Há poucos dias celebramos a ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Só não sei se todos sentiram esse milagre acontecer em suas vidas. Sinto que muitos continuam diante do Jesus crucificado. Pois, apesar da mensagem da ressurreição, muitos continuam, por causa dos mais diversos problemas e dificuldades, sem razão para viver. As tensões, as angústias, as depressões, a violência, a doença, as mudanças e tantas outras dores e contratempos transformam a vida de muitos numa eterna crucificação! Num eterno muro de lamentações! Por outro lado, me pergunto se é possível apagar completamente o sofrimento de nossas vidas.
Creio que não. Porém, creio que é possível transformar o sofrimento em uma vida plena de sentido. Cheia de realizações. Afinal, até as rosas têm espinhos que fazem doer. E para que a beleza de uma rosa seja apreciada, é preciso ter cuidado com os seus espinhos. Desviar dos espinhos é algo diferente do que retirá-los. Se para admirar uma rosa, alguém tiver que retirar seus espinhos, não verá mais a rosa como ela é. Esta é a diferença em administrar sofrimentos no interior do psiquismo ou acreditar que basta fechar os olhos e o mundo muda. O bebê acredita que o mundo gira em torno dele. E é preciso que seja assim. Só que a vida faz com que ele tenha que construir dentro dele caminhos para concretizar mudanças. Desvios para lidar com os espinhos e sofrimentos da vida.
A logoterapeuta Elisabeth S. Lucas traz um exemplo muito ilustrativo de como o sofrimento se transforma em uma vida plena de sentido: “Um corpo estranho penetra na concha, ferindo-a. A areia áspera machuca sua carne. A concha sofre. A concha tenta expelir o intruso e fracassa. O grão de areia fixou-se. A dor não pode ser eliminada. Então o animal, a partir do âmago da sua natureza, busca a força para transformar o sofrimento em triunfo. Do sofrimento e da aflição, da seiva de suas lágrimas, surge, em longos processos de crescimento interior, a pérola.”
A pergunta que nos cabe fazer é: como transformar o sofrimento em uma pérola? De onde podemos tirar a força para transformar sofrimento em triunfo, como no caso da concha? Existe dentro de nós um âmago chamado Deus. Um sopro do Espírito de Deus. Um Deus que se revelou em Cristo Jesus. Um Deus que venceu a morte e fez ressurgir a vida. E é esse Deus que nos dá a força para transformar o sofrimento em uma vida plena de sentido. Jó é o exemplo mais impressionante disso, mas também o salmista nos dá seu testemunho quando diz: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo: a tua vara e o teu cajado me consolam” (Salmo 23.4). “O Senhor é a minha luz e a minha salvação; de quem terei medo? O Senhor é a fortaleza da minha vida; a quem temerei?” (Salmo27.1).
Transformar o sofrimento em triunfo significa mudar. O que movimenta o mundo é o amor que Deus derramou sobre a humanidade em Cristo Jesus. Por isso, entendo que amar consiste em amar o todo, respeitando as diferenças. Amar significa respeitar e tolerar sentimentos ambivalentes, frustrações. Se por um lado, é a perda de um amor que produz sofrimento, por outro lado, é o amor que cicatriza as feridas de alguém deprimido e frustrado. Alguém poderia dizer que, porque não foi amado, está destinado a não saber amar a vida, sofrendo com isso, portanto. Porém, a letra de uma música composta por Herbert Vianna nos ensina: “saber amar é saber deixar alguém te amar”. Saber transformar o sofrimento em uma vida plena de sentido significa deixar alguém te amar, deixar alguém te cuidar, deixar alguém te proteger. Deus veio ao mundo em Cristo Jesus e o fez ressurgir da morte para a vida justamente para isso: para amar, cuidar e proteger você! Para fazer ressurgir o belo, bonito e maravilhoso que existe dentro de você! Por intermédio de Jesus Cristo Deus nos diz: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” Transformar o sofrimento em triunfo é saber-se em primeiro lugar amado por Deus. E quem se sente amado por Deus encontra em seu âmago a força para transformar sofrimento em pérola. Para transformar sofrimento em uma vida plena de sentido. Como diz um hino de nossa Igreja: “Se as águas do mar da vida quiserem te afogar, segura na mão de Deus e vai… pois ela, ela, ela te sustentará”.
Há um provérbio que diz: “Não podemos evitar que os pássaros da preocupação e da aflição sobrevoem nossas cabeças, porém podemos impedir que façam ninhos em nossos corações”.
Portanto, não fique estagnado na sexta-feira da paixão, mas lembre-se: Cristo vive para que você viva. Deixe a mensagem da ressurreição, o amor ilimitado de Deus revelado em Cristo Jesus, transformar o seu sofrimento em alegria e esperança de vida. Quando o amor de Deus habita nossas mentes e corações, sempre ressurge a vida plena e abundante.
Pastor Ernani Röpke