“A eliminação de todas as formas de discriminação e violência contra as meninas” foi o tema central da 51ª Reunião da Comissão do Status da Mulher da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Nessa ocasião, a pastora da IECLB e professora de Teologia Feminista da EST, Dra. Elaine Neuenfeldt, foi uma das representantes da Federação Luterana Mundial (FLM). Como comissão do Conselho Econômico e Social (Ecosoc) da ONU, a Comissão do Status da Mulher (CSW, sigla em inglês) se reúne todos os anos durante duas semanas, com representantes de 45 governos eleitos. É considerado na ONU o principal espaço para as decisões do âmbito de gênero, para o qual recebe apoio da Divisão para o Avanço de Mulheres. Neste ano, aproximadamente 1.500 ONGs estiveram representadas na Comissão, reunidas de 26 de fevereiro a 9 de março.
Elaine concentrou a sua participação nas questões de direitos reprodutivos e sexualidade, violência contra as mulheres e meninas. Procurou também participar de debates que representavam temáticas bastante diferentes de sua realidade e experiência cotidianas, como por exemplo, a questão da mutilação genital feminina e as discussões dos direitos das mulheres nas sociedade muçulmanas.Numa oficina sobre “O que mulheres religiosas fazem com textos e tradições religiosas difíceis?”, promovida pela Coalizão Ecumênica de Mulheres, o debate foi em torno de assuntos como:
– Financiamentos para a equidade de gênero e empoderamento das mulheres;
– Escola da violência: como pessoas jovens aprendem seus papéis;
– Gravidez adolescente e mortalidade materna na América Latina;
– A igualdade: ganho ou perda. Promovido pelo Comitê Intenacional Islâmico para mulheres e crianças;
– Experiências de câmbios – com relatos de experiências concretas de África do Sul, Zimbawe, Quênia e Peru.
Em diversas oficinas sobre direitos reprodutivos, aborto e violência sexual, promovidas por diferentes entidades de direitos humanos, houve o compartilhar de experiências da Nicarágua, Angola, Tanzânia, Peru, baseadas em pesquisas de especialistas de cada um destes países. A realidade de discriminação e violência é comum, especialmente onde as leis de penalização do aborto são mais restritivas, aponta Elaine Neuenfeldt.Aprendizados e desafios – “A possibilidade de participação de uma reunião desta magnitude proporcionou muitos momentos de intenso aprendizado e novos desafios. Discutir com pessoas que vivem e experimentam realidades que não fazem parte de meu cotidiano foi uma experiência muito profunda de aprendizado e de desafio, especialmente nas minhas posturas feministas e na vivência de minha espiritualidade, como mulher, cristã, branca, de cultura ocidental”, observa Elaine.
Conforme ela, as discussões sobre a mutilação genital feminina é um tema que está na agenda das organizações e espaços das mulheres na ONU. É uma prática que deve ser discutida tomando em conta aspectos culturais, religiosos, sociais e econômicos. Elaine reforçou uma percepção pessoal de que, em primeiro lugar, deve-se escutar a fala das mulheres implicadas. Estimativas apontam que, em alguns países africanos, 98% das mulheres têm algum tipo de mutilação genital.Outro tema bastante controverso e constante nas agendas globais dos movimentos de mulheres, agrega Elaine Neuenfeldt, é a questão dos casamentos prematuros, antes dos 18 anos. Geralmente, as meninas são forçadas ao casamento, por diferentes causas: situação de empobrecimento familiar que empurra a menina para o sustento de um homem, ou que possibilitam a troca econômica – o dote, ou por costumes e tradições culturais, que dão a menina em casamento, ou que a obrigam a casar devido à gravidez. – Esta realidade trás uma série de conseqüências negativas para a menina, de ordem psicológica, em sua saúde, no acesso à educação, colocando-a muitas vezes em situações de extrema fragilidade e riscos de violência e abandono.
Como feminista e militante da igualdade de gênero, Elaine diz se opor a uma postura que procura entender estas situações como um problema que afeta somente mulheres da África ou Ásia. “As violações aos direitos humanos das mulheres é um assunto que deve ser discutido em todos os âmbitos e espaços. Cabe uma postura de aprendizado e entendimento que escute o que as vozes das mulheres da África estão dizendo e, com uma postura de sororidade e solidariedade, unir-se às suas lutas”, defende Elaine. Por outro lado, reforça, “inserir-se nestas reflexões implica em olhar para a nossa realidade latino-americana e ver como as situações de violência e discriminação por causa de tradições e costumes afetam a vida de tantas mulheres e meninas”.Homens e meninos – Outro momento de aprendizado e novidade para Elaine foi escutar sobre o envolvimento de homens e meninos em posturas ativas que enfrentam a discriminação e as situações de violência contra as mulheres e meninas. Um exemplo despertou em Elaine a possibilidade de um trabalho bem concreto: Uma projeto impulsionado na África do Sul trabalha com campeonatos de futebol, que, em meio aos jogos, incluem campanhas, momentos de formação, partilhas que desafiam os homens a se solidarizar com as mulheres, e tomar posturas que digam um basta a tanta violência. “Aqui se mostra também a importância de levar esta discussão para outros espaços, que não os tradicionais ‘momentos de formação’, como cursos, encontros, etc. especialmente, quando se trata de trabalhos com grupos de jovens”, resume Elaine.
Fonte: relatório de Elaine Neuenfeldt/EST