto a heresias e à pseudocultura, vertentes à desorientação e à falta de critérios incapazes de edificar a vida e a sociedade. Comunicação responsável é aquela que se alimenta da palavra colocada a serviço da Verdade e da Justiça, instrumentos de vida plena. A palavra remete ao Evangelho de Jesus Cristo. O conceito de Evangelho traduzido, corresponde à boa notícia. É boa nova onde moram a esperança e a verdade, sinais de cura num contexto social doente e frágil. Na esfera cristã, em particular, a comunicação criteriosa favorece atitudes sinceras que nascem de todas as partes. O Evangelho cria recursos comunicativos entre pessoas humanas. Por isso, o mundo moderno pode encarnar já, aqui e agora, sinais do reino de Deus.

Todo o corpo precisa mais que produtos descartáveis de consumo. A humanidade carece mais que comida e bebida para viver. Precisa daquela palavra que abriga a esperança, que trabalha na perspectiva das portas abertas e da novidade de vida. É palavra boa para ouvir, palavra que é bússola, boa para comer. É como alimento que fortalece a caminhada.

A fé na palavra tem poder para transformar e determinar novos rumos da realidade. Aos meios de comunicação é dada a liberdade de se colocarem a serviço da boa notícia, o Evangelho; sem dúvida, uma expressão sábia da fé e um belo presente que faz muito bem à saúde da humanidade! Esta Palavra está mui perto de ti, na tua boca e no teu coração para a cumprires (Deuteronômio 30,14). Em razão da boa notícia, é possível sonhar com o cultivo de flores nos campos que, em tempos passados, eram lugares de batalha e de desamor.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 28/02/2003