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O Fórum de Reflexão da Mulher Luterana está motivando um amplo movimento de reflexão e encontro em torno do Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher – dia 25 de novembro. Estamos promovendo encontros regionais no Brasil para abordar o tema. Além disso, estamos motivando mulheres, homens e as comunidades para que discutam a questão nos grupos e para que se engajem em alguma manifestação neste dia, ou para que visitem algum trabalho feito por alguma entidade em sua cidade que acompanha mulheres vítimas da violência.   O Fórum está disponibilizando um texto motivador (abaixo), elaborado por Elaine Neuenfeld, para estudo do tema . O texto convida a fazer fuxico – costurar e conversar! falar a verdade e a realidade.O texto orienta as mulheres através da Escritura a dizer Não! ‘Não’ é uma palavra sagrada para as mulheres! porque ainda custa muito a elas dizê-la.( pelo Fórum Pastora Anete Roese)

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Violência contra as mulheres é um tema que deve seguir fazendo parte da agenda dos grupos de mulheres da Igreja. A igreja não pode se omitir diante da responsabilidade de falar abertamente sobre o tema da violência contra as mulheres e assim romper o silêncio cúmplice do sofrimento de tantas mulheres.

Conversar sobre o tema no espaço da Igreja oportuniza que o tema saia do âmbito doméstico e se misture com os assuntos da vida comunitária; permite que o assunto saia do âmbito do cochicho e entre nos espaços públicos e assim responsabilize e comprometa as pessoas em atitudes que busquem a transformação desta situação.

Dinâmica do fuxico:

Em pequenos grupos:

Recortar pedaços de tecido em forma de círculo. Dobrar duas vezes o círculo ao meio para que o pedaço de pano vire um triângulo. Costurar as bordas. Fazer 5 triângulos destes. São as 5 pétalas da flor. Depois, costurar as 5 pétalas umas nas outras para formar a flor.

Enquanto faz a dinâmica do corte dos panos, da costura e da montagem da flor conversar sobre:

– quais as situações de violência que eu enfrentei na vida?

– qual é a minha percepção sobre o tema? Como me afeta a discussão do assunto?

– quais os caminhos e possibilidades que são vislumbradas pelo grupo no enfrentamento e superação da violência contra as mulheres?

Partilha:

Partilhar as conversas dos grupos em plenária. As pessoas que coordenam devem ir sistematizando, amarrando algumas questões e cuidando para que o clima seja de confiança e de cuidado afetivo.

Encerrando…

Para encerrar… orar, abraçar, cantar, chorar…

Ler o salmo 55 como voz de mulheres que sofrem violência.

Soprar para fora do círculo – que o sopro leve as dores, as tristezas, os medos, a solidão, a vergonha… e leve também a cura, o afeto, o carinho, a amizade.


SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO

Porque falar sobre este tema dentro da Igreja? Este é um assunto que tem a ver com a nossa vida de fé? (Baseado no documento: As Igrejas dizem NÃO à violência contra as mulheres, da Federação Luterana Mundial)

Seguramente que sim, é um assunto que tem a ver com as igrejas, uma vez que tudo aquilo que afeta a um dos membros do corpo d Cristo, afeta a todo o corpo. Não é possível pensar que mulheres continuem sendo espancadas, machucadas em seu corpo e tendo a sua integridade física ameaçada e que o silêncio continue a reinar nas nossas igrejas. Já não queremos e não podemos mais ficar com os olhos fechados ou fazendo de conta que não escutamos os gemidos das nossas irmãs que sofrem, muitas vezes em silêncio, por vergonha, por medo, por não encontrarem lugar e espaço para falar de sua dor.

Se quisermos ser igreja que segue o exemplo de Jesus Cristo, o assunto da violência contra as mulheres precisa ser tratado em nossas reflexões, em nossos grupos de estudo. Para tanto, podemos seguir algumas propostas:

1. Aprender a chamar a violência pelo seu nome: pecado. A igreja tem sido o espaço de denúncia para muitas situações de injustiça e de dor. Então, é necessário que se tome uma atitude profética também no assunto da violência contra as mulheres.

2. Refletir sobre as diferentes características que a violência contra a mulher adquire na sociedade e na igreja.

– A violência muitas vezes se cimenta sobre um modelo de família baseado em valores patriarcais, e limitantes em relação às mulheres
– Perceber quais os efeitos que a modernização e a globalização da economia têm sobre as situações de violência contra as mulheres
– Analisar como os meios de comunicação contribuem para intensificar e normalizar a violência

3. Propostas práticas para as igrejas

– Exercitar uma linguagem mais inclusiva para referir-se a Deus. Imagens de Deus que refletem a experiência masculina, que são imagens masculinas, como Pai, Rei, Senhor, Juiz… A metáfora masculina para Deus imprime um gênero para o sagrado, dando supremacia a esta forma de nomear a divindade. Torna-se uma tarefa desafiadora, então, falar de Deus como mistério, como força presente na vida cotidiana das pessoas.

– Ensaiar novas formas e metodologias de trabalhar com textos bíblicos. O uso literal de alguns textos dificulta uma compreensão mais contextualizada da palavra de Deus. Precisamos recuperar, especialmente como luteranas, a capacidade de leitura e estudos de textos bíblicos. Podemos promover reflexões comunitárias que ampliam nossos entendimentos sobre os texto bíblicos, sobre como se misturam vida e texto bíblico. Exemplo: Trabalho de um texto bíblico específico: 2 Samuel 13. A violência sexual que Tamar, a filha do rei Davi, sofre. Desafiar para trabalhar textos que tratam da violência contra a mulher na Bíblia, texto difíceis, textos de terror. Uma forma de abordar estes textos é entendê-los no âmbito do testemunho da história de dificuldades e limitações que são enfrentadas pelo povo de Deus.

4. Dialogar sobre como ajudar as vítimas

– Buscar em conjunto medidas que podem ser tomadas quando uma mulher conta que foi vítima de violência
– Estabelecer redes de ajuda: colocar em contato e reunir diversas organizações que trabalham com vítimas de violência, delegacias, etc…
– Oferecer espaços de conversa, espaços seguros e de confiança onde as mulheres podem abrir seu coração contando suas dores.
– Promover grupos de ajuda mútua, onde as mulheres podem falar abertamente, sem medo de que sua vida vai ser levada para fora dali;
– Nos dias destacados do calendário litúrgico ou normal, falar, pregar ou lembrar em ações ou orações as vítimas e as implicações da violência contra a mulher.
– Prever em orçamento de comunidades, de paróquias, de sínodos, cursos e palestras sobre o tema da violência contra a mulher.

5. O que pode ser feito com os homens agressores? Como trabalhar para que os homens aprendam relações de não-violência?

– Promover grupos de homens nas comunidades, que se reúnem para refletir sobre assuntos que tem a ver com o jeito como foram construídos educados em seu ser de homem.
– Promover conversas pastorais com homens agressores;
– Refletir sobre violência com grupos de jovens, confirmandos, etc, para ampliar a idéia de que podemos nos relacionar sem violência.

6. Liturgias – orações – espiritualidade

– Incluir imagens femininas e outras imagens e metáforas que vão além dos gêneros para falar sobre Deus.
– Pensar em um dia de solidariedade com as mulheres, e celebrar este dia, refletindo sobre o tema da violência contra as mulheres.

7. Textos bíblicos que podem servir de consolo:

Sl 7.1-4; 6. 8-11; 10; 12; 13; 17; 31.14-16; 55; 62. 2-7
Is 40; 41.10-13; 43.1-3; 49.15
Jó 21.7; 9.14-16
Mt 11.28-30; Lc 11.5-13; Ro 8.18-25; Jo 14.27; 16.21-24.

Lei Maria da Penha – lei no. 11.340 de 7 de agosto de 2006. Coíbe a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Secretaria especial de políticas para as mulheres, presidência da república, Brasília, 2006

A Lei 11.340, sancionada no último dia 07 de agosto de 2006, denominada Lei Maria da Penha, cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e traz modificações importantes referentes à pena, à competência para julgamento, bem como à natureza jurídica da ação penal nos crimes de lesão corporal caracterizados como violência doméstica.

A pena máxima para o crime de lesão na violência doméstica passou de 1 ano para 3 anos de detenção, não mais sendo considerado, em conseqüência, crime de menor potencial ofensivo. Portanto, a todo crime de lesão corporal leve contra a mulher praticada no âmbito doméstico não se aplica a Lei 9099/95, afastando-se automaticamente a competência dos Juizados Especiais Criminais. A nova Lei agrava a pena para a agressão perpetrada contra a mulher no espaço doméstico, estabelecendo prisão de até três anos, sendo o agressor julgado em juizados específicos. O agressor ficará sujeito à prisão em flagrante e à prisão preventiva, e as mulheres agredidas poderão ser incluídas no cadastro de programas assistenciais do governo, dentre outras medidas de proteção estabelecidas.

Alguns mecanismos da nova lei:

“ Tipifica e define violência doméstica e familiar contra a mulher; Estabelece as formas da violência doméstica contra a mulher como física, psicológica, sexual, patrimonial e moral; determina que a mulher somente poderá renunciar à denúncia perante o juiz; ficam proibidas as penas pecuniárias (pagamento de multas ou cestas básicas); É vedada a entrega da intimação pela mulher ao agressor; A mulher vítima de violência doméstica será notificada do atos processuais, em especial quando do ingresso e saída da prisão do agressor; A mulher deverá estar acompanhada de advogado/a ou defensor/a em todos os atos processuais.”

Elaboração: Elaine Neuenfeldt