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A sociedade humana relembra nesses dias de setembro a ação do terrorismo mundial, tão audaciosa e ao mesmo tempo trágica. Há dois anos foi mostrado exaustivamente, ao vivo e em cores, o cenário da destruição e da morte experimentadas quando do ataque sofrido pelo conjunto de prédios conhecido como centro nevrálgico dos negócios internacionais em Nova York. O ato em si vai se diluindo aos poucos, em meio a tantos eventos da história, dos quais se busca distância. O que permanece são as fotografias de tamanha atrocidade e a extensão da perversidade da mente humana. Ficam estampadas as imagens da dor sofrida pelas vítimas. Permanecem os questionamentos e as críticas em relação às medidas tomadas contra a violência sofrida e contra aqueles que supostamente desenvolveram o berço ideológico a gerar tanto ódio e tamanha perversidade. São muitas as áreas espalhadas pelo mundo que estão fora de controle. Não foram calculados, com a devida responsabilidade, os efeitos colaterais e as conseqüências posteriores em relação às chamadas guerras cirúrgicas a serviço da extração dos tumores malignos..

A neurose do medo segue rondando a vida das pessoas – ela está presente nas cidades, nos aviões, em nações inteiras. Outras ações semelhantes a de 11 de setembro de 2001 poderão ocorrer. Continua o escalada da violência em âmbito mundial. Assegura-se uma paz aparente, mediante o medo da retaliação que leva invariavelmente à corrida armamentista, de futuro imprevisível. A preferência é pela escolha dos atalhos da destruição e da morte do inimigo. Uma atitude preferencial e notória que se integra ao jeito de pensar de pessoas, indivíduos e dos que são conhecidos como os senhores do mundo, os responsáveis pelos negócios que levam à prosperidade, senhores também das armas, guerras e da política de segurança. Quem está no centro do poder e se beneficia de seus privilégios, enxerga a guerra nos campos de batalha, na periferia, somente através do telejornal!

É muito estranho como o mundo deseja construir a paz. Saltam aos olhos muitas divergências e contradições. São atalhos inseguros no lugar do caminho do diálogo e da sabedoria por causa da preciosidade das criaturas e da criação. A história universal revelou que os senhores do poder procuraram a valorização da paz de seu jeito. No tempo de Jesus Cristo, dois mil anos passados, reinava a pax romana. Para garantir a paz, os romanos dominavam o território alheio – a ordem era eliminar o inimigo, o delinqüente, o subversivo. Para os romanos, detentores do poder e das armas, era paz de vitória; para os vencidos, paz de submissão. A história se repete.

A fé cristã e a teologia promovida pela fé anunciam que o Filho de Deus, vítima da violência exercida, em nome da aparente paz romana, fundamenta reconciliação e verdadeira paz. Na cruz de Jesus, Deus reage à violência humana não com nova contraviolência, mas com perdão e reconciliação e naquilo que, à primeira vista, se apresenta como falência de seu Filho, põe, ao mesmo tempo, novo início, não só para ele, mas para toda a humanidade (Peter Trummer, em Pensamentos sobre a Paz). Cooperar na interrupção da violência é mandato do Evangelho, tarefa da Igreja cristã e também daquelas pessoas que dela não fazem parte.

Em obediência ao Senhor da paz, é preciso dar espaço a esperanças reprimidas!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 12/09/2003