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Celebração de Advento
Prédica: Lucas 1.26-38
Leituras: Isaías 2.1-5 e Zacarias 9.9
Autor: Roberto Ervino Zwetsch
Data Litúrgica:
Data da Pregação:
Proclamar Libertação – Volume: XXIX
Tema: Advento

1. Situando a celebração

Era fim de semestre na Escola Superior de Teologia em São Leopoldo (dezembro de 2002). Eu fora escalado para dirigir a celebração de encerramento do ano, e esta coincidia com a primeira semana de Advento. Como é praxe, convidei alguns estudantes para prepararmos juntos o culto. Começamos lendo os textos previstos e, na meditação, surgiu a idéia de fazermos algo diferente, que situasse de forma significativa a história do Advento num contexto litúrgico no qual as crianças fossem o foco principal.

Definido o objetivo, passamos a organizar a celebração, que contou com a ajuda de uma estudante de teologia e de um grupo de crianças especialmente convidado para a ocasião, crianças que convivem conosco no dia-a-dia do Morro do Espelho, além da excelente Equipe de Canto Litúrgico. Imaginamos que o culto deveria iniciar com a entrada da luz do Advento na forma de uma tocha acesa, que seria trazida pelo grupo de crianças e a estudante. Ela entraria acesa como símbolo da Luz de Cristo, que começa a brilhar nessa época do ano litúrgico. A luz seria então colocada num centro litúrgico, de preferência no meio do local de culto ou no altar, se a comunidade assim o preferisse.

Mais adiante, fizemos um momento especial de ação de graças pelo semestre letivo e tudo o que nele recebemos das mãos de Deus. Durante a celebração, pessoas da comunidade foram convidadas a colocar no centro litúrgico (ou altar) símbolos dessa gratidão, e nesse momento as pessoas podiam compartilhar uma experiência significativa que vivenciaram em suas vidas.

Na liturgia da Palavra, lemos os textos em dois momentos, intercalados pelo diálogo de um vovô que conta a história do Advento para o grupo de crianças. Eu fiz o papel desse personagem, entrando na capela na hora de contar a história, vestido com um chapéu de palha e suspensórios. Saudei as crianças que estavam sentadas no chão, ao redor do centro litúrgico, sentei-me num banquinho de madeira e comecei a contar-lhes a história do Advento em diálogo com o grupo de crianças (cf. texto a seguir). O diálogo deve ser preparado com antecedência. Penso que a escola dominical e uma orientadora podem colaborar para esse momento.

Ao final da narrativa, o vovô e as crianças sentam-se nas cadeiras (ou bancos) no meio da comunidade e a celebração continua até o seu final.

Cabe dizer ainda que esse culto, celebrado num momento solene com as despedidas de professores ilustres da EST (G. Brakemeier e W. Altmann) e a introdução nos cargos dos novos reitor e vice-reitor da EST, causou certo impacto por sua singeleza, certa ousadia e pela oportunidade de achegar-nos à mensagem do Advento de uma forma simbolicamente significativa, especialmente por falar à comunidade a partir das crianças. Uma colega de trabalho me dizia depois do culto: “Com certeza, todas as pessoas que participaram do culto entenderam bem a mensagem que vocês apresentaram e se sentiram tocadas por ela”.

Enfim, previmos durante o culto vários momentos em que a comunidade participou cantando músicas especialmente selecionadas de acordo com o tema.

Participaram da equipe de celebração os bacharelandos em teologia Anderson Verdin, ênfase Diaconia, Iuri Andréas Reblin, ênfase Pastorado, Evelyne Goebel, ênfase Pastorado, crianças da comunidade do Morro do Espelho e a Equipe de Canto Litúrgico da EST, coordenada por Cleonir Zimmermann, ênfase Diaconia, e eu como docente.

Seguem o roteiro do culto e a história de Advento:

2. Culto da Luz – Tempo de Advento

Liturgia de abertura

1. Acolhida
2. Prelúdio
3. Saudação apostólica – Verso do dia: Zacarias 9.9: “Eis aí vem o teu rei, justo e salvador”.
4. Canto: Que a luz de Cristo brilhe/ Nos envolva em amor/ E que o Seu poder nos venha proteger/ Pra sempre e sempre, amém. (Cantar 2 vezes.)
5. Entrada da luz com uma tocha acesa – Evelyne e as crianças colocam a tocha no centro litúrgico.
6. Confissão de pecados meditativa (de pé)
– silêncio
– oração: Após meditarmos sobre nossa vida, atitudes, pensamentos, omissões, ó Senhor, nós reconhecemos diante de ti e desta comunidade que não somos fiéis e verdadeiros como tu esperas. Perdoa-nos a infidelidade, a falta de amor e a descrença. Neste tempo de Advento, ajuda-nos a retomar o teu caminho em verdade e justiça. Que a luz do teu Evangelho ilumine a nossa vida, hoje e sempre. Por Jesus Cristo, teu filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
7. Canto: Quando o povo se reúne (Col. Miriã, p. 3-4)
Quando o povo se reúne para Deus junto louvar/
Não se fecha em si mesmo, não esquece de amar.
Muitos sofrem pelas ruas e não podem mais lutar.
:/: O louvor a Deus ensina sua graça partilhar:/:

Quando o povo se reúne em silêncio para orar/
Não só pede por si mesmo, aos pequenos quer lembrar.
Deus nos deu a sua vida, mas no mundo ela padece/
:/: Criação, que é destruída, é trazida em nossa prece.:/:

Quando o povo se reúne, o Evangelho atento ouvir/
Se apercebe que no mundo há mil vozes a iludir.
A Palavra desafia, não nos deixa acomodar.
:/: A mensagem que traz vida aos aflitos quer chegar.:/:

8. Ação de graças pelo semestre (com colocação de símbolos do semestre no centro litúrgico ao chão) (Solo musical)
– 5 motivos
– após cada prece cantamos:
Graças, Senhor, eu rendo – O Povo Canta n° 34
Após a última estrofe:
Doxologia: Por Cristo, com Cristo, em Cristo/ seja a ti, Pai todo-poderoso/
Na unidade do Espírito Santo/ toda a honra e toda glória/ Agora e para sempre. Amém, amém, amém.
9. Oração de coleta
10. Solo do órgão

Liturgia da Palavra

11. Texto do AT – Isaías 2.1-5
12. Primeiro diálogo – avô com as crianças sobre o sentido da luz do Advento
13. Aleluia – O Povo Canta n° 172 (Ale, ale, aleluya)
14. Segunda leitura: Evangelho de Lucas 1.26-38
15. Segundo diálogo
16. Canto: Hinos do Povo de Deus, vol. 2, n° 310 – estrofes 1-2
17. Terceiro diálogo
18. Canto: Hinos do Povo de Deus, vol. 2, n° 310 – estrofe 5
19. Final do diálogo: O vô contou uma história tão bonita. Como é que a gente poderia continuar a contar esta história até que o menino venha?
20. Canto: Hinos do Povo de Deus, vol. 2, n° 442 – estrofes 1 e 4
21. Avô e crianças saem
22. Orações de intercessão e Pai-nosso
Após cada prece, cantamos:
Inclina, Senhor, teu ouvido, escuta o nosso clamor!

Liturgia de encerramento

23. Avisos
24. Canto de despedida: Col Miriã, p. 40-41
A cada dia nasce de novo o sol/ assim renasce a cada manhã/ A misericórdia de Deus.
Recebo hoje a dádiva da vida/ novamente de tuas mãos, Senhor/ E grato disponho-me a servir.
:/: Vamos cantar! É bom viver/ e despertar pra conviver. Dar mais calor, fazer brilhar/ o sol do amor no amanhecer.
Nós somos o sal da terra/ Nós somos fermento na massa.
Nós somos a luz do mundo/ refletindo o sol da graça.:/: Vamos cantar!

25. Bênção e envio
26. Bênção irlandesa:
A – O Senhor esteja sobre ti, para te mostrar o caminho certo.
I – O Senhor esteja ao teu lado, para te abençoar e te proteger.
R – O Senhor esteja atrás de ti, para te salvar da falsidade de pessoas más.
A – O Senhor esteja abaixo de ti, para te amparar quando caíres e te tirar das armadilhas.
I – O Senhor esteja dentro de ti, para te consolar quando estiveres triste.
R – O Senhor esteja ao redor de ti, para te defender quando outros caírem em cima de ti.
Todos – O Senhor esteja sobre ti, para te abençoar. Assim te abençoe o bondoso Deus. Amém.

Envio: Vamos em paz e andemos na luz do Senhor!
Comunidade – Demos graças a Deus.
27. Poslúdio

3. Uma história de Advento para as crianças

1ª parte – Recontar a profecia de Isaías 2.1-5 e a promessa do menino salvador (em forma de diálogo).

(1) Crianças (C) – Oi, vô, como vai você?

Vô – Vou levando. Que bom ver vocês aqui hoje.

(2) C – Tem tanta luz na cidade nestes dias. Por que, vô? O Natal sempre foi assim?

Vô – Nem sempre. Olha, antigamente não tinha energia elétrica. As pessoas usavam lampião, lamparina e vela pra alumiar as casas e caminhos. Como esta tocha aqui. Mais antigamente ainda, um mensageiro de Deus chamado Isaías, o profeta, teve uma visão. Posso contar? Ele falou que um dia iria nascer um menino que seria ele mesmo como uma Luz na vida do povo. E o profeta chamou todo o povo para andar nessa Luz.

(3) C – E Deus é essa Luz?

Vô – Sim, e o mais incrível é que, naquela mensagem, o profeta Isaías disse algo que vale ainda hoje. Ele disse que, no dia em que Deus mesmo viesse morar neste mundo para consertar tudo o que está errado, a guerra iria acabar. Naquele dia, as espadas serão transformadas em arados para plantar os campos e as lanças serão transformadas em enxadas e até em brinquedos tão bonitos que ninguém jamais viu… Não haverá mais quartéis nem escolas de guerra. A paz será vencedora e o povo poderá enfim viver com alegria e trabalhar sem medo. É como se a gente andasse na luz sem precisar ter medo da violência e da própria morte.

(4) C – Esse tempo da luz já chegou?

Vô – Ele chega sempre que a gente ouve a voz dos profetas. Até parece que estou ouvindo o povo daquele tempo. Quando ele se reunia para ouvir e recontar essas histórias de um menino salvador, que seria um renovo, como um príncipe da paz, broto novo na planta, ele começava a cantar assim: Ale, ale, ale, luuya…

Evelyne – Leitura de Lucas 1.26-38

2ª parte – A história de Maria e de Isabel – dois meninos nascem para mudar o mundo.

Vô – Esta é a história que continua aquela do profeta Isaías. Vocês querem ouvi-la mais uma vez?

(5) C – Mas claro! Conta, vô.

Vô – Pois é, muito tempo depois daquela profecia do menino salvador que viria como se fosse um príncipe da paz, aconteceu o seguinte: Numa cidade bem pequena chamada Nazaré da Galiléia, na terra da Palestina, um dia apareceu um anjo para uma mulher bem jovem, que tinha um noivo. Ela se chamava Maria e ele José. O tal do anjo deu um susto na jovem, pois ela estava trabalhando bem atenta e nem percebeu o estranho que chegara. Ele falou assim: Jovem, alegra-te, pois tenho uma notícia maravilhosa pra te dar. Deus te viu e mandou dizer que gosta muito de você. E ele falou: Avisa Maria de que ela engravidou e vai ter um filho. E este filho será fruto do amor de Deus por toda a humanidade e por isso terá o nome de Jesus. Jesus quer dizer Deus salva! E Deus vai estar sempre com ele. Os grandes dizem que é assim que o Espírito de Deus atua. Quando ele está junto da gente, tira o sonho mau e coloca em nós o sonho bom. Aí ele toma conta da vida da gente desde o mais íntimo do coração até o último fio de cabelo. E vocês sabem o que fez a jovem Maria depois do susto que levou?

(6) C – Não, mas conta, vô. Conta.

Vô – Pois ela primeiro precisou se recuperar do susto. A notícia de que seria mãe de um bebê a deixou muito pensativa, até meio aflita. Mas como, meu Deus? Aí o anjo deu mais uma notícia que ela custou a entender. Maria tinha uma prima que se chamava Isabel, bem mais velha do que ela. E Isabel também ficou grávida e estava para dar à luz uma criança. Esta criança era como um filho da promessa. Aquilo que parecia impossível aconteceu. Isabel e Zacarias, seu marido, ambos já meio velhos, ficaram tão alegres, que não conseguiam conter a euforia. Tem um hino da igreja que conta esta história muito bem. Vamos cantar?

Canto: Hinos do Povo de Deus, vol. 2, n° 310, 1 e 2 – Da cepa brotou a rama.

Vô – Vejam vocês. A gente está começando o tempo de Advento na igreja. Advento é tempo de esperar. O que a gente espera? Ora, a gente espera o Natal. Mas como hoje tá tudo muito comercializado, a gente esquece que o Natal é a festa daquele menino que veio como uma luz. Aquele menino que veio transformar espadas e lanças em arados, enxadas e brinquedos de paz. Será que a gente está preparado para receber aquele menino que o anjo anunciou?
Pois é, Advento é este tempo de preparação para receber o menino. É como acender esta tocha, esta lamparina. A gente acende e começa a enxergar melhor. Aí bota a tocha na frente do caminho e vai seguindo até encontrar o lugar onde o menino vai nascer. E quando ele nascer, ah que coisa boa, aí vai ter festa no mundo.
Igual como aconteceu uma vez com um sertanejo lá do sertão da Bahia. Ele passava por uma casa bem humilde num dia de muito calor. Escutou choro e grito de mulher e foi ver. Era uma pobre mulher grávida e sozinha e com uma criança começando a nascer da sua barriga. Imagine que situação. O pobre homem teve que ajudar na marra. Deu tudo certo, graças a Deus, igual como às vezes acontece com os bombeiros que têm de ajudar uma mulher a ganhar o bebê na ambulância, mesmo porque não há mais tempo de ir ao hospital. Pois bem, quando o sertanejo viu o menino e o tomou nas mãos para apresentar à sua mãe, disse assim: Um menino nasceu, o mundo se fez novo! (Vamos repetir!)

(7) C – Que coisa, vô, nascer desse jeito!

Vô – Pra você ver. Eu acho que o menino Jesus também nasceu igual como o filhinho da sertaneja. É por isso que a gente faz presépio no Natal pra lembrar que Jesus, o menino que o Natal faz chegar, é pequeno, humilde e frágil como qualquer criança, igual quando vocês nasceram. Perguntem à mamãe e ao papai de vocês como foi. Tenho certeza de que eles vão contar coisas muito bonitas sobre vocês, que vocês ainda não ouviram. Mas eu queria terminar esta conversa desafiando vocês. Aquele Jesus, o príncipe da Paz que o profeta anunciou, está por chegar e quer ser amigo de vocês. Eu pergunto: vocês não querem ser amigos dele também? E se ele convidar vocês pra brincarem com ele, o que vocês vão dizer? Vejam. Advento é isto: a espera de um menino que vem chamar a gente pra andar com ele um caminho novo, caminho de luz, e assim construir um mundo de paz e sem violência! E isto dá um trabalho danado.

(8) C – É mesmo, vô. Será que o mundo tem jeito? Tem salvação?

Vô – Acho que sim, mas a questão é saber como. O mais incrível nesta história de hoje é o seguinte: Se o mundo tem salvação, esta salvação começa a acontecer por meio de mensagens de anjos, mulheres e crianças. Vocês não acham isto uma beleza? Deus fala e age de forma tão humilde e sem propaganda, que, se a gente não presta atenção, nem percebe que ele está chegando! Este é o problema do Natal de hoje: Deus vem chegando de mansinho como quem não quer nada e a gente nem percebe. Ele se apresenta no mundo por meio de mulheres grávidas e de crianças que são promessas de liberdade! Por isto vamos prestar atenção na história desse menino. E cantar com ele. Quem sabe a gente aprende a andar na luz, no caminho da paz, pois ele é a Luz, ele é a nossa Paz! Vamos cantar e assim a gente já começa a se preparar para receber o menino Jesus e a ser amigo e amiga dele desde agora. Tá certo?

Proclamar Libertação 29
Editora Sinodal e Escola Superior de Teologia