Foi no mês de setembro de 2001 que a população mundial visualizou um dos ataques mais audaciosos provocados pelo terrorismo internacional. Estupefata, a sociedade humana assistiu à destruição das torres-símbolo do capitalismo ocidental, o World Trade Center. Ao relembrar, testemunhamos que ações violentas não só continuam, mas foram intensificadas.
Para justificá-las, os senhores aparentes da história apostam num quadro de mundo dualista, contrapondo os bons e os maus. Porque o Senhor não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém, o Senhor, o coração (1º Samuel 16.7). Quem se arroga o direito de tomar posse da vida de qualidade, por excelência, tende a excluir outras pessoas tidas como representantes do maligno.
À Igreja cristã foi confiado pelo Evangelho o mandato de preservar vidas humanas, atitude esta que é fruto da misericórdia. Não deixa de ser impressionante que tanto os agentes do terror internacional, quanto aqueles que contra-atacam os atores do terrorismo fundamentam seus atos em convicções religiosas. Identificam-se sendo os árbitros sobre o bem e o mal. Anda solto o time de lideranças políticas cegas diante das conseqüências desastrosas das aventuras bélicas ou das práticas do terror. Observamos que o espírito tolo dos dominadores do mundo tem como contrapartida o avanço da solidariedade internacional.
Os discípulos do homem de Nazaré, o Mensageiro da Paz, servem à oferta da paz e ao poder do amor. Vivemos a prática da oposição às políticas universais marcadas pelo fundamentalismo, tanto político, quanto religioso. A sociedade humana, independentemente da cor ideológica e religiosa, é carente de nichos de paz, perdão e de respeito mútuo. O mundo tão conturbado e ameaçado por lideranças incapazes de promover a união entre os povos e cujo desenvolvimento futuro nos parece tão incerto desafia as forças que promovem vida e paz. Quem integra o mosaico da família cristã, assume o compromisso de testemunhar o exemplo de vida de Jesus Cristo. Sua missão foi ecumênica; tornou-se modelo da vivência de paz e da prática de misericórdia. A ação reconciliadora de Cristo não conhece fronteiras, não se atém a limites e supera os obstáculos criados pelo egoísmo e pela intolerância humana.
Comprometidos com a oferta de paz, somos mensageiros de que este mundo é de Deus. Ele faz nascer seu sol sobre os maus e os bons, e chover sobre justos e injustos. Não integramos a orquestra dos senhores do mundo que confinam bons e maus em departamentos específicos. Em meio à ansiedade e o desespero, a fé cristã se concretiza na prática das obras do amor. Identificados com a missão de Deus, preservamos a distância crítica diante de todo o tipo de imperialismo bélico, econômico, religioso e cultural. Relembrando, na via da compaixão articulamos, em conjunto, a política da reconciliação .
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal A Notícia – 22/09/2006