|

Finalmente, a estrebaria ficou novamente em silêncio. Cessou a cantoria dos anjos, o entra e sai dos pastores e a visita dos magos. Depois de todo esse rebuliço, a velha vaquinha, a jovem ovelhinha e o cansado burrinho acalmaram-se também. Quem, naquela hora bendita, tivesse ouvidos para as coisas simples e belas, ouviria o diálogo dos animais.

– Ufa! Finalmente o sossego voltou, disse a vaquinha. Que cantoria, que zum-zum-zum, gente! Sem silêncio a pobre criança não pode descansar. Também, vê lá se isso é momento de sair por aí com uma criança recém-nascida.

– Felizmente, amiga vaca, ela parece ser tranqüila como você, disse o burrinho.

– É verdade, amigo burro, é uma criança bem tranqüila e paciente. Bom, mas se tudo isso que falaram hoje dessa criança for verdade, além de calma, ela vai precisar muito é da sua persistência. Eu fico admirado, pois todos o xingam, o maltratam com chicotes e cargas pesadas, mas você, serenamente, suporta tudo e cumpre a sua tarefa, observou a vaquinha.

– É, eu não acho justo o que fazem com você, amigo burro, disse a ovelhinha. Burro não é burro não. Você tem qualidades: transporta gente, puxa carroça, carrega coisas. Poxa, você é um símbolo de serviço aos outros.

– É, pequena ovelha, mas às vezes eu também empaco, sabe. Eu posso ser bem teimoso. Essa criança vai precisar mesmo é ser um pouco parecida com você, ovelhinha.

– Como assim? Eu sou muito fraca e pequena, afirmou a ovelhinha.

– Ora, você é sempre carinhosa, delicada e não faz barulho demais. Você segue sempre o seu ritmo e ainda cede a sua lã para aquecer as pessoas nos momentos de frio e solidão. Sabe, você as protege nas intempéries. Sem a sua lã, as pessoas poderiam até morrer.

A ovelhinha ponderou:

– Para que essa criança cumpra a sua missão, acho que, além de tranqüila como a dona vaca, ela precisará alimentar as pessoas com um alimento consistente e nutritivo como o leite.

De repente, a velha vaquinha murmurou com tristeza:

– Ora que bobagem, amigos. Somos mesmo bem idiotas. Vocês acham mesmo que alguém importante como essa criança terá essas qualidades bobas que nós, animais, temos? Ela terá as qualidades de um grande líder: será poderoso ao invés de fraco, mandará ao invés de pedir, exigirá ao invés de se humilhar, imporá ao invés de propor, amedrontará ao invés de amar.

Maria conhecia a linguagem das coisas belas, tudo ouvia e disse:

– Olhem queridos, Deus escolheu a mim, uma simples moça do povoado, para trazer à luz essa criança. Deus olhou para mim, pois Ele tem olhos para as coisas pequenas e simples. Certamente, o meu filho terá todas essas lindas e importantes qualidades que vocês simbolizam tão bem. Eu acho que Deus escolheu aquilo que o mundo despreza, acha simples e sem importância, justamente para destruir aquilo que o mundo pensa que é importante.

Então, fez-se um silêncio de paz ao redor, e um sono bom embalou a todos!

P. Dr. Valério Guilherme Schaper