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O que se passa em nossas mentes e corações ao falarmos em Igreja? Quando pensamos em participar da missa ou do culto, associamos imagens de que igreja pode ser um lugar, às vezes, chato, lugar não muito prazeroso e interessante, pelo menos, um lugar estranho.

No cotidiano, nos deparamos com várias maneiras de interpretar e descrever igreja. Associa-se igreja aos ministros que atuam nesta Instituição. Outros ainda, relacionam igreja às várias denominações religiosas. Há quem identifique o ser igreja ao templo, o lugar onde a comunidade se reúne. De acordo com os fundamentos da fé, as Escrituras Sagradas, o Antigo e Novo Testamentos, é possível descobrir definições que permitem uma compreensão profunda do ser igreja. O conceito igreja sempre nos remete a uma comunidade de pessoas. No grego, ekklesia = igreja tem o significado de assembléia, uma reunião de pessoas com fé. Elas se alimentam da Palavra, da oração, se fortalecem mediante a Ceia do Senhor. Através do batismo, pessoas eram e são integradas na vida de comunhão como irmãos e irmãs. Desde os primórdios da história da Igreja, os cristãos se reuniam em pequenas células para orar, repartir o pão, estudar a Bíblia. Nesta comunhão criavam-se novas amizades e se tinha tempo para ouvir e aprender uns com os outros.

Num primeiro momento, quero destacar que Igreja é a Família de Deus. Quem nos qualifica assim é o próprio Senhor da Igreja, Jesus Cristo. Lemos no Evangelho de João 1.12: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem filhos de Deus, a saber, os que crêem no seu nome. Ao mesmo tempo em que Jesus nos transforma, pela fé, em filhos e filhas de Deus, ele funda a unidade da Igreja. A unidade é mandato do próprio Senhor da Igreja, é iniciativa de Jesus. É fundamento que nos liberta a confessar que pertencermos a uma única família, a família universal de pessoas cristãs. Embora haja diferenças na vivência e na prática da piedade desta família, essas diferenças não podem quebrar a sua unidade. Jesus, no seu empenho por relacionamentos fraternos, orou ao Pai para que todos fossem um, assim como nós somos um. O apóstolo Paulo exorta a comunidade em Éfeso e lembra que há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação. Rupertus Maldenius, na Idade Média, apontou à importância da unidade da família de Deus dizendo assim: nas questões essenciais, unidade; nas questões de dúvida, liberdade; e em tudo, amor. A unidade acontece na medida em que cooperamos mutuamente e enquanto trabalharmos mediante diálogo, no respeito mútuo, as nossas diferenças. Há poucos dias, eu li uma analogia figurativa que descrevia o seguinte: quando o avião levanta vôo, vai subindo e se afasta do solo. Os muros, os valos, as cercas que lá em baixo parecem tão altos e intransponíveis perdem o seu significado e o seu poder de ameaça. Tornam-se obstáculos secundários. Assim é com as pessoas que tem como fonte inspiradora a presença de Jesus Cristo, do seu Espírito Santo em seu meio. As diferenças perdem o seu poder, a sua força. Os membros da família de Jesus Cristo, as pessoas da Igreja, convivem a partir dos laços de amor. Ora, temos da parte de Deus este mandamento: aquele que ama a Deus ame também a seu irmão (1 João 4.21).

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Diocese Informa – 10/2003