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Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova dentro de mim um espírito inabalável”
( Salmo 51.10)

Todos os anos, no dia 31 de dezembro, promove-se em São Paulo a tradicional corrida de São Silvestre. Para ela preparam-se milhares de atletas durante o ano todo.Essa corrida se notabilizou muito nas últimas décadas em função de um modismo bastante salutar que se disseminou amplamente em toda a sociedade – o cuidado do corpo. Tudo começou com a corrida de “cooper”. Depois vieram as caminhadas, acompanhadas pelas mais diversas academias. Homens e mulheres de todas as faixas etárias procuram se exercitar fisicamente para queimar suas toxinas. Na corrida de “cooper” prioriza-se a resistência física mediante um maior aproveitamento de oxigênio durante a respiração, poupando, assim, o coração. Ter resistência é sinônimo de bom fôlego e coração forte.

Os antigos hebreus já faziam uma relação muito íntima entre coração e pulmão. Viam neles os centros vitais do organismo humano. Quando o salmista usa a palavra coração, ele quer referir-se aquilo que ocupa o centro da vida. Tudo aquilo que designa a vontade, os valores que direcionam a vida, enfim, o caráter do ser humano. Já “espírito inabalável” significa respiração firme. Nós diríamos: ter fôlego, ter persistência.

Assim, este verso desta oração profunda, que é o Salmo 51, representa o que há de mais importante em nossa vida. Ao entrarmos em um novo ano, lembramos que no ano que findou o coração não pulsou conforme os desígnios de Deus e, conseqüentemente, toda a vida sofreu com isto. Muitas toxinas se acumularam e elas precisam ser queimadas. Ao lermos este salmo, procuramos da parte de Deus uma clara orientação na vida para o ano que começa. Desejamos que o coração seja puro, ou seja, que a nossa perspectiva de vida seja pautada por aquilo que a Palavra de Deus nos coloca como diretriz.

Agora, para que isto aconteça é necessário aquele “espírito inabalável” da persistência. O fôlego que supera o desânimo. A coragem que enfrenta problemas e dificuldades. Essa força vital nós pedimos a Deus, pois bem sabemos o quão facilmente caímos em desalento quando confiamos exclusivamente em nós mesmos.

Sempre é bom lembrar que isso exige de nós uma disciplina de atleta. Um atleta não pode relaxar nos treinos. Precisa até abrir mão de determinados prazeres que em si não representam mal algum. A renúncia acontece em função de um propósito, de uma meta. Ela ocorre em função de uma opção de vida. A pessoa que procura viver a sua fé em fidelidade aos propósitos de Deus também renuncia a programas e atividades que em si não apresentam mal algum, mas que somados comprometem a sua performance.

Lembremo-nos que as nossas capacidades, a nossa maior ou menor formação cultural não são decisivas ou referências centrais para Deus. Para Ele é decisiva a maneira pela qual nós usamos toda a nossa estrutura pessoal. Quase sempre os/as vencedores/as das maratonas não são os mais musculosos. O que conta e é decisivo mesmo é muito empenho no exercício.

No início de 2006 façamos desta oração a nossa corrida de “cooper” diária para queimar as toxinas da nossa vida e, ao mesmo tempo, nos fortalecer para os embates da vida.

P. Dr. Rolf Schünemann