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A irmã diaconisa luterana Doraci Edinger, 53 anos, cedida pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) para a Igreja Luterana de Moçambique, foi violentada e assassinada na cidade de Nampula, a 700 km ao norte de Maputo, a capital. 

Seu corpo foi encontrado no apartamento onde residia, na segunda-feira, 23, mas o crime ocorreu provavelmente no sábado, 21, em circunstâncias ainda não esclarecidas pela polícia local. Doraci estava em Moçambique desde julho de 1998. Ela era muito estimada pelas congregações locais.

Em mais de uma oportunidade, irmã Doraci expressou preocupação com a sua segurança, dada a natureza do trabalho que desenvolvia. A igreja brasileira facultou à irmã o regresso ao Brasil, mas ela preferiu dar continuidade à atividade diaconal junto aos mais pobres da região de Moma.

No final do ano passado, a missionária católica brasileira Maria Elilda dos Santos, da congregação Servas de Maria, denunciou, em Nampula, o tráfico internacional de órgãos humanos na província moçambicana. Maria Elilda apresentou dossiê à Liga dos Direitos Humanos do país, no qual informa a existência de quadrilha que mata crianças pobres para a retirada e venda de órgãos.

O primeiro caso investigado pela irmã envolveu uma menina de 12 anos, desaparecida em outubro de 2002. O corpo foi encontrado sem o coração, pulmões e rins. A polícia foi avisada, acorreu ao local do crime, mas não providenciou qualquer perícia, e o corpo foi enterrado e o caso encerrado.

Maria Elilda e cinco crianças juradas de morte tiveram que refugiar-se em mosteiro de Nampula. Depois de se assegurar que as crianças estavam fora de perigo, a missionária retornou ao Brasil no início do ano. Não está descartada a hipótese do crime da irmã luterana estar relacionado com as denúncias da missionária brasileira.

O pastor presidente da IECLB, Walter Altmann, viaja amanhã para Nampula, com o propósito de agilizar a liberação do corpo e seu traslado ao Brasil. Altmann foi informado do assassinato da irmã em Genebra, onde participou, de 21 a 23 de fevereiro, da reunião do Conselho Executivo da Federação Luterana Mundial (FLM).

Depois de Genebra, Altmann viajaria no dia 25 a Maputo, a fim de participar, dias 26 e 27, em Beira, do conselho do grupo que dá apoio à Igreja Luterana de Moçambique, onde também iria se encontrar com Doraci. Os fatos precipitaram a viagem e o presidente da igreja brasileira chegou a Beira já na terça-feira, 24.

Ontem foi realizada uma segunda autópsia, mas a polícia não revelou os resultados. O corpo da irmã encontra-se no Hospital Central de Nampula e deverá ser transferido para instituição militar que tem câmara fria, onde permanecerá até o traslado ao Brasil, que ainda não tem data definida.

Desde a chegada da irmã Doraci a Nampula, a pequena Igreja Luterana de Moçambique duplicou a membresia, alcançando mais de três mil pessoas. Só na província vizinha de Cabo Delgado, onde ela ajudou na fundação de várias congregações, foram batizadas mais de 800 pessoas num final de semana.

Sob a liderança da irmã Doraci, foram construídas escolas e postos de saúde em aldeias rurais do município de Moma. Ela ajudou a implantação de poços, garantindo a potabilidade da água para a população da região. Incentivou a automanutenção de aldeias rurais, introduzindo culturas de caju, e distribuiu sementes de hortaliças.

Irmã Doraci promoveu seminários sobre saúde, higiene e alimentação. Ajudou colonos na aquisição de instrumentos agrícolas. Ensinou o evangelho de Jesus Cristo e mobilizou-se para conseguir Bíblias e materiais para a escola dominical.

Natural de Santo Antônio da Patrulha, no Rio Grande do Sul, Doraci nasceu no dia 23 de maio de 1950. Aos 18 anos de idade, transferiu-se, com os país agricultores, para Novo Hamburgo, onde a família reside até hoje. Doraci trabalhou num ateliê de calçados e oito anos depois decidiu ingressar na irmandade da Casa Matriz de Diaconias, em São Leopoldo.

A família Edinger – pais e 11 filhos – recebe o consolo da Comunidade Evangélica de Canudos, em Novo Hamburgo. Na Casa Matriz, irmãs diaconiss reuniram-se em momento de oração e reflexão já na segunda-feira, quando souberam da morte da colega.

Mesmo abaladas com o assassinato da irmã Doraci, a irmandade solidarizou-se na dor com colegas e familiares, e agradeceu a Deus pela vida da colega e o trabalho que realizou em Moçambique. Doraci foi cedida pela IECLB à igreja moçambicana a pedido e com o apoio da Federação Luterana Mundial (FLM).

 Fonte: ALC