|

O Reformador da Igreja cristã, Martim Lutero, no século 16, ao definir o ser igreja, afirmou que toda criança com sete anos de idade já sabia o que é Igreja. Se repetirmos, hoje, a mesma pergunta, veremos que não será toda criança com os seus sete anos de vida que saberá desenhar a identidade do ser igreja. A busca da definição do que vem a ser igreja é algo complexo, exige fôlego e uma reflexão profunda.

Faço, nesta edição, a terceira e última abordagem do assunto. Igreja, o termo vem do grego ekklesia; trata-se de um termo proveniente do mundo político e lembra da assembléia do povo. Em sua origem o termo ekklesia vindo do mundo secular não se aplicava, ainda, à Instituição organizada a serviço da soberania de Deus no mundo.

No Novo Testamento, não encontramos uma doutrina uniforme, algo semelhante a um tratado doutrinário-dogmático acerca desta Instituição universal que caracteriza o ser igreja. O Novo Testamento traça o perfil de igreja a partir de vários modelos; na realidade, figuras e símbolos que descrevem como é e de que forma convive esta assembléia do povo de Deus!.

Na edição anterior do Diocese Informa, falava da Igreja-Corpo, Corpo de Cristo. Neste mosaico colorido sobre o início da comunhão das comunidades cristãs desenhado pelos autores do Novo Testamento, descobrimos, por exemplo, na carta aos Efésios (2.20-22) a figura de Igreja sendo templo santo, cuja pedra angular é Jesus Cristo. Em outro texto, a igreja é apresentada como a noiva de Cristo. Nas cartas de Pedro, os cristãos e as cristãs são pedras vivas inseridas numa construção. Conforme o apóstolo Paulo em sua carta à comunidade em Corinto, membros da família cristã são identificados como a lavoura de Deus.

No Antigo Testamento, muito antes da formação das primeiras comunidades cristãs, o profeta Isaías vê a glória de Deus que enchia o templo. O Salmo 84. 1-2 lembra como o povo eleito de Deus, Israel, vivendo as amarguras do exílio babilônico, 587 a 538 antes de Cristo, sente-se despedaçado, por causa da ausência do Deus-Javé, em seu meio de vida exílica.

A partir do acontecimento de Pentecoste, a presença espiritual de Deus traz novo ânimo, é fonte consoladora e inspiradora para o empenho missionário. E é na Ceia do Senhor, na Eucaristia, que a família cristã vive hoje a presença real e animadora do Cristo, corpo verdadeiro.

O povo de Deus, no mundo atual, no Sacramento da Ceia, pode olhar com gratidão para o passado. Assim como tem a liberdade de olhar para frente celebrando, agradecido e alegre, a antecipação do Reino de Deus. Na Eucaristia, o povo de Cristo olha ao redor e enxerga no outro o rosto do irmão, da irmã, na realidade o rosto do próprio Senhor Jesus Cristo. Por isso, faz sentido fortalecer a Unidade da grande família de Jesus Cristo. Se assim não for, corremos o risco de atrapalhar e de embaraçar a vida e a identidade da verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Diocese Informa – 12/2003