Milhões de brasileiros acompanham com curiosidade os programas do gênero reality show versão brasileira, veiculada como Big Brother Brasil ou Casa dos Artistas..
Muitos brasileiros fizeram da observação da vida, dos diálogos, dos relacionamentos, das emoções, dos desencontros, dos desequilíbrios, da competição, das intrigas e alianças daquele grupo de pessoas das duas casas, do ócio televisivo, um atrativo de grande ibope e de grande faturamento para as emissoras via telefonemas para votação.
O conceituado sociólogo italiano Domenico De Masi apregoa o ócio criativo (que junta trabalho, lazer e estudo) e questiona o ócio inútil (a morte do tempo) exemplificados por programas televisivos como os dois mencionados anteriormente. É interessante a análise crítica de um sociólogo reconhecido internacionalmente (com livro traduzido para o português) a respeito desse tipo de programa de televisão.
Um dos aspectos nocivos que chama a atenção na dinâmica desse tipo de programa é que, além de consumir o tempo precioso de milhões de pessoas com um conteúdo de baixa qualidade, da exaltação de ócio inútil, é a lógica de exclusão como sendo o princípio fundamental e a estratégia predominante.
O ápice do programa está em definir por indicação de uma pessoa, ou do grupo e, por último, por decisão da opinião pública, quem deve ser excluído da casa, e da chance de ganhar uma bolada de dinheiro.
Certamente o argumento de que é apenas um jogo ameniza as consciências na prática da exclusão. Contudo, o processo de aprendizagem de uma pedagogia da exclusão pode legitimar e sedimentar culturalmente outras exclusões humanas no cotidiano das pessoas. Num Brasil com 50 milhões de pessoas vivendo excluídas do direito à cidadania e a uma vida digna, é questionável o aprendizado de novas formas de exclusão, mesmo através de programas de entretenimento.
Há dois mil anos uma pessoa justa foi vítima de diversos processos de exclusão.
O menino Jesus com poucos meses de vida teve de ser levado do convívio com sua parentela e sua cidade, porque um rei chamado Herodes queria matá-lo.
O jovem carpinteiro Jesus de Nazaré foi pouco a pouco sendo rejeitado por sua parentela. Mais adiante o profeta Jesus seria perseguido e rejeitado pelo sistema religioso de sua época. Ou seja, na casa ou companhia de escribas, fariseus e sacerdotes do templo, não havia lugar para Jesus e para sua mensagem libertadora.
Para complicar ainda mais seu relacionamento na casa de Israel, um dos seus próprios discípulos (amigo) chamado Judas o vendeu por 30 moedas de prata. Pensaríamos em categorias modernas televisivas, quem sabe Judas pensou, afinal é apenas um jogo, vou precisar desta grana, se eu não o entregar, um outro vai levar o prêmio.
Votaram para excluí-lo o sistema religioso judeu, o sistema legislativo e judiciário romano, enfim as autoridades e poderes civis, políticos, militares e religiosos de sua época.
Também se estabeleceu um sistema de votação popular em que entre os dois indicados para o paredão – o profeta Jesus e o ladrão Barrabás – as pessoas poderiam manifestar seu voto ou sua voz (grito). Assim o povo decidiu ficar com o corrupto (Barrabás) e mandou o ético para a cruz.
Chefe de governo, Pilatos lavou as mãos e mandou excluir, ou seja, crucificar Jesus. Quando Jesus saiu lá fora, o que o aguardava não eram abraços e torcida organizada, não era um bom prêmio de consolação, mas a cruz, a morte.
E lá estava Jesus excluído por todos os homens, mas decidido a cumprir sua missão de amor a humanidade e fidelidade a Deus, o Pai.
Lá estava nosso grande irmão, nosso big brother Jesus morrendo na cruz, para perdoar todos os nossos pecados, traições e jogos de interesse egoísta. Lá estava exposto na cruz em forma humana, em carne e sangue, de braços abertos e coração ferido, o amor de Deus, o Filho de Deus.
Ele Jesus aceitou todas as formas de exclusão, para que a humanidade, você e eu fôssemos integrados e incluídos, num relacionamento de filhos e filhas de Deus, o Pai.
Aprendemos que de fato é na presença do Cristo crucificado e através Dele que somos restaurados em nossa verdadeira dignidade humana e adotados na família de Deus (na casa de Deus).
No Evangelho de João é dito: Ele veio para o que era seu, e os seus não o receberam… mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome (João 1: 10-11).
Verdadeiro amor é testemunhado por aquele que doa sua vida por amor aos outros. Verdadeiro egoísmo é demonstrado por aqueles líderes mundiais que mandam para a morte milhares de pessoas para defender interesses econômicos do país mais rico do mundo, ou interesses de poder de um dos maiores ditadores de nosso tempo.
Jairo Lindolfo Menezes dos Santos
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
na Paróquia Unida em Cristo
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 28/03/2003