O sociólogo Robert Kurz, em O Colapso da Modernização, questiona os conceitos de desenvolvimento e de produtividade da atualidade. Traça linhas que indicam o processo evolutivo da história até o patamar sofisticado da política do mercado global. Nesse contexto, destaca os efeitos perversos do avanço desenfreado da tecnologia e aponta as ameaças que rondam a biodiversidade, a qualidade e o futuro da vida humana. Já estão aí sinais visíveis do declínio da sociedade produtiva. Os mercados consumidores, em boa medida, estão saturados. Surgem as demissões em massa da força trabalhadora. Não bastasse, vivenciamos o esgotamento das reservas naturais e tomamos conhecimento do impacto nefasto sobre o meio ambiente. A humanidade busca saídas para minorar o sacrifício da penúria e do desenvolvimento desequilibrado.
Em razão desse quadro, não é responsável acompanharmos o processo de crise na sociedade produtiva sob a ótica de teorias presentes no mundo apocalíptico. Jesus Cristo, em seu tempo, reage diante da ideologia do fim iminente do universo. Responde a seus inquiridores: A respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai. O futuro da humanidade não está à mercê do imaginário do apocalipse. O dia de amanhã também não se submete ao modelo da pax americana, tampouco se rende às políticas do mercado produtivo.
A análise dos fatos me faz resgatar uma história da Bíblia. Trata-se de um episódio vivido por Elias, o profeta, a serviço do Deus-Javé. O radical hebraico de Javé (=haiá) sugere como tradução: Deus que é de verdade. Ele vai ao encontro do profeta. Elias cansado, face à passividade do povo de Israel, refugia-se numa caverna. Diante da nação que aposta em autonomia, retira-se e procura o silêncio; seu desejo é único: a morte. Mas o Deus de fato é senhor da situação e enxerga seu servo. Oferece-lhe pão e água!
Contemporizando, a sociedade humana não só precisa de análises conjunturais e de palavras proféticas; carece igualmente de alimento, pão e água. Há carência de terra para plantar, de moradias, de trabalho, bem como de um bom governo; os homens públicos honestos e competentes fazem parte do alimento cotidiano. Corpo e alma na perspectiva de unidade necessitam de solução e equilíbrio. Quando Deus-criador terminou sua obra, descansou; não porque sentiu canseira. Seu descanso decorre da harmonia e do equilíbrio existentes. Mediante o exercício do descanso e constatando que tudo que tinha feito era muito bom, o Deus que é de verdade torna-se fonte de esperança à sociedade contemporânea desorientada. O futuro lhe pertence. Nós, pessoas humanas, instrumentos de Javé, cooperamos e participamos da transformação do mundo! Integrados no corpo de Cristo e seguindo suas pegadas vivenciamos a esperança que desafia e provoca novidade .
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal A Notícia – 08/09/2006