A coluna Bate-Papo, apresentada dentro do programa RJTV, da TV Globo do Rio, mostrou no dia 11/08/06 um projeto que há 27 anos orienta famílias das favelas do Cantagalo e do Pavão-Pavãozinho, em Ipanema e Copacabana. Trata-se do Centro Social Bom Samaritano, da Paróquia de Ipanema.
O pastor Mozart de Noronha contou ao repórter Edney Silvestre como prepara as crianças e os adolescentes para enfrentar o risco social.
Confira abaixo a entrevista na íntegra, ou clique aqui para assistir a entrevista.
Edney Silvestre: O senhor tem duas vertentes de trabalho, uma com crianças, outra com adultos e famílias.
Pastor Mozart de Noronha: Isso. Eu me preocupo com a classe média, com a juventude, com estudantes, e o outro setor é o trabalho social, o trabalho com a equipe que trabalha comigo, de 17 funcionários, com crianças. O trabalho tem como objetivo primeiramente educar – na sua expressão maior. Fazer com que todos os funcionários sejam também educadores.
Quantas crianças são?
São cem crianças, em idade de 2 a 6 anos. Num primeiro momento, nós nos preocupamos com a questão da educação e nutrição – muitas crianças precisam ser orientadas nesse sentido.
E têm fome também…
Sim, têm fome. Então, o trabalho primeiro é nutrir, começar principalmente com a questão da fome e das necessidades humanas. Não adianta cuidar da alma e não cuidar do corpo.
Essas cem crianças são cuidadas de que forma e onde?
Ao lado da subida do Cantagalo está a sede, o Centro Social e Creche Bom Samaritano. Tem a preocupação de alimentação, socialização, educar para a vida, educar para o trabalho, para o outro, a respeitar o outro, a respeitar a vida. Achamos que o trabalho com as crianças, se não tiver uma extensão junto aos pais das crianças, ficaria incompleto. Então, temos reuniões semanais com as mães dessas crianças, e os pais também. Inicialmente, eram mais com as mães, porque nessa cultura machista muitos acham que a educação é uma tarefa somente da mãe, mas nesse processo todo, educativo, os pais vão se conscientizando de que eles são importantes também nessa tarefa de educar.
É uma orientação para os pais?
É uma pergunta muito boa. Nos pais, nós procuramos trabalhar as mesmas coisas que trabalhamos com as crianças. Procuramos trabalhar a socialização, o respeito pelo outro, a importância da vida em comunidade, a questão da violência – de que nós poderemos acabar com a violência a partir da nossa própria relação pessoal, relação com a esposa, com os vizinhos, com as crianças. Mudando essa forma de viver, a pessoa é capaz de mudar o meio em que está vivendo, mesmo que ela tenha tudo dizendo o contrário, mas dizemos: é importante que você comece a mudar a partir de si.
Nesses 27 anos, o senhor viu modificações?
É uma ótima pergunta. Nesses anos vividos, nos traz alegrias enormes quando nós descobrimos um ex-aluno nosso que diz: “Eu estou na universidade”. Aproximadamente 15 alunos, dos que passaram por nós, estão na universidade, alguns já se formando, outros excelentes pais, trabalhando na sociedade, dando a sua contribuição lá em Ipanema. Quase na totalidade dessas crianças que passam por nós, elas vão ingressar e participar de forma positiva na vida da sociedade, como também os seus pais. Assim fazendo, nós queremos resgatar o sentido da esperança que vai, em parte – que vai em parte ficando turvado -, mas nós sabemos que a esperança não morre enquanto houver alguém interessado no trabalho com criança. Eu creio que, hoje, a mola mestra, a força motriz para transformar a sociedade é a educação, principalmente, a educação com crianças e adolescentes, e com jovens, e também com os pais.