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De Deus depende a minha salvação e a minha fama, Deus é o meu forte rochedo. Povo de Deus, confie Nele em qualquer situação, desafogue o coração na presença Dele, porque Deus é o nosso refúgio.” (Salmo 62.8-9)

O Evangelho de Marcos nos conta que Jesus, antes de iniciar seu ministério público propriamente dito, passou quarenta dias no deserto e aí era tentado por Satanás. O estar no deserto significa privação (de companhia, de alimento, de água, de proteção, de abrigo…), significa estar só com os próprios medos, necessidades e pensamentos; significa estar fragilizado.

No entanto, não é preciso estar longe de tudo e de todos para sentir-se assim. Às vezes, mesmo tendo fartura, saúde e estando rodeado de pessoas, nos sentimos sós, abandonados, carentes de algo que nem sabemos bem o que é. Nesses situações estamos mais suscetíveis às tentações: de largar tudo e ir não sei pra onde; de dizer tudo o que sentimos sem pensar nas reações que isso provocará nas outras pessoas; de atacar quem representa uma ameaça pra nós… Há, ainda, outras circunstâncias em que nos sentimos tentados: diante do medo do futuro, medo da perda de privilégios, diante da possibilidade de mudar rapidamente de condição social… Em situações como essas surge a ansiedade de se livrar da pressão que o momento nos impõe. É preciso, então, tomar uma decisão. Nessa hora a fé, a confiança em Deus, o apoio de pessoas de boa fé são elementos fundamentais para uma superação sadia de um impasse.

Ninguém está livre de sofrer. Nem mesmo Deus! Disso é preciso lembrar sempre, mas especialmente nesta época da Paixão – que, não por acaso, dura quarenta dias! Neste tempo que antecede à Páscoa, Jesus nos convida a acompanhar seus passos e sua caminhada de luta e sofrimento que o levaram à prisão, à tortura e à morte. Embora indesejável, o sofrimento é parte da vida. E sofrer não pode ser encarado como algo somente ruim, pois é ferramenta de amadurecimento e descoberta da nossa própria resistência e força. O sofrimento geralmente nos faz buscar saídas, logo, nos tira da acomodação e nos encoraja a enfrentar os mais diferentes desafios. Só quem já superou sofrimentos sabe que poderá vencê-los outra vez.

As palavras do Salmo 62, acima mencionadas, querem nos estimular a, “em qualquer situação”, depositar a nossa confiança em Deus. Certamente, são palavras que valem especialmente para as horas de medo, incerteza, insegurança, tentação e sofrimento de forma geral. Só sabe consolar bem quem já passou por provações e momentos difíceis, pois sabe se colocar na pele da outra pessoa. É por isso que buscar a Deus – que através de Jesus passou por tentação, viveu perdas, se decepcionou com pessoas, experimentou a traição, o abandono dos amigos, a tortura, a prisão e a morte – especialmente nas horas de aperto, é uma excelente saída.

Reconheçamos que nossa vida não está em nossas mãos, mas nas de Deus, que nos salva, até de nós mesmos, nos conforta e nos alivia dos pesos que estamos sujeitos a carregar.

Pa. Aneli Schwarz