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O título do artigo é intencionalmente ambíguo. Por isso, o ponto de exclamação está entre parêntesis. Dependendo de como se lê, o sentido muda completamente. Sem o ponto de exclamação, pode ser lido como um convite; com o ponto, é um alerta. O convite é para que se tratem as idéias com cuidado, com carinho, com bondade. O alerta é porque muitas vezes as idéias representam um perigo, uma ameaça..

Não é preciso ser gênio para se ter idéias. Não é preciso ser inovador e criativo cada vez que se quer ter uma idéia. Basta ir um pouco além do trivial, basta querer superar o que está dado, basta saber ousar.

Não conheço outro livro tão cheio de idéias e que motive tanto a pessoa a ter idéias quanto a Bíblia. Tanto no sentido de convite como no sentido de alerta.

No primeiro sentido, lembro que a Bíblia é um livro redigido por muitas mãos carinhosas. Mãos inspiradas por idéias de libertação e de salvação. Mãos inspiradas por práticas de comunhão e de partilha. Mãos inspiradas por idéias de perdão e de reconciliação. Mãos finas em palácios e mãos calejadas de camponeses e camponesas. Mãos de homens e de mulheres que teceram com cuidado a maior fonte de idéias da face da Terra, a fonte da água viva. Sim, idéias são como a água. Se não cuidarmos bem delas, acabam secando e deixam murchar tudo ao redor.

Ter cuidado carinhoso, bondoso, com as idéias é permitir que elas fluam, que se desenvolvam, que se expressem como sonho, como alimento espiritual, como construtoras da paz.

Mas também vale o alerta. Idéias podem representar uma ameaça. O maior exemplo disso na história da humanidade é o de Jesus Cristo: um jovem cheio de idéias. Foi crucificado por causa delas! O relato bíblico assegura que o julgamento não encontrou culpa em suas idéias. Falava de amor, de justiça, de perdão. Não havia justificativa plausível para sua pena, mas ela foi executada. Por isso, o alerta. Cuidado com as idéias! Com exclamação! Sem apelação.

Martinho Lutero afirmou certa vez que Deus sempre se esconde em seu contrário: poder na fraqueza, vida na morte, salvação na cruz. Assim são as idéias de Deus a nosso respeito. Cuidemos bem delas. Permitamos que elas nos provoquem e convoquem de fora para dentro. Por fim, permaneçamos com a boa notícia da ressurreição de Jesus Cristo, que nos enche de coragem e de confiança. Sobretudo, quando as idéias significarem perigos ou ameaças. O poder de morte já não pode mais destruir e matar. Está derrotado na cruz, embora seus sinais ainda sejam visíveis. Mas não vivemos desses sinais e, sim, da fé que recebemos de graça.


Carlos Musskopf
pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
no Instituto Superior e Centro Educacional Luterano Bom Jesus / IELUSC
em Joinville – SC

Jornal A Notícia – 11/11/2005