Muita água emoldura a história da criação. Conta a Bíblia que o espírito de Deus movia-se sobre ela.
Muita água emoldura grandes discussões políticas na atualidade. Grandes discussões, porém, podem fazer água. Mas, também ali, o espírito de Deus move-se sobre ela.
Muita água caiu sobre São Paulo na última semana. Ficamos perplexos(as) diante da quantidade de chuva em tão poucas horas. Para muitas pessoas, era a reedição do dilúvio; para outras, a retomada da, sempre necessária, discussão sobre a responsabilidade do poder público por evitar as enchentes. Em meio ao caos, as ações de solidariedade e compromisso com a vida mostraram que, também ali, o espírito de Deus movia-se sobre a água.
Água é fonte de vida. Vida sem água é sequidão das criaturas e da criação. Também a mãe é fonte de vida, e essa fonte, em que nos desenvolvemos, é capaz de acolher, aquecer e saciar. Água e mãe…que estranha combinação! É, porém, em meio à água que somos formados(as); em meio à água nascemos – o romper das águas determina o parto; é a água da mãe que possibilita criar e sustentar outra vida. Suor e leite, sangue e lágrimas… água que permite a continuidade. E o espírito de Deus move-se sobre ela.
Água nossa de cada dia, usada também nos mistérios da fé, para nos lavar interna e externamente. Cristãos(ãs) nascem em meio à água do batismo. E o espírito de Deus move-se sobre ela.
Criação, poder público, maternidade e batismo. Temas aparentemente distintos, unidos pela força da água.
Sabemos que a sobrevivência do planeta depende do uso responsável que se faz da água. A história da criação nos lembra que aquilo que Deus criou, Deus viu que era bom. A discussão política nos permite exigir do poder público o cuidado com o meio ambiente e, em conseqüência, com a propriedade democrática dos mananciais de água. Também queremos ver que é bom. A maternidade nos remete a nosso contato primeiro e mais íntimo com a água, e nos lembra de sua capacidade sustentadora de vida. Ali, experimentamos o que é bom. O batismo nos faz responsáveis pela criação de Deus, participantes nas discussões e ações do poder público e pessoas engajadas na promoção de vida. Assim, pessoas batizadas, nascidas em meio à água, vêem o que é bom, mas também fazem o que é bom. Pequenas ou grandes ações que visam ao bem comum, a solidariedade e o compromisso com a vida contam com a participação motivadora do espírito de Deus. Se os resultados demoram a aparecer, lembremos o velho ditado popular: Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.
Ruth L. W. Musskopf
pastora da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e
professora no Bom Jesus/Ielusc
em Joinville
Jornal A Notícia – 03/06/2005