Os 35 anos de formação teológica de mulheres na Escola Superior de Teologia (EST) e os 15 anos da cátedra de Teologia Feminista na instituição marcaram a celebração de abertura do 10º Encontro Estadual de Teologia Feminista, realizado em São Leopoldo (RS), na EST, de 20 a 22 de maio. Também os dez anos do Encontro Estadual foram lembrados de maneira especial. O evento contou com 57 pessoas inscritas – mulheres e homens – vindas de várias partes do Rio Grande do Sul, para estudo e reflexão em torno do tema Imagens de Deus e Relações de Gênero.
A celebração inicial, na noite de sexta-feira, na Capela, foi oficiada pelas professoras Dra. Marga Ströher e Dra. Elaine Neuenfeldt, pela doutoranda Lori Altmann e pelas estudantes Ana Paula Genehr e Juliana Zachow.
Lori Altmann, uma das primeiras teólogas a se formarem na EST, deu testemunho de seu tempo de estudante, de meados da década de 70, em pleno período da ditadura militar. Ela lembrou que as dificuldades eram muitas naquela época, não só para as mulheres permanecerem na educação teológica, mas também para exercerem plenamente o ministério.
As desigualdades nas relações de gênero não eram lembradas e quando uma das mulheres se arriscava a levantar esta temática, dizia-se que não era prioridade. Que poderia dividir a luta. Que depois do povo chegar ao poder isso seria discutido e resolvido, contou Lori. “Na Teologia” – testemunha – “esse assunto também não era tematizado, pois, afinal, não tínhamos problemas! Mulheres podiam estudar Teologia e até serem ordenadas”.
Lori também mencionou a caminhada ecumênica, que incluiu encontros de estudantes de Teologia e de pastoras da Igreja Metodista e, mais tarde, com as episcopais e também com teólogas católicas. Surgiram igualmente os encontros de estudantes com pastoras da IECLB, e a seguir também com as catequistas. “Percebíamos que a luta por justiça, dignidade e igualdade de direitos deveria começar conosco mesmas”, disse Lori. “Algumas de nós ainda tínhamos medo das palavras. Não falávamos em Teologia Feminista, mas em Teologia na ótica ou na perspectiva da mulher”, acrescentou.
Mas, mesmo assim, prossegue, as estudantes e teólogas da IECLB caminhavam ecumênica e solidariamente, buscavam uma nova hermenêutica (interpretação) bíblica, que fosse mais inclusiva, não só em relação às mulheres, mas em relação a todas as pessoas, a todos os grupos minoritários e excluídos. “Em nossa Igreja, buscávamos um ministério pastoral mais diversificado e mais participativo. Rejeitávamos o sistema unitário e centralizador chamado: ‘Ein-Man-System’ (sistema de um homem só). Na hermenêutica ensaiávamos uma imagem de Deus menos masculina, mais plural e mais multifacetada”, concluiu.
Elaine Neuenfeldt, a nova professora de Teologia Feminista (TF) da EST, leu mensagem da sua antecessora, Dra. Wanda Deifelt, primeira professora da cátedra e que deixou a docência na EST em julho de 2004, após 14 anos de atuação, para assumir docência nos EUA.
Em sua carta, Wanda lembra o abaixo-assinado – com mais de 80 assinaturas – que recebera do estudantado da EST pedindo que ela se candidatasse à vaga para a cátedra de TF, pedido que também atendeu. Wanda se define como “parteira” dessa disciplina na EST, e várias pessoas se declararam “crianças que Wanda criou”.
Elaine diz vislumbrar a continuidade da reflexão da Teologia Feminista no espaço curricular, vinculada e em diálogo com movimentos e grupos de mulheres ou outros, no âmbito eclesial ou não, e de forma interdisciplinar. “Este movimento tem caracterizado a reflexão teológica feminista na EST, possibilitando que a reflexão transponha alguns limites e fronteiras, enriquecendo e arejando a área”, acrescentou Elaine. Um projeto de pesquisa que a nova docente está elaborando se insere na temática da sexualidade, aborto e direitos reprodutivos com enfoques bíblicos-teológicos.
Fonte: Ingelore S. Koch