Diferenciais e compromissos da educação confessional no contexto brasileiro foi o tema que o pastor emérito Martin Norberto Dreher, professor de História na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), apresentou aos mais de 500 professores da Rede Sinodal de Educação, vinculada à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB).
A Rede Sinodal reuniu o seu 25º Congresso em Carazinho, cidade localizada na parte serrana gaúcha, a 296 Km de Porto Alegre, para o estudo do tema Escola, um mundo de relações: A identidade da escola no cenário mundial e seu compromisso com diferentes contextos.
Para imigrantes alemães chegados ao Brasil a partir de 1824, a escola representava instância importantíssima no processo educacional, e era uma questão de iniciativa comunitária e não do Estado. Ao chegarem em terras do Novo Mundo, os imigrantes já tinham na bagagem pelo menos três séculos de ensino obrigatório na escola pública alemã.
Já o sistema educacional implantado no Brasil na segunda metade do século XIX pelo protestantismo de missão – arrolados ai metodistas, presbiterianos, batistas, congregacionais, adventistas e anglicanos – é bem diferente daquele introduzido pelos luteranos. Alemães instalaram-se mais em áreas rurais, enquanto o protestantismo de missão buscou as cidades.
Por volta de 1870, surgiram os primeiros colégios protestantes em cidades importantes do ponto de vista estratégico missinário. Parece-me que no início da atividade missionária protestante a escola é complemento natural à igreja. As razões de sua instalação não são filantrópicas, mas doutrinais: o analfabetismo era empecilho ao aprendizado da doutrina protestante, calcada na leitura da Bíblia, de livros e revistas denominacionais, explicou Dreher.
A propagação da fé estava vinculada à difusão de valores culturais. O professor da Unisinos destacou que na educação protestante vieram embutidos o liberalismo, o individualismo e o pragmatismo.
O protestantismo luterano e o protestantismo de missão não pretendiam, assim como o catolicismo, apenas educar para a fé, mas dar também expressão aos valores da vida cristã, identificados aos valores-padrão da cultura da Alemanha, dos Estados Unidos ou de outros países dos quais viessem missionários, explicou Dreher.
Na visão de Lutero, que foi professor na Universidade de Wittenberg de 1508 até 1546, ano em que morreu, o professor era também um catequista, uma vez que a escola tinha por tarefa formar bons cristãos. Com a descoberta da salvação gratuita, da justificação por graça e fé, também mudou, para Lutero, o foco do ensino.
O alvo da ética não era mais o céu, como a garantia da própria salvação também pelo estudo, mas a terra, a preservação das coisas criadas por Deus. Para Lutero, a educação é de responsabilidade da autoridade civil e não da autoridade eclesiástica, disse Dreher.
Sempre que for investido um florim em gastos militares, defendia o reformador, devem ser investidos cem florins em educação. Para Lutero está claro que governar é criar e manter escolas, apontou Dreher na sua palestra.
Para Lutero, a educação deve ser lúdica – deve-se aprender jogando, cantando e dançando, mas, acima de tudo, propulsora da liberdade evangélica. O reformador, citou Dreher, propõe uma escola cristã, gratuita e obrigatória, à qual toda a população tenha acesso. Ela não é questão de elite leiga ou religiosa, destacou o professor de História.
Outro palestrante do 25. Congresso da Rede Sinodal de Educação, o professor Ricardo Rossato, PHD pela Universidade de Quebec/Montreal, frisou que educadores conscientes não podem tranqüilizar-se enquanto existirem analfabetos. O educador tem que ter a alma grande, disse.
A Rede Sinodal convoca o Congresso de professores a cada dois anos, desde 1953, reunindo educadores e representantes das 58 escolas integradas na rede, num total de 32 mil alunos, em seis Estados brasileiros – Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso.
O Congresso, avalia o diretor executivo da Rede, professor Sílvio Iung, é um momento de estudos e congraçamento, no qual os profissionais da educação podem explorar novos temas de estudo, formatar a troca de informações e fortalecer o contorno pedagógico de base confessional.