Leitura Bíblica Básica: Gálatas 2.16
Outras Leituras: romanos 2.21-26
Autor: P. Elton Pothin
e-mail:
Origem: CEJ – Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville – SC
Data da pregação: 30/09/2007
Data Litúrgica:
Prédica:
TEMA: REFORMA LUTERANA
1. Introdução
Nós somos Igreja Evangélica de Confissão Luterana. Nós chamamos assim porque a nossa Igreja surgiu na Alemanha no século XVI (16) a partir de idéias e posicionamentos de um Monge Agostiniano chamado Martin Lutero. Sobre a vida e sobre os pensamentos de Martin Lutero queremos conversar com vocês neste culto.
2. Vida
Martin Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, na Alemanha. No dia seguinte ao seu nascimento, foi batizado com o nome de Martin. Era o segundo filho dentre muitos irmãos. Seu pai mudou com a família para Mansfeld, onde chegou a transformar-se num bem sucedido mineiro, dono de vários fornos numa mina de cobre.
Martin freqüentou a escola em Mansfeld a partir dos cinco anos de idade. Ali, aprendeu Latim e os fundamentos da fé cristã. Depois, foi para a escola em Magdeburgo e, em 1497, foi estudar em Eisenach. Em abril de 1501, Martin ingressou na universidade em Erfurt. Estudando na Faculdade dos Artistas, formou-se Mestre em Artes em 1505. Depois disso, por vontade do pai, iniciou o curso de direito.
No dia 02 de julho de 1505, ao retornar de uma visita aos seus pais, em Mansfeld, Martin foi surpreendido por uma tempestade no meio do caminho. Um raio caiu perto dele e atirou-o ao chão. Poucos dias antes, um amigo seu havia morrido por causa de um raio que o atingira. Assustado, mas também feliz por estar vivo, Martin faz a promessa de tornar-se monge. O pai de Martin Lutero ficou furioso com esta promessa e decisão. Mas, mesmo contra a vontade de seu pai, Martin ingressou no Convento dos Eremitas Agostinianos na cidade de Ehrfurt em 17 de julho de 1505, sendo ordenado padre em 04 de abril de 1507.
Em 1508, aos 25 anos, foi para Wittenberg, onde permaneceu a maior parte de sua vida sendo professor de teologia. A 13 de junho de 1525, aos 42 anos, casou-se com Catarina Von Bora, uma ex-freira. Tiveram seis filhos. A 18 de fevereiro de 1546, aos 62 anos, Martin Lutero falece em sua cidade natal, Eisleben.
3. Obra
3.1. Reforma Teatro – Reforma da Igreja
– Ei, Carlos, já que você é tão inteligente, você sabe me dizer quem foi o reformador de nossa igreja?
– José, nossa igreja foi reformada faz pouco tempo. Mas eu não sei quem fez a reforma. E foi uma reforma muito boa. Olha só para ela, como ficou bonita (mostra a igreja). Uma cor bonita, vitrais mais bonitos ainda. E as pessoas que vem na igreja? Até parece que elas também ficaram mais bonitas.
– E este ano foram reformados os bancos, que escorregavam e faziam um barulhão danado quando as pessoas sentavam e levantavam no culto.
– Eu não tô falando disso, Carlos. Eu tô falando do Martin Lutero, que fez uma reforma na Igreja Católica de 1500, tirando as coisas que eram contra a Bíblia e que os padres e bispos faziam.
– Ah, bom. Agora você explicou melhor. Claro que eu sei quem foi Martin Lutero. E já que tu é tão inteligente, diga-me qual coisa poderia ser o símbolo da reforma?
– Sei lá. Nunca me disseram que a reforma tivesse um símbolo.
– Pois aqui está (mostra uma vassoura). Uma vassoura. Martin Lutero quis varrer de dentro da Igreja Católica Romana tudo o que era sujeira. Mas não foi compreendido pelo Papa e pelos líderes da Igreja Católica da época. Quando você for varrer a casa, você pode lembrar do Martin Lutero e que nossa igreja surgiu por causa de uma faxina que ele quis fazer na Igreja. Reforma é varrer a sujeira para fora – (Carlos varre o José para fora)
3.2. O início – as indulgências Teatro – Venda de indulgências
– Venham, amigos! Compre aqui sua carta de indulgência. Vejam sua autenticidade (mostra papel). Assinada pelo próprio papa e com o selo papal. Diga adeus ao fogo do inferno! Diga adeus ao purgatório! No momento em que o dinheiro tinir na caixa, a alma salta do purgatório para o céu.
– Eu quero uma!
– Eu também!
– Duas para mim. Uma prá mim e outra para minha falecida avó!
– Calma! Calma! Tem para todos! Façam fila, por favor!
O início do movimento da Reforma deu-se em 31 de outubro de 1517, quando Martin Lutero fixou 95 teses questionando a venda de indulgências. A Indulgência que era um documento da Igreja assinado pelo Papa que dava a quem o comprasse o perdão dos pecados. Perdoados os pecados, o cristão teria a salvação eterna, livrando-se do purgatório e das chamas do inferno. Através da venda das indulgências, a Igreja conseguia arrecadar muito dinheiro.
Lutero revolta-se contra esta exploração da fé das pessoas. Escreve 95 teses contra a venda de indulgências. Em suas teses afirma:
– Vã e inútil é a confiança da salvação conferida pelas cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa dessem sua alma como garantia das mesmas. (tese 52)
E Lutero aconselha aos cristãos:
– Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências. (tese 43)
Lutero afirmou ao longo de sua vida que somente a fé em Jesus Cristo salva as pessoas. Assim também nós hoje, como igreja evangélica luterana, continuamos afirmando: somente a fé em Jesus Cristo salva. E somos contra toda e qualquer forma de transformação da fé num negócio, pois não é possível negociar com Deus. Deus nos oferece Jesus Cristo para nossa salvação não porque nós merecemos pelo nosso bom comportamento ou porque dou bastante dinheiro para a igreja, mas porque Deus quer e porque ele nos ama como seus filhos e filhas.
Teatro – Casas no céu
Conta-se que, certa vez, um homem muito rico morreu. Chegou no céu e Deus foi lhe apresentar o lugar onde ele iria morar por toda a eternidade e também a casa onde ele iria ficar. Foram caminhando por um caminho muito florido e bonito. Logo adiante, avistaram uma casa enorme e muito bonita. O homem pensou consigo mesmo: Só pode ser esta a minha casa. Mas Deus foi passando sem fazer nenhum comentário sobre a casa. E o homem perguntou:
– Deus, de quem é esta casa?
– Ah, esta é a casa da Maria, sua empregada. Lembra dela?
– Claro. Puxa, que casa bonita ela ganhou.
E o homem pensou para si mesmo: Se a Maria ganhou esta casa tão grande, eu vou ganhar um palácio.
Foram adiante e, no caminho, viram outra casa – também bonita e muito grande, mas um pouco menor que a primeira. E Deus disse:
– Esta é a casa do José, aquele motorista de táxi lá do ponto perto de sua casa.
E foram adiante. E o homem pensando: Meu palácio deve estar logo adiante. Foram seguindo e, ao lado do caminho, adiante, avistaram um pequeno barraco, velho, mal acabado, caindo aos pedaços. – Nossa, que horror , pensou o homem ao ver o barraco. Coitado de quem vai ganhar este barraco caindo pelas tabelas. E Deus parou na frente do barraco e disse ao homem:
– Esta é a sua casa!
– Mas como? Não pode ser! A Maria, uma simples empregada, ganhou aquele casarão. O José também ganhou uma baita casa! E eu vou ganhar este barraco? Não pode ser, não é justo!
– Meu caro. Aqui no céu nós construímos as casas de acordo com o material que nos mandam da terra. Quanto maior o bem que você fizer, mais material. Quanto mais boas obras, mais material. Como você não fez o bem nem muitas boas obras; pelo contrário, foi avarento, mesquinho e egoísta, o material só deu para construir este barraco.
Esta estória parece muito bonita e até tendemos a concordar com ela. Mas ela nos ensina muitas coisas erradas.
1º – Nos diz que Deus irá nos tratar de forma diferenciada no céu. Bem, primeiro, ninguém nunca voltou do céu para nos contar como é lá. Segundo, a Bíblia nos diz em Gálatas 3.27,28 Porque vocês foram batizados pra ficarem unidos com Cristo e assim se revestiram com as qualidades do próprio Cristo. Desse modo não existe diferença entre judeus e não-judeus, entre escravos e pessoas livres, entre homens e mulheres; todos vocês são um só por estarem unidos com Cristo Jesus. Ora, se a Bíblia diz que não há diferença de tratamento entre as pessoas, como iria Deus fazer diferença no céu?
2º – Não somos salvos pelas boas obras que fazemos. Ouvimos da leitura bíblica que somente a fé em Jesus Cristo pode nos salvar. Em Efésios 2.8 está escrito: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé. E, em Romanos 3.28, Paulo diz: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independentemente das obras da lei. E é isso que nós, como igreja, afirmamos.
E sobre a salvação pela fé e sobre as boas obras, Martin Lutero diz com clareza:
Deus não exige de nós nenhuma obra a não ser a fé em Cristo; com isto ele se satisfaz. Com isso, lhe damos a honra como o gracioso, misericordioso, sábio, bom, verdadeiro, etc. Depois disso, não pense em outra coisa que fazer para o próximo o que Cristo fez para ti. Volta todas as tuas obras e toda a tua vida ao próximo. Procura onde há pobres, doentes, e deficientes e ajuda-os. O exercício da tua vida seja que de ti aproveite quem precisa do teu corpo, honra e bens. Saiba que servir a Deus não é outra coisa que servir ao próximo…
A fé não pergunta se é preciso fazer boas obras. Porque antes de perguntar ela já as fez e está sempre fazendo. Quem, porém, não faz estas obras é uma pessoa sem fé, tateia e procura ao redor de si a fé e as boas obras, mas não sabe o que é fé nem o que são boas obras, e, mesmo assim, faz muita conversa fiada a respeito. (LUTERO)
3.3. Concepção de Trabalho
Teatro – Trabalho –
(Duas pessoas com enxadas trabalhando) Ai, que dor nas costas! Franz, esta dor nas costas vai acabar me matando. Ai, maldito trabalho.
– É, Fritz, infelizmente nós temos que trabalhar. Isto só pode ser castigo. E o pior é que eu ainda não sei o que fiz de tão errado para merecer este castigo.
– Gostaria de saber quem inventou o trabalho! Certamente era alguém que não tinha nada para fazer! Ai, que dor nas costas! (voltam a capinar e saem do altar)
Assim era encarado o trabalho na época de Lutero. Algo ruim, um mal necessário. Mas Martin Lutero mudou esta visão do trabalho. Ele disse que todo trabalho é um BERUF, uma vocação, um chamado. Através do trabalho, cada pessoa tem a oportunidade de servir a Deus e ao próximo, pois não trabalha somente para si mesmo, para seu próprio sustento, mas produz também para os outros. Deus chama a cada um de nós para servir ao próximo através de nosso trabalho. Por isso, o trabalho não é mais castigo ou mal necessário, mas possibilidade de realização pessoal e forma de servir a Deus.
– Eu sou padeiro. Do meu pão comem muitas pessoas. Se não fosse por mim, muitos não comeriam. Fazendo pão, ajudo os outros e ganho meu sustento.
– Eu sou agricultor. Com meu trabalho, produzo muitos litros de leite para centenas de pessoas. Sem mim, muitos não teriam leite para beber. Produzindo leite, ajudo os outros e ganho meu sustento.
– Eu sou operário. Trabalho numa fábrica de automóveis. Com meu trabalho, muitos ônibus e carros são produzidos. Sem mim, as pessoas teriam que andar a pé. Ajudando a fabricar automóveis, ajudo os outros e ganho meu sustento.
– (Neste momento, Fritz volta ao altar) É, pode até ser que o trabalho seja uma coisa boa, uma forma de servir ao próximo e a Deus. Mas bem que eles não precisavam ter inventado a enxada. Ai, que dor nas costas.
3.4. Música
Na época de Lutero, as missas eram rezadas em latim. Também os hinos nas missas eram cantados em latim. A maioria não entendia latim, não sabia ler nem cantar em latim. Nas missas, só cantavam o refrão Tem piedade de nós Senhor em latim. Antes da reforma, na missa só cantavam coros de religiosos – monges ou padres, que cantavam na língua que o povo não entendia. (Neste momento, os confirmandos cantam o refrão):
Laudate omnes gentes, laudate Dominum.
Por isso, Lutero defendia que as celebrações deveriam ser feitas em língua alemã para que todos entendessem e pudessem participar ativamente do culto. Por isso, escreveu hinos em língua alemã e incentivou seu uso nos cultos. Lutero dizia: Acredito que nenhum cristão ignora que cantar hinos sacros é coisa boa e agradável a Deus. Por isso, para fazer o começo e para estimular outros músicos, melhor do que eu, compus alguns hinos. Surgem também corais cuja finalidade é ensinar à comunidade os novos hinos e cantar estes hinos com a Comunidade.
Escreve o pastor Claus Dreher: Foi com Lutero que o canto da comunidade, facilitado pelo coral, ganhou espaço no culto. Até então só cantavam no culto os coros de religiosos, em línguas que o povo não entendia. Com sua reforma do culto e com a tradução da Bíblia para a língua do povo, Lutero queria que a comunidade entendesse o que se dizia e o que se cantava no culto. Por isso, ele e seus companheiros começaram logo a compor hinos com os quais a comunidade pudesse aprender e expressar a sua fé. (Neste momento os confirmandos cantam e, após, ensinam a toda a comunidade o refrão:)
Louvemos todos juntos o nome do Senhor.
3.5. Educação
Em muitos lugares onde nossa igreja se faz presente, observamos algo interessante: ao lado de muitas igrejas temos a escola. Aqui em Joinville, praticamente em todas as igrejas havia um jardim de infância, inclusive aqui na Martin Luther (mostrar foto na transparência)
Qual a origem disso? Está em 1517, com Martin Lutero. Lutero considerava de vital importância a alfabetização e a educação de todas as pessoas. Considerava que é necessário educar os jovens para que venham a ser bons profissionais e bons governantes. Lutero queria também que todos soubessem ler e escrever para poderem entender a Bíblia.
Na época de Lutero, havia poucas escolas e poucas pessoas freqüentavam a escola. Os filhos deviam ajudar os pais nos trabalhos na lavoura e em casa, não perder tempo precioso indo à escola. Devido a esta resistência dos pais, Lutero defendia que as aulas deveriam ser de 01 ou 02 horas diárias.
Dizia Lutero: Diariamente nascem crianças e crescem desordenadamente, mas não há quem se dedique à juventude e lhe dê formação. E o diabo se utiliza da ignorância do povo e do descaso do governo pra destruir a juventude com a crença em ídolos e falsos deuses. Por isso, Lutero dizia que ao lado de cada igreja seja construída uma escola. Lutero pede às autoridades municipais para que mantenham escolas e aos pais para que levem seus filhos à escola. Aos prefeitos da época, Lutero escreve: seria bom e justo que sempre que se dê um florim pra a luta contra os turcos, se dêem cem para a educação.
Nós somos herdeiros da reforma luterana e dos pensamentos de Lutero. Por isso nossos antepassados construíram escolas e educaram seus filhos. Por este fato, também nós hoje, como luteranos, nos preocupamos com a educação de nossos filhos/as. Nosso dever hoje é continuar neste caminho para construirmos uma vida melhor para todos.
3.6. A Bíblia
Para Martin Lutero, a Bíblia, e somente a Bíblia, deveria ser a norma de fé do cristão. Só a Bíblia tem a verdade da salvação. Ela é porta-voz da Palavra de Deus. No tempo de Lutero, a Igreja Católica Romana havia colocado duas fontes para a revelação da vontade de Deus: a Bíblia e a tradição da Igreja. Lutero protestou contra isto, colocando a Bíblia, e somente a Bíblia como norma e orientação da vida do cristão. Dizia Lutero:
Contra todos os ditos dos Pais da Igreja, contra a arte e a palavra de todos os anjos, seres humanos e diabo, levanto a Escritura e o Evangelho. Aí estou, aí me vanglorio do Evangelho: A Palavra de Deus me é superior a tudo. (confirmando levanta a Bíblia enquanto outro fala esta frase)
Baseado na Palavra da Bíblia, Lutero criticou a Igreja Católica Romana de sua época, principalmente no que dizia respeito ao comércio e à venda do perdão de Deus. Lutero criticou a autoridade da Igreja e do Papa baseado na Sagrada Escritura. Na cidade de Worms, diante do Imperador e das autoridades da Igreja da época, Lutero foi chamado para negar suas acusações contra a Igreja. Mas Lutero disse:
Já que vossa Majestade e vossas excelências desejam uma resposta breve, vou responder-vos sem quaisquer chifres e dentes: Se não for convencido por meio do testemunho das Escrituras e por argumentos absolutamente racionais, então, em vista das passagens das Sagradas Escrituras, eu me sinto dominado pela minha consciência e prisioneiro da Palavra de Deus. Por isso mesmo, não posso e não quero renegar nada. Deus me ajude. Amém.
Lutero também considerava que todos deveriam ler a Bíblia. Por isso, a traduziu par o alemão, para que todos pudessem Ter acesso à sua leitura. Dizia Lutero que a Bíblia pode ser entendida por todos, pois o Espírito Santo é o escritor mais simples que existe.
– Ei, Carlos, você sabe qual a diferença entre a Bíblia que as pessoas da nossa igreja usam e as outras bíblias?
– Não, não sei. Qual é?
– É que muitas das bíblias das pessoas da nossa igreja estão cheias de mofo e poeira. (Neste momento, um confirmando fica ao lado dos dois e pega uma bíblia cheia de pó de giz e bate em cima dela com a mão).
Infelizmente, a prática de ler a Bíblia se perdeu em muitas das famílias de nossa Igreja, de tal forma que se enche de poeira e mofo em nossas estantes, armários ou gavetas. Precisamos aprender de Lutero e voltar à prática da leitura diária da Bíblia.
Confirmandos, 2007