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Atoleiros são ameaçadores e perigosos. Traiçoeiros, eles representam perigo para pessoas, carros, animais e produtos. Atoleiros não só atrasam viagens e caminhadas como também sinalizam a realidade da desgraça, do sofrimento e carregam em si o cheiro da morte. As melodias que ressoam dos atoleiros são tristonhas e angustiantes..

Vivemos sob o signo da Páscoa, o maior memorial de vida e de esperança. Uma nova melodia se faz ouvir neste mundo em fragmentos, mundo esse que continua sendo propriedade de Deus. São novos sons. Eles lembram a vitória da vida. Deus vive uma história fantástica, repleta de surpresas e novidades.

A paisagem da morte sempre foi objeto de descrição; é realidade visível e audível. Nessas últimas semanas, esse tipo de realidade se fez presente nas telas, em nossos lares e em locais públicos, como se a guerra fosse um show pirotécnico e a destruição, um brinquedo trágico.

O Novo Testamento anuncia que a fé vem pelo ouvir da pregação da palavra de Deus. A Bíblia, palavra de Deus, silencia diante do jeito, do como aconteceu a Páscoa, a ressurreição de Jesus Cristo. A mensagem do Evangelho se fundamenta no testemunho da ressurreição. Como se estivessem embriagadas, as pessoas na sociedade moderna andam desesperadas e perdidas diante da plasticidade dos quadros da morte. A ressurreição é indescritível. Ela impede todo o tipo de representação em quadros e desenhos.

Contra todas as evidências, provocação da violência, da tristeza e da morte, Deus toca desde a Páscoa uma nova melodia. É melodia que deixa ecoar novos sons para dentro da realidade do mundo. Melodia que reflete vida, é inspiração para um novo jeito de construir vida. Um novo ritmo acalenta nossos passos; é como o novo dia que amanhece. O tempo da Páscoa anuncia que a realidade de mundo nunca mais será a mesma. A orquestra de Deus toca sons diferentes nas cordas estendidas sobre nossa vida, música a serviço da esperança e da reconciliação.

Quando tudo se torna novo, renasce a esperança e recupera-se o sentido da vida. A vida humana em sua qualidade de imagem de Deus é resgatada, porque Jesus Cristo vive!

Participar dessa novidade de vida, ser um integrante ativo nessa nova orquestra – uma grata oportunidade e um enorme privilégio – desde quando? Desde o batismo, ordenado pelo Cristo da Páscoa. Foi colocado um sinal especial na estrada da vida. Deus mesmo ergueu esse memorial para proclamar: Eu vivo, e vocês viverão comigo. Sacramento do batismo: memorial humano e divino ao mesmo tempo. Quem é lavado na água que jorra junto desse memorial, passa da morte para a novidade de vida. O presente do batismo não se confunde com aquele jogo das pétalas da flor que vão caindo no chão à medida que o jogador diz: bem-me-quer, mal-me-quer. A mensagem proclamada junto do memorial de Deus é certa e direta: Deus nos ama, por isso nada nos pode separar do amor de Deus. A nova experiência de Cristo, através da Páscoa, revela que não dá para produzir amor nem vida nova a partir da realidade que determina nosso coração e nossa razão. É oferta unilateral de Deus! A iniciativa para declarar seu amor partiu de Deus tão-somente. É impossível negociar o amor de Deus.

Por isso, também não existe poder capaz de resistir à bondade de Deus. E não há coração de pedra que não possa ser transformado, pelo amor de Jesus Cristo, em coração de carne.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 25/04/2003