Nestes tempo pós-modernos somos bombardeados com a palavra “mudança”. Todos prometem ou reivindicam mudanças. Há muita promessa de mudança sem chance de sucesso em função do anseio das pessoas por uma mudança das suas vidas sofridas. Principalmente a vida política muito se move a base deste combustível.
Convém perguntar: Como é que as coisas mudam? Encontramos basicamente dois jeitos de lidar com a questão. Por um lado existe a idéia de que somente uma reviravolta radical e instantânea promoveria a mudança. Seria preciso trocar tudo que incomoda. Muitas religiões sugerem isto aos seus fiéis.
“Você precisa anular seu passado, sua história, inicie-se em nossa igreja, começe tudo do zero que daqui em diante tudo será diferente.” Esta proposta religiosa anda em sintonia com o mundo pós-moderno que sugere que as mudanças devem ser radicais. Assim pessoas trocam rapidamente de parceiro, esquecem dos amigos e mudam-se de um lugar para outro com frequência. As vezes até “trocam” partes do corpo fazendo plásticas e outras mudanças estéticas. Os resultados são via de regra duvidosos. O passado tende a retornar, o feitiço do rebatismo passa e resta a frustração. Nas relações perdidas perde-se o ser humano tornando-se solitário por causa da desconstrução contínua da vida. E o rosto de boneca da cinquentona expressa um vazio estranho de vida supostamente sem marcas.
São estas frustrações que levam ao outro extremo: A desistência de qualquer mudança. Já que é tão dificil mudar, muitas pessoas deixaram de acreditar. Tocam a vida para frente do jeito que dá sem pensar muito, sempre achando que o pior não acontecerá. Isto pode muito bem ser um engano. Não há estagnação na vida. Ou as coisas mudam para melhor ou elas despencam. E as pessoas de repente se vêem confrontadas com casamamentos que se desfazem, empregos que desaparacem e comunidades que somente respiram desmotivação.
Na Bíblia encontramos um outro jeito de encarar as mudanças: “O Reino de Deus é comparável ao fermento que uma mulher mistura com três medidas de farinha até que tudo fique fermentado” (Lc 13.21) A farinha, a massa, somos nós e ela sempre será a mesma.
Não podemos fugir de nós e sempre a nós alcança o que somos. O recado que Jesus nos dá é que o mais importante na vida é o espírito no qual a vida é vivida. As mesmas coisas não são as mesmas coisas dependendo do fermento. Pão sem fermento é um alimento muito deficiente, mas com fermento é delicioso e fundamental.
Este espírito é um profundo saber sobre o valor da vida que Deus dá. É ter a ousadia de enxergar a vida, os outros e a si memo da forma como Deus sonhou. É dar valor àquilo que tem e deixar o resto em segundo plano. Significa que o passo dado para frente não será desvalorizado pelos dois passos para trás que podem vir depois. A cruz não desvalorizou a vida de Cristo. E o sofrimento jamais invalida a prática e experiência do amor. Desta forma instala-se um círculo virtuoso onde um momento motiva o outro. E os momentos de queda servem como aprendizado sem porém perder o foco. O bonito é que é possível para nos. Deus não exige coisas mirabolantes mas oferece este espírito da vida que nos põe em movimento.
Por fim é necessário dar um tempo. O fermento precisa de tempo para fazer crescer a massa. Precisamos ter paciência para não perder o objetivo de vista. Mas seremos capazes de caminhar e ver a mudança acontecer.
P. Guilherme Nordmann