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Prédica: 2 Coríntios 5.(14b-18) 19-21
Leituras: Salmo 31.1-5, 0-16 e Mateus 27.33-54
Autor: Werner Brunken
Data Litúrgica: Sexta-feira da Paixão
Data da Pregação: 18/04/2003
Proclamar Libertação – Volume: XXVIII
 

1. Considerações gerais

O texto de 2 Coríntios 5.(14b-18)19-21 é comentado nos volumes I, XVI e XIX de Proclamar Libertação. No volume I, há uma explicação do texto versículo por versículo. No volume XVI, o tema reconciliação é refletido com mais profundidade. E no volume XIX, o texto é refletido em função do batismo, que representa o morrer da velha criatura e o ressurgir da nova. É expressão da reconciliação com Deus.

2. O texto da pregação em relação aos textos de leitura

Em nenhum dos volumes citados acima, aparece a atual composição de textos. Na segunda parte do Salmo 31 é expresso o grito por socorro e misericórdia. A primeira parte é um pedido por refúgio e fortaleza. Em Mateus 27, presenciamos o desprezo de todos para com Jesus. Eles não compreenderam que ali estava aquele que morreria pelos pecados da humanidade. E no texto de 2 Coríntios, consta que tudo vem de Deus. Ele é o fundamento da reconciliação. É nele que as pessoais vão encontrar um novo sentido para a vida.

3. A Segunda Carta de Paulo aos Coríntios

Nesta carta, Paulo descreve a autojustificação do seu apostolado. Ao mesmo tempo, fundamenta seu apostolado em Cristo. Ele se vê como o apóstolo chamado por Cristo e por ele enviado. Acima de tudo e de todos, Paulo coloca a mensagem de Cristo.

4. Contexto

No capítulo 5, Paulo descreve que o corpo terreno se desfaz, m;is em Cristo há uma nova habitação (5.1-10). A seguir Paulo espera que os coríntios reconheçam nele o apóstolo chamado e enviado e passa a falar do amor de Cristo, de sua morte e ressurreição. Tudo culmina no texto da presente perícope, a saber, que tudo provém de Deus, que em Cristo reconciliou o mundo consigo. Na sequência, no capítulo 6, ele apresenta-se como cooperador de Cristo, como ministro de Deus nas diferentes situações da vida (5-10).

5. Reflexão sobre o texto

Não tomarei como texto os versículos 14b-17. Incluirei o v. 18 na reflexão, pois o seu conteúdo pertence aos versículos 19-21.

O que é descrito nos versículos 18-21 refere-se à ação de Deus por meio de Jesus Cristo. Deus cria uma nova vida a partir da reconciliação, pois ele mesmo age como reconciliador. Só com o afastamento do pecado pode surgir uma nova criação. A reconciliação é obra exclusiva de Deus. Deus não pode ser reconciliado por pessoas. O mundo é reconciliado pela vontade e pelo agir de Deus (Romanos 5.1,10).

A reconciliação não é um acerto de contas entre as pessoas e Deus. Paulo não compartilha o pensamento que Cristo, por meio de seu sofrimento e morte, tenha realizado um grande feito que Deus seria obrigado a reconhecer para reconciliar-se com o mundo. Pelo contrário, Deus mesmo, ao entregar seu filho à cruz, consumou o sacrifício da reconciliação. Assim reconciliação e perdão dos pecados são identificados com justificação do pecador. Pela reconciliação acontece a paz e surge uma nova comunhão na vida das pessoas. A nova criação é, portanto, a consequência da reconciliação e do perdão dos pecados.

Deus, o reconciliador, agiu na morte e ressurreição de Cristo. Sem Cristo não existe reconciliação entre Deus e as pessoas. Deus estava em Cristo expressa sua ação no Deus-pessoa. Jesus é o que Deus é por meio dele.

Mas Deus não só efetuou a reconciliação. Ele também instituiu o ministério da reconciliação, a fim de proclamá-la ao mundo. Este embaixador em nome de Cristo é o apóstolo Paulo. Por intermédio de Paulo acontece o ato histórico, que faz com que as pessoas sejam atingidas. O apostolado faz parte do caminho salvífico. O serviço da nova aliança tem sua origem na morte de Cristo pela humanidade (v. 14-15), na obra da reconciliação de Deus na cruz de Cristo (v. 18-19). Paulo age como enviado de Cristo. Ele pede pela causa de Cristo, ou, no lugar de Cristo. Assim Deus e Cristo estão na retaguarda do ensinamento de Paulo e falam através dele. Sua palavra é palavra de Diais. Paulo desafia as pessoas: Aceitem a reconciliação! Não se oponham ao agir de Deus!. O chamado de Paulo tem como ato consumado u reconciliação com Deus. Por conseguinte, as pessoas só podem deixar-se reconciliar por Deus sem dar nada em troca.

Levar a mensagem da reconciliação ao mundo é a grande missão do ministério apostólico. O chamado à reconciliação é fundamentado no final do texto, olhando para o que Deus em Cristo fez e o que isto significa para nós: nele somos feitos justiça de Deus. A justiça de Deus alcança seu objetivo quando as pessoas estão diante dele como justificadas. Sabendo que a ação de Deus vem a nós pela vontade e ação de Cristo, Paulo pode falar do ser de Cristo, por meio do qual al-cançamos nova vida (v. 14-15).

Acontece uma troca entre Cristo e as pessoas: Cristo é feito pecado por Deus, mesmo não tendo pecado (Hebreus 4.15). As pessoas são tornadas justas. As pessoas que recebem a benevolência de Deus poderão subsistir diante do seu juízo, mesmo sendo pecadoras.

Pela morte, Jesus tomou sobre si os pecados da humanidade, sendo castigado por causa deles. Só porque Cristo tornou-se o carregador dos pecados, as pessoas recebem nova vida. Pois tornar-se justiça de Deus é ser uma nova criatura. Através da reconciliação, alcança-se o ser nova criatura.

6. Meditação

Sexta-feira santa. Dia para parar com as atividades diárias. Dia para refletir diante de Deus sobre o sentido da vida. Quem sabe hoje as pessoas façam a si mesmas as seguintes perguntas: O que tenho feito serviu para aproximar mais as pessoas entre si?, O que tenho feito tornou as pessoas mais felizes, mais realizadas? ou: Sinto hoje a frus¬tração de que tudo que fiz não trouxe sentido para a minha vida?

No texto acima, o salmista pede que Deus tenha misericórdia dele, pois sente-se triste, atribulado, pecador. O próprio Jesus, ao ser crucificado, bradou: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Tanto as palavras do salmista como as de Jesus nos ensinam a que ponto o ser humano pode chegar: ao abandono total, em que nada mais tem sentido.
Hoje é o momento para colocar a nossa vida na presença de Deus Pai, e dizer para ele o que estamos sentindo. Não vamos esconder nada. Vamos exteriorizar nossas fraquezas, nossos gemidos, nossas dores, nossas decepções com a vida, com as pessoas e com as coisas deste mundo.

E daí? De que adianta fazer essas confissões? O que isso irá mu dar na minha vida? Tudo pode mudar quando se olha para Deus em sua palavra. Neste ponto, o texto sobre o qual estamos refletindo neste auxílio pode ajudar-nos. O apóstolo Paulo afirma que tudo provém de Deus.Ó que vem de Deus? A reconciliação com ele por intermédio de Jesus Cristo. Sim! Deus reconciliou o mundo e todos consigo. Espere aí! Não estou entendendo! O que tem isto a ver com a minha vida? Tem muito a ver. Vejamos! Paulo afirma que Deus reconciliou o mundo consigo sem imputar às pessoas as suas transgressões, ou seja, em Deus as pessoas são libertadas, aliviadas das suas dores e tristezas. O próprio Jesus convida, em Mateus 11.28: Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Também o salmista encontrou em Deus o seu refúgio, a sua rocha, o seu castelo forte, a sua fortaleza, a sua salvação. E, lembrando a sexta-feira santa, Jesus entregou sua vida ao Pai no meio de sofrimento profundo.

O apóstolo Paulo enfatiza muito a reconciliação de Deus, pois ela representa para cada pessoa ou grupo nova vida. Assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.

Mas, no dia-a-dia, estou acostumado a ouvir que a pessoa precisa se esforçar para conseguir alguma coisa. Na verdade, não gostamos de receber alguma ajuda sem retribuir. Da parte de Deus é diferente. Ele afirma, por meio de Paulo, que reconciliou o mundo consigo através de Jesus. Ninguém precisa pagar por esta reconciliação. É um ato consumado por Deus. Assim, podemos participar da celebração da santa ceia, na qual a reconciliação de Deus conosco é renovada.

E renovados podemos partir deste culto para os desafios da vida. Podemos reconciliar-nos com as pessoas, pois já fomos reconciliados por Deus. E sentir-se reconciliado é o começo de uma vida melhor no dia-a-dia. É o início da vitória sobre solidão, decepção, tristeza, angústia, estresse e a própria morte. Pois estar reconciliado por Deus é viver a justiça de Deus, isto é, viver como agraciados pela reconciliação obtida por meio de Jesus Cristo.

7. Celebração

Intróito (instrumentos, coral)

Damos as boas vindas ao culto nesta sexta-feira santa. É uma oportunidade para dizer a Deus o que nos decepciona na vida. Assim, estamos reunidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.

Convido para cantar: Ó Jesus, teu sofrimento (Hinos do Povo de Deus, 17).

Ao meditar na morte de Cristo na cruz, ouçamos suas palavras, pronunciadas na cruz: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?

Podemos sentir o profundo sofrimento de Jesus, assumido em nosso lugar. Reconheçamos que ele tudo fez por ti e por mim. Também nós sentimos neste momento nossa fraqueza, tristeza, decepção, o estresse que nos envolve na vida. Clamamos por tua misericórdia através de Jesus. Humildemente suplicamos: tem, Senhor, piedade! (3x)

Oração
Eterno Deus! Estamos na tua presença como teus filhos e tuas filhas. Nós agradecemos a ti por poder colocar diante de ti a nossa vida para que, por tua palavra e pela participação na santa ceia, tu possas renovar-nos para que saiamos daqui com a certeza de que, em Jesus Cristo, tu és o nosso refúgio, a nossa fortaleza, o nosso Deus reconciliador. Amém.

Leituras da palavra

Ouçamos as palavras da Sagrada Escritura, conforme registradas no Salmo 31.1-5,9-16 (um grupo lê 1-5 e outro 9-16). Após a leitura, convidar a comunidade para cantar as estrofes l e 2 do hino Se sofrimento te causei, Senhor (Hinos do Povo de Deus, 150).

Ouçamos a leitura do evangelho segundo Mateus 27.33-54. Após a leitura cantar as estrofes 3 e 4 do hino iniciado.

Leitura de 2 Coríntios 5.18-21. Segue a mensagem baseada na meditação acima. Em seguida, a comunidade canta o hino Leva um cordeiro a transgressão (Hinos do Povo de Deus, 43,1-3).

Confissão de fé

Convidar a comunidade para confessar a fé cristã com as palavras do Credo Apostólico.

Coleta

Como sinal de gratidão pela renovação de nossa vida acontecida na reconciliação de Deus conosco, vamos recolher as ofertas deste culto, que hoje destinamos para… Durante a coleta cantar o hino Ó, bem cego eu andei (Hinos do Povo de Deus, 198). Receber as ofertas diante do altar, agradecer pelas mesmas e interceder pela entidade à qual foram destinadas.

(Celebração da santa ceia
Preparar para a celebração da santa ceia. Cada oficiante seguirá o procedimento habitual na sua comunidade. Durante a distribuição, cantar de Hinos do Povo de Deus: 50, 141, 144, 146.

Oração de pós-comunhão

Obrigado, Pai celeste, pela reconciliação proporcionada a nós. Que ela fortaleça as nossas mãos para podermos estendê-las uns aos outros e assim viver na paz que tu tens sido para nós por meio de Jesus Cristo. Amém.

Avisos comunitários e boas-vindas aos visitantes. A comunidade canta Todos nós contigo unidos vamos nossas mãos unir (Hinos do Povo de Deus, 52).

Bênção

Que Deus esteja em nossa mente e em nossos pensamentos. Que Deus esteja em nossos olhos e em nosso olhar. Que Deus esteja em nossos sentimentos. Que Deus esteja em nosso fim e em nosso partir. Vamos em paz e no amor de Deus. Amém.

Bibliografia

QUESNEL, Michel. As Epístolas aos Coríntios. São Paulo: Paulinas, 1983.
WENDLAND, Heinz-Dietrich. Die Briefe an die Korinther. Göttingen: Vandenhoeck & Ruprecht, 1954. (Das Neue Testament Deutsch, 7)

Proclamar Libertação 28
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia