A cada novo ano crescem os investimentos financeiros aplicados para embelezar o visual das ruas, dos jardins e prédios na cidade. Embora vivamos numa sociedade marcada pela secularização, em que a realidade do sagrado é superada pelas manifestações de autodeterminação, permanece o apetite de uma religiosidade que satisfaz as necessidades dos sentimentos. Ainda que avessas à presença de Deus no mundo, são incontáveis as pessoas, sejam elas crentes ou indiferentes, que participam emocionadas nas atividades comunitárias no tempo de Natal.
Enquanto as celebrações natalinas atraem sempre mais e matam a fome por religiosidade, a realidade da paixão e da páscoa de Cristo tende ao esvaziamento. A mística do Natal oferecida no invólucro de melodias harmoniosas entusiasma também as pessoas atéias. E as razões para tanto? Será mera satisfação sentimental relembrando as imagens da festa familiar comovente, no tempo da infância? Ou nos defrontamos com um vazio existencial indicando para pessoas carentes e incapacitadas de preencher o sentido de vida pelo trabalho, pela produção e do acúmulo de bens de consumo? As conseqüências de um mundo nervoso, em busca de maior eficácia de seu sistema econômico e do avanço da tecnologia, impõem à humanidade um desequilíbrio desgastante.
Em decorrência, o sentimentalismo compensatório presente no clima da harmonia natalina, fora e dentro dos espaços eclesiais, supre as necessidades básicas do ser humano insatisfeito e infeliz. Juízos simplórios em relação às necessidades sentimentais, no entanto, estão fora de nossa competência, em especial daqueles que pertencem à família de fé no Cristo, Deus nascido criança em Belém.
Reflito ainda sobre um segundo exemplo acontecido três dias antes do Natal. Foi um belo recado dado por uma criança com oito anos de vida.
Encerradas as apresentações natalinas, é chegada a hora da confraternização. Para quem sente a falta do pão nosso diário, o fato de estar sentado à mesa enfeitada com arranjos natalinos, nos pratos algumas bolachas e mais o lanche, é sinônimo de banquete. Eu caminhava entre as mesas, quando a menina-criança estendeu o seu prato e de forma muito espontânea disse: Tio, pega essa bolacha; podes comê-la! A simplicidade do nascimento da criança em Belém foi eficiente, assim como foi exemplar e eficiente o gesto solidário, sinal do amor desinteressado da criança, integrada no Projeto Caminhar Juntos, na periferia de Balneário Piçarras. O mistério do amor de Deus encontra-se escondido na manjedoura de Belém e na cruz condenatória da Sexta-feira Santa, fora dos muros de Jerusalém. É amor eficiente e exemplar.
Por isso, subscrevo a citação de autoria do estadista europeu Carl F. von Weizsaecker. Ele afirma: Só é possível viver neste mundo, se confiarmos que não permanecerá assim como é. O poder do amor fará que o mundo se transforme naquilo que deve ser. Que renasça a esperança e seja fortalecido o poder do amor em 2007! .
Manfredo Siegle
pastor sinodal do Sínodo Norte-catarinense
da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB)
em Joinville – SC
Jornal A Notícia – 29/12/2006