Toda a pessoa, ao despertar para um novo dia, faz sua caminhada para frente do espelho. Depois de uma noite de sono reparador, é preciso ajeitar o cabelo, lavar o rosto, disfarçar alguma pinta do rosto, maquiar os lábios, passar um creme, dar novo retoque, massagear a pele, fazer a barba. O espelho, sem dúvida, é um instrumento importante e necessário para acertar detalhes, arrumar, corrigir, embelezar e complementar. É o espelho que revela a história da vida humana, suas aparências, sua transitoriedade. Marcas da vida pessoal são espelhadas e nos fazem sentir as diferenças físicas entre o passado e o presente..
Quanta alegria e quanta frustração se evidenciam nos olhares direcionados ao espelho. Ele revela que a eterna juventude, sobretudo a física, não é eterna. O quadro comparativo entre as imagens do passado e a realidade presente pode desencadear resignação e tristeza, levando ao desprazer da vida.
As águas do rio da vida vão seguindo sem parar e apontam a vaidade da existência humana. A juventude e a primavera da vida são vaidade, diz uma citação da literatura da sabedoria, o Livro do Eclesiastes 11.10.
Espelho meu…espelho meu…
Celebramos neste 27 de setembro o Dia do Idoso ou o Dia da Terceira Idade. O abraço fraterno e cordial servem de comunicação nossa para todas as pessoas que vivem a velhice, a terceira idade. A sociedade humana moderna e mercantilizada desenvolveu mecanismos e criou leis que levam à exclusão de quem não produz mais ou de quem é inapto à concorrência no mercado do trabalho. A agilidade para o trabalho produtivo, a potencialidade do ser útil e o dinamismo para o desempenho de serviços, quando se alcança determinada idade, estão defasados. As conseqüências produzidas por esse tipo de discriminação refletem a perda do sentido da vida; instala-se um enorme vazio; a auto-estima despenca; apresenta-se a ausência de perspectivas que permitem desenvolver algo novo no horizonte futuro da vida.
À sociedade é dada a atribuição de revelar as potencialidades que se encontram na vida da pessoa idosa. O dia especialmente dedicado ao idoso poderia ser um meio de atrair atenção para essa potencialidade. Antes de exercitar suas capacidades, a pessoa idosa deverá refletir sensibilidade e clareza quanto às possibilidades de continuar agindo e prestando serviços. O que é adequado que ele realize? Apesar da velhice, desenvolver o novo é possível? As iniciativas tomadas pela pessoa idosa se diferenciam. Pessoas idosas diferentes, com habilidades variadas, realizam serviços diferentes entre si.
Uma sociedade democrática e humana é a que sabe desafiar não só seus jovens para praticarem seus dons e repartirem suas capacidades. A qualidade de uma sociedade democrática será medida em função da valorização da vida de todas as pessoas. A compreensão de vida e as experiências colhidas na escola do saber, o apoio e o reconhecimento das aptidões independentes da idade são elementos fundamentais para a construção do mosaico social humano.
Toda a pessoa idosa tem direito ao descanso, à medida que a vida lhe mostrou dureza e colocou cargas pesadas. Assiste-lhe o direito de ser um mero observador, enquanto aguarda o amanhecer do novo dia. Nenhuma pessoa idosa haverá de terminar sua história de vida cantando a melodia de uma nota só, a melodia melancólica de lamúrias e queixas, quando na velhice afirma: Para nada mais sirvo, nada mais posso realizar, o que me resta é esperar o fim da minha vida.
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal ANotícia – 26/09/2003