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Nossos olhos estão vendo a cada novo ano as ilustrações mais criativas, mais caras, mais diversificadas para marcar a época do Natal. Elas são carregadas de informações e novidades promocionais, que apelam para o Natal construído com o intuito de movimentar o mercado que nos envolve durante os demais meses do ano. Vivemos a fantasia do Natal sob o enfoque da luz. O problema é que a luz que nos ilumina é a que provém da energia elétrica. O que nosso coração sente em meio a essa grandiosidade de ofertas reluzentes? O sentimento brota do que os olhos vêem. Também nossos olhos de cristãos são afetados por essas luzes criativas e diversificadas. Nossas preocupações também se voltam para a tarefa que nos aguarda em mais um Natal. Nós temos afilhados de batismo, filhos, esposo ou esposa que aguardam esperançosos pelo presente natalino. Nossos filhos já antecipam, em meses, seus desejos de serem presenteados. Os olhos vêem e o coração é impulsionado a realizar o desejo do que nos é mostrado. Essa é a nossa visão do Natal.

Nos primórdios do cristianismo o nascimento de Jesus não tinha esse enfoque consumista que nos atinge hoje. O terceiro evento mais importante (primeiro era a Páscoa e o segundo era Pentecostes) do calendário da igreja antiga era a Epifania, que incluía o Natal. Seu tema dominante era a manifestação de Deus em Jesus Cristo, o batismo de Jesus e o primeiro milagre. O tempo de advento era originalmente o tempo de preparo para o entendimento dessa manifestação de Deus. O centro da celebração, portanto, residia no entendimento da manifestação de Deus, em Cristo Jesus. No correr do século IV, desmembrou-se o Natal, assumindo perfil próprio e encampando parte das comemorações da Epifania.

O enfoque da luminosidade tomou outra direção. A luminosidade que a igreja antiga percebia, vinha dos sinais, ensinamentos e obras de Jesus. Ao retirar o Natal desse enfoque, os olhos da cristandade se voltaram para a estrela de Belém, que continuava a mostrar o caminho para o Deus encarnado. A estrela apontava para uma estrebaria, de iluminação precária, mas de conteúdo grandioso e iluminador.

Hoje as luzes do Natal apontam para casas cheias de ilustrações criativas, diversificadas e arranjadas, mas de conteúdo pobre e vazio. Nossos olhos não vêem mais a real grandiosidade da revelação de Deus em Jesus? Se de fato acolhemos o espírito mundano do Natal nossos corações estão insensíveis e fechados para a maior luz de todos os tempos?

Nossos corações são afetados pelo que nossos olhos vêem. Estes vêem o que a nossa sociedade prioriza em seu tempo. A pergunta que fica para nossa reflexão é: o que nossos olhos estão transmitindo para o nosso coração neste tempo de Natal? Queira Deus que a luminosidade artificial não tenha cegado nossos olhos, deixando nosso coração insensível à manifestação do amor de Deus, quando Ele fez o céu beijar a terra renovando a esperança da graça e da verdade.

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC

O Caminho – 12/2004