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O fenômeno da urbanização em nosso espaço geográfico, no estado de Santa Catarina, bem como no país todo, se constituiu em desafio especial para as ações práticas e para a reflexão das igrejas que apostam no convívio aberto e ecumênico. Entre estas, tanto a Igreja Católica Apostólica Romana como a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil podem enriquecer-se mutuamente.

No fluxo de migração do mundo rural para o urbano, pessoas em busca de emprego, de estabilidade, estudo para os filhos, em busca de maior bem estar para as famílias, muita gente perdeu e continua perdendo o seu vínculo com as suas comunidades religiosas. O ambiente rural, a pequena Vila parecem ser mais favoráveis à fidelidade ao Evangelho e à pátria espiritual. O ambiente rural criou mentes mais conservadoras, transformá-las, no seu lugar de origem, pode ser difícil. Na cidade, o mercado religioso é amplo e tentador. Ele é insistente, oferece resistências e passa a competir com as Igrejas tradicionais. A pátria espiritual, na cidade, já não possui mais contornos tão claros como no ambiente distante do meio urbano. A sedução dos movimentos religiosos urbanos tem sido marcante. As lideranças comunitárias tradicionais temem a competição na cidade. Por vezes, constatamos que o investimento em termos de formação e de capacitação de obreiros/as e de lideranças comunitárias, acontece mais para administrar o que já existe e não tanto para conquistar novos espaços e para criar uma nova realidade comunitária.

A convivência com o outro, na cidade, representa um desafio especial para os cristãos. Este convívio sensibiliza à prática do amor cristão. A diaconia recebe um acento todo especial. As crianças, os desempregados, os jovens, aposentados, as pessoas idosas, os favelados e marginalizados, pelo sistema da cidade, tornam-se parceiros/as do serviço amoroso, tarefa ecumênica, em nome da fé.

A realidade urbana nos tem levado a trabalhar alternativas colocando novas ofertas, em termos de celebrações e programas comunitários com propostas pedagogicamente atuais, dinâmicas e atraentes. Não nos será desconhecido aquele sentimento trágico como se fôssemos passageiros e tripulantes do grande navio TITANIC, à espera de um fim espetacular. A cultura do desânimo e da morte também pode tomar conta dos membros da comunidade cristã. Essa cultura influencia a nossa conduta como obreiros/as, lideranças e membros em geral. Com o binóculo da confiança em Deus e da história, que tem marcado a trajetória das comunidades cristãs, é possível enxergarmos icebergs que amedrontam e geram confusão. A oferta graciosa do Evangelho, a Boa Notícia de Jesus Cristo e o resgate da memória histórica, onde se situam lado a lado as certezas, esperanças e igualmente as dificuldades, nos desautorizam a cantar no Coral do pessimismo e do desespero. O Evangelho de Jesus Cristo destaca que a comunidade recebe alento constante e participa, por causa da confiança, da vitória de Cristo sobre as forças dispostas a confundir e a desestruturar a vida em comunidade.

Em todos os ambientes, tanto no meio rural como na realidade urbana, o Evangelho revela-se como fonte de novas forças, um manancial que anima à fidelidade e à cooperação na missão de Deus. Será sempre um convite que se estende às igrejas obedientes à autoridade de Jesus Cristo. Por isto, vivemos certezas na esperança e caminhamos como irmãs e irmãos!


Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Diosece Informa – 07/2004