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“Vocês estão nas minhas mãos assim como
o barro está nas mãos do oleiro. Sou eu,
o Eterno, quem está falando” (Jeremias 18.6).

A presente geração enxerga com os próprios olhos a grande capacidade do ser humano. A cada dia surgem novos avanços científicos. Um exemplo é a área da comunicação: o computador, a telefonia celular e a internet transformaram em pouco tempo os hábitos de boa parte da população mundial. Outra área é a da manipulação genética: a transgenia, a clonagem e o mapeamento dos códigos genéticos alteram profundamente os rumos da medicina, da agricultura e da pecuária, entre outros. A corrida é pelo acesso às últimas novidades. Mas, que reflexão fazemos diante destes fatos? Aplaudimos a genialidade do ser humano ou ficamos preocupados com os riscos que as inovações trazem consigo?

No início da Bíblia encontramos o relato da criação. Ali diz que Deus criou o mundo e tudo o que nele há e que ele próprio, Deus, viu que tudo era bom. Quando Deus cria o homem e a mulher, ele os faz a partir da terra e os faz à sua imagem e semelhança. Ou seja, ali não há dúvidas a respeito de quem é o Criador e de quem é a criatura. Ao mesmo tempo, porém, é concedida ao ser humano uma capacidade criativa, complementada com a tarefa de cuidar da criação. Em função desta capacidade criativa, diferentemente dos pássaros que fazem os seus ninhos sempre iguais, cada pessoa concebe o seu próprio modelo de casa. Daí pode-se concluir que a criatividade do ser humano é dádiva de Deus.

De diversas maneiras, a relação entre Criador e criatura é retomada ao longo da Bíblia. Também sabemos que as pessoas podem fazer bom e mau uso da sua inteligência. Um dia o profeta Jeremias foi convidado para ir à casa do oleiro (Jr 18. 1-12). Lá, enquanto o oleiro moldava o pote de barro e o refazia até que ficasse bom, Deus instruiu o profeta: é exatamente isto que Deus quer fazer com o seu povo. Ou seja, Deus continua sendo o Criador e o ser humano a criatura. A capacidade criativa do ser humano apenas é positiva enquanto ele se entende nas mãos de Deus e se deixa moldar por ele. Cada vez que esquecemos deste princípio nos tornamos potencialmente perigosos para nós mesmos, para o nosso semelhante e para o conjunto da criação.

O testemunho da fé cristã, a fidelidade a Deus, o cumprimento do primeiro mandamento ou, no mínimo, o amor aos bisnetos pedem que façamos uma reflexão profunda sobre os avanços tecnológicos e as suas conseqüências. Por vezes somos demasiadamente ávidos e ingênuos em assimilar e enaltecer tudo o que aparece pela frente. Mas, os riscos que envolvem a vida do ser humano e a ameaça de uma degradação irreversível do meio ambiente cobram de nós humildade e responsabilidade. A criação de Deus e a criatividade do ser humano existem em favor da dignidade da vida. E isto não para alguns e não só para as pessoas do nosso tempo. O que fazer? Já é um bom começo nos colocarmos de joelhos diante de Deus para sermos lembrados do lugar que nos cabe. Um segundo passo é se informar e analisar com mais profundidade as implicações que as novidades trazem consigo. Por fim, cabe lutar por transformação ali onde for possível, a começar por nós mesmos.

Nilo O. Christmann