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Quem tiver fôlego suficiente para se deter diante das reportagens dos jornais diários ou assistir com paciência e interesse aos noticiários da televisão, com facilidade, poderá cair em desespero e interpretar nossa realidade como sendo idêntica a um poço de injustiças, um vale de lágrimas ou semelhante a um mar de sangue..

A conjuntura ambiental, nesses últimos dias, nos tem brindado com ameaças e destruição concreta. Ficamos impressionados com os ventos fortes, amedrontados diante da ressaca no litoral e com a força das chuvas torrenciais destruidoras. A neblina tem sido razão para que se estabelecesse o caos nas cidades, gerando dificuldades enormes no trânsito e nos aeroportos.

A conjuntura política mundial reflete a seu modo a situação de caos. Ao melhor estilo, somos servidos a cada dia com o cardápio da violência, da ferocidade dos terroristas e com a quantidade de sangue das vítimas estendidas. Os desígnios humanos indicam a maldade, desde a mais tenra idade. O caos torna-se uma presença constante! Nesses últimos dias, fomos lembrados do potencial de destruição, instalado ao redor do globo terrestre, em razão da morte de milhares de pessoas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki. Este golpe de misericórdia na 2ª Guerra Mundial, em agosto de 1945, para com um número muito grande de pessoas inocentes, é a expressão mais contundente do desamor e da crueldade que se apoderam nas pessoas humanas.

Nesse mosaico do caos, acrescenta-se a conjuntura política nacional. Em Brasília, e com certeza em muitos outros lugares em nosso País, está acumulada a lama da corrupção; uma realidade diante dos palácios e também presente nos balcões de muitos lugares onde ocorrem negócios, às claras e também às escondidas. É a ganância e o desrespeito para com a sociedade brasileira que vem de longa data mostrando sua força e presença negativa!

Vida envolta em caos, políticas que acontecem sobre o terreno caótico não têm futuro. O mundo não foi chamado à esculhambação e nem ao caos.

Consta do testemunho da criação do universo: A Terra, porém, estava sem forma e vazia, havia trevas sobre a face do abismo e o espírito de Deus pairava sobre as águas. A linguagem mitológica aponta a existência do caos primitivo. Quando o ser humano dá as costas ao céu e se afasta do Criador, instalam-se o caos e a desordem, o potencial destruidor torna-se uma conseqüência. E as vítimas do caos? Quem são elas? Como se identificam? Descobri-las não é tarefa tão difícil assim. A natureza larga seus gemidos, o meio ambiente fica doente, os seres humanos e as criaturas se transformam em vítimas exploradas pelo potencial do caos. Até quando persistirá a realidade caótica? Se Deus, o criador, enquanto sujeito da história, se inspirasse somente em suas emoções feridas diante do desrespeito à criação, ele teria, com certeza, o poder e a liberdade de nos escravizar sob as forças da destruição, à semelhança do dilúvio, de outrora.

Graças ao Deus bondoso, o fim da criação não é o caos. Ele nos oferece o presente da bênção, um presente imerecido e sem preço. Enquanto durar a Terra, não deixará de haver sementeira e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite.

A ingenuidade do amor de Deus assegura futuro à existência do universo criado. A bondade de Deus transforma o mundo e cria pessoas reconciliadas, renova as mentes dos seres humanos. Pessoas transformadas não se conformam com a realidade dos dias da atualidade. O mundo não pode continuar como ele está. O Evangelho nos encoraja a lutar por um mundo novo! Por causa da ressurreição de Cristo, o cheiro na atmosfera já é outro! Apesar da maldade humana e embora as forças das trevas continuem presentes na face da terra, um novo dia está irrompendo. A bênção de Deus supera a maldição. A última palavra não é do poder do caos, a vitória da ordem e dos relacionamentos ordenados e fraternos determina o futuro de Deus e da humanidade. As misericórdias de Deus renovam-se a cada manhã. As balizas para a vida nova, vida em comunhão e abençoada, não se moldam aos caprichos da economia e da prosperidade. Vida que é verdadeiramente humana é aquela que se fundamenta na misericórdia de Deus e tem como meta a prática da justiça e do amor.

A maneira mais sábia de festejar a proximidade de Deus, criador e senhor da história, é trazer as suas realizações constantemente à memória humana!

Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal A Notícia – 12/08/2005