A história tem rostos estranhos. Existem fenômenos na sociedade e há experiências que se repetem sempre de novo. É razão suficiente para nos consolar e nos fazer concordar com a afirmativa de que sob os raios do sol de Deus nada de novo acontece. O que já aconteceu no passado algum dia volta a acontecer!.
Pessoas autocríticas e sensíveis à realidade descobrem que fatos da atualidade e outras tantas preocupações, de hoje, nem são totalmente novas – já se registraram em outra época. Exemplificando, atitudes de rebeldia ou de busca por vida alternativa, característica da geração jovem condenada na sociedade de tendência conservadora, sob argumento da preservação da boa moral, nos dias do presente, deixa de ser uma marca exclusiva da atualidade.
Nas páginas da história na antiguidade, por exemplo, na Grécia de outrora em meio ao mundo cultural da época, os governantes e os pedagogos assim como os filósofos, pensadores amantes da sabedoria e eruditos de então se mostravam perplexos e totalmente inseguros face à postura de seus conterrâneos jovens. Em busca de liberdade e independência, a geração jovem passou pelo estigma de ser juventude transviada, ávida por experiências escandalosas, sujeita a uma vida permissiva e tentada à perda dos bons costumes.
O desprezo frente aos valores humanos e o relaxamento diante dos catálogos das virtudes, tidos como fundamento da boa cidadania, continuam sendo motivo de escândalo. Acrescenta-se ainda o desleixo frente à exigência de uma vida irrepreensível e bem conduzida. Quando o equilíbrio e a sabedoria cedem espaço às incertezas e aos excessos, então o ser humano começa a pisar em chão escorregadio; a queda num chão assim é coisa fácil.
A existência humana, sem ética e vazia dos bons frutos da razão, sem âncora a trazer segurança e estabilidade, é vida confusa. Assim ocorria em tempos do passado e é assim que continua sendo a realidade no tempo presente. A razão crítica e o bom senso ficam perplexos diante da ausência de argumentos e da falta de conteúdo de vida, à medida que pessoas, especialmente produzidas e motivadas pela mídia, são requisitadas a participar de um jogo televisivo ao estilo de um Big Brother Brasil. O mesmo sucede em tantos outros programas de entretenimento projetados diariamente para dentro de nossos lares nas telinhas brasileiras.
Argumentação semelhante poder-se-á colocar diante de uma variedade de programas religiosos diários que, antes de comprometerem seus espectadores com a Verdade e a Vida, poluem as mentes desavisadas. De fato, são ofertas superficiais e apelativas que não passam de mero show da fé, um carnaval religioso que não coopera na transformação do mundo e também não edifica comunidade alguma. Na realidade, ofertas que não passam de espetáculos a manipular emoções e a confundir a razão humana carente e, sobretudo, isenta de critérios para discernir os espíritos.
A avalanche da religiosidade perversa a serviço da falsidade, não coerente com a Verdade do Evangelho, tem se manifestado também nas primeiras gerações das comunidades cristãs. Um fenômeno que se repete. Nada é tão novo sob o sol de Deus.
A existência cristã é caracterizada pelo equilíbrio, pés no chão, e pela sabedoria humana. A vida, assim como foi levada pelos discípulos de Jesus Cristo, reflete confiança e esperança, por causa da presença e da autoridade sábia de Jesus Cristo. É vida avessa às especulações fantásticas, próprias das crendices e das superstições humanas, é vida em oposição ao fundamentalismo ou ao fanatismo religioso. Vida cristã verdadeira acontece sob a autoridade da Boa Notícia, mensagem que traz liberdade, a serviço da responsabilidade, do compromisso de bem servir.
O Evangelho, fonte da fé, revela-se como instrumento da misericórdia de Deus; eis o testemunho da obra de Deus em favor da criação e das criaturas. Jesus Cristo, o filho de Deus enviado ao mundo, aos olhos da fé é a primeira pessoa verdadeiramente nova! Pessoas cristãs cooperam em favor de uma nova cultura. A fé reveste-se de poder que desenvolve a vida, devolvendo-lhe um novo estilo e um novo conteúdo. Nos passos de Jesus Cristo aprendemos a arte de viver. Por essa razão, a fé pode ser comparada ao fermento para transformar o mundo! As ferramentas são simples, mas extremamente eficientes e se tornam conhecidas pela humildade e humanidade!
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal A Notícia – 18/02/2005