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Quando nasce uma criança, dizem que o pai e a mãe ficam como que bobos. Acham que seu bebê é o mais lindo do mundo; fazem planos para que ele seja o mais humilde ou o mais inteligente; se enchem de alegria, e todas as exigências e o trabalho que vêm junto com a criança são minimizados.

A mesma coisa parece acontecer com Deus no Natal: só assim é possível entender o que Ele espera do seu menino que vai nascer: pela boca do profeta, Deus diz para nós que o cordeiro e o leão vão se deitar juntos e não se ferirão (Isaías 11). Pela boca de Maria, Deus diz que os poderosos serão derrubados dos seus tronos e os pobres vão assumir seu lugar. (Lucas 1) Como levar a sério tamanho exagero? No Natal Deus parece bobo de alegria; as exigências e a realidade são como que suspensas; aí tudo vira ao contrário; o mundo fica de cabeça para baixo.

O Natal é um profundo exercício de disciplina da fé, quando todas as pretensões de grandeza são suspensas e concentradas na humilde cena da estrebaria. O grande, o poderoso, é substituído pelo humilde e pequeno. Aquilo que era, não vale mais; tudo vai começar de novo. O mundo renasce no menino que nasce. A fé reaprende: precisa adorar um Deus pequeno, frágil – e que dá muito trabalho!

O psicanalista Carl Jung arrisca dizer que o Natal celebra o renascimento de Deus. Somos confrontados e agraciados com uma grande mudança: nada mais de exércitos, não mais altos céus, nada mais de matanças exemplares, não mais força e poder pelas pragas ou castigos. No Natal Deus descobre o jeito definitivo e universal de tocar o mundo e as pessoas, através de um menino humilde. Deus nasce e o mundo inteiro começa de novo.

Os sábios do Oriente são símbolo dessa surpreendente virada de Deus. No seu testemunho está a mais profunda exigência da nova pedagogia da fé que o Deus inaugura: quando eles chegam a Belém vindos do Oriente, depois de uma longa jornada seguindo a estrela, montados em belos dromedários, ornados com finas roupas, trazendo ricos presentes, encontram apenas um humilde bebê e se dão por satisfeitos… Eles vinham atrás do Messias, e encontraram um menino numa estrebaria. Olharam, adoraram, presentearam e depois foram embora, satisfeitos.

Alguns países conservam uma antiga tradição que fixa o dia dos presentes de Natal para o 06 de janeiro, o dia dos reis magos – afinal, são eles que levam presentes para Jesus, e não o papai noel. Nesse dia as crianças preparam pratos de capim e potes com água e deixam na frente da porta; só assim os dromedários interrompem sua viagem e param nas casas para comer e beber. Em agradecimento, os magos deixam presentes.

Gracioso e exigente Natal… Deus visita a humildade, gosta, e resolve morar aí.