Sobre a mesa repousa ainda uma revista semanal que circula em nosso país. Vejo na capa a foto e leio seu título principal: São Paulo no buraco. Segue o subtítulo: A cratera do metrô é um símbolo da metrópole que exalta o individualismo, pisoteia o bem comum e avança célere rumo à autodestruição. Menciono um assunto que os meios de comunicação noticiaram amplamente. Vimos imagens, entrevistas com pessoas, governo e empresas responsáveis pela obra do metrô e as suas vítimas. Noticiários, entrevistas, opiniões acirraram os ânimos.
Não sou nenhum conhecedor profundo da realidade desta metrópole nem do metrô em construção e que originou o caos na cidade por vários dias. A revista semanal, no entanto, foi sensível à causa de milhares de pessoas, quando na semana seguinte recebeu de seus leitores várias manifestações concordando com a opinião emitida pela revista. Embora não conheça os detalhes desta obra que deverá beneficiar num futuro próximo o transporte de milhares de passageiros, concordo que Você e milhares de pessoas fiquem indignadas quando a palavra e ação de outros não é mais confiável e, consequentemente, desemboca em tragédias que ameaçam e até tiram a vida.
Tudo isso resulta numa paz relativa, uma paz aparente, uma paz que privilegia apenas quem consegue pagar por ela, enquanto outras pessoas ficam expostas aos riscos de um mundo que vive da máxima: Cada um por si, Deus por todos. Muitos reagem atribuindo a vida a fatalismos ou como se Deus mesmo tivesse a ver com tudo o que de ruim acontece.
No lema do mês de fevereiro deparamo-nos com palavras que tem tudo a ver com o nome que a Igreja recebeu: de confissão luterana. Martim Lutero redescobriu o que deveria ser óbvio na leitura da Sagrada Escritura: Deus tem coração, sim, Deus tem coração para com a miséria humana. É na carta aos Romanos que o reformador reencontra-se com Deus. O lema do mês de fevereiro tem especial relevância nisso: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo.”(Romanos 5.1) A comunidade de Roma é privilegiada e não deveria ter dúvidas sobre o agir misericordioso de Deus. Ela recebe na carta do apóstolo uma palavra do quanto Deus é sensível. O apóstolo, antes chamado Saulo, que o diga. De fiel escudeiro da lei, agora de vida transformada, experimenta a tão almejada paz. Lutero, ao ler esta carta é tocado pelas suas palavras.
Ao falar de paz com Deus, o apóstolo pressupõe relações fundamentadas na verdade. Na minha agenda há uma frase atribuída a Martim Lutero: A paz, se possível, mas a verdade a qualquer preço. Será que o ser humano está disposto a abandonar suas pequenas e grandes mentiras do dia-a-dia e privilegiar a verdade e, consequentemente abrir o caminho à paz?
Deus pagou o preço e mostrou que relações duradouras e de um convívio humano que preza o outro e vive pelo outro tem a ver com a verdade. Já na criança da manjedoura de Belém e também no Jesus adulto, de Nazaré até Jerusalém, deparamo-nos com o testemunho de um Deus comprometido com a verdade e que necessariamente conduz à paz.
Individualismo e autodestruição são realidades de um mundo que ainda desconfia deste Deus. Foi Ele, no entanto que trouxe luz à vida do apóstolo, do reformador Martim Lutero e deseja que também as relações humanas de hoje sejam iluminadas pela verdade que tem como conseqüência uma paz mais duradoura: paz com Deus e comprometida com o próximo.
Dietmar Teske
Pastor Sinodal
Sínodo Sul-Riograndense