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Leitura Bíblica Básica: Êxodo 17.1-7
Outras Leituras: Romanos 5.1-11
Autor: P. Elton Pothin
e-mail:
Origem: CEJ – Paróquia Martin Luther
Cidade: Joinville – SC
Data da pregação: 24/02/2008
Data Litúrgica: 3º Domingo da Quaresma

Prédica:
Prezada Comunidade cristã aqui reunida.

O versículo 1 de nosso texto diz: Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo. A tradução da Bíblia na linguagem de hoje não usa o termo justificação. O substitui por aceitação. Então nós lemos assim: Agora que fomos aceitos por Deus pela nossa fé nele, temos paz com ele por meio do nosso Senhor Jesus Cristo. Ser justificado é o mesmo como ser aceito. Este texto de Romanos é um dos principais textos que serviu de base para todo movimento da reforma luterana, pois nos fala da justificação/aceitação por graça e fé, por meio de Jesus Cristo.

Este texto deixa claro que Deus ama as pessoas sem olhar seus méritos. Ele aceita gente imperfeita, culpada, – seus inimigos, diz o texto. Também os evangelhos deixam claro que Deus ama a todos, conforme podemos ver em Mateus 5.45 e Lucas 6.35: Porque ele (Deus) faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuva sobre justos e injustos.; Pois ele (Deus) é benigno até para com os ingratos e maus. Deus abre os braços em Jesus Cristo e acolhe a todos. Perdoa-lhe os pecados, assim como o pai o fez na parábola do filho pródigo (Lucas 15).

E, em Romanos 5, Paulo fala do resultado da nossa aceitação por Deus: temos paz com Deus. Eu pergunto: Será que temos necessidade disso? – de ter paz com Deus?

Vivemos num mundo em que explode a violência. A palavra PAZ aparece em cartazes, carregados em passeatas de protesto contra os assassinatos nas nossas cidades. Desejamos muita paz aos amigos e às amigas por ocasião do início de um novo ano. Quem nos dera viver em paz! Ou será que a paz não passa de ficção, de sonho – bonita, mas irreal, inalcançável? Todos nós queremos a paz. Paz com os nossos vizinhos! Paz com os nossos concidadãos! Paz entre os povos. Paz na nossa família, com nossos pais, filhos, marido, esposa. Paz consigo mesmo também!

E paz com Deus? O que significa ter paz com Deus? Se o apóstolo Paulo nos falasse de como fazer paz nesse nosso mundo, no nosso Brasil, em nossa família, ele estaria atendendo uma demanda urgente. Mas paz com Deus? Qual a importância de ter paz com Deus?

E nós podemos até questionar: Por acaso sou eu um inimigo de Deus? Quando foi que briguei com ele para fazer as pazes? Muito pelo contrário! Eu confio em Deus, e mesmo que às vezes ando esquecido dos meus compromissos com Ele, não tenho raiva de Deus, não! Eu me dirijo em oração a ele, invocando-o: Pai Nosso! Por que Deus deveria fazer as pazes comigo, se eu não briguei com ele, se eu não odeio Deus?

Mas então eu comecei a pensar: Quem poderiam ser os tais inimigos de Deus que necessitam de aceitação e justificação para ter paz com ele?

Logo pensei nas pessoas que culpam Deus por toda desgraça que acontece no mundo e em suas vidas. Pessoas revoltadas e infelizes consigo mesmas, com tudo e todos. E o culpado é sempre Deus. Porque Deus permite tanto sofrimento? Onde está Deus que permitiu que minha firma falisse, que eu não tenha emprego – ou, se eu tenho um emprego, porque não tenho um emprego melhor -, que permitiu que eu ficasse doente, que permitiu que meu matrimônio esteja em crise, que eu tenha problemas de relacionamento com meus pais/filhos? Lembro do povo de Israel no deserto, que também culpava Deus por tudo, como ouvimos na leitura bíblica de Êxodo 17.1-7 – ver também Êxodo 16.1-3, por exemplo.

Outra história que me fez ver inimigos de Deus, é a da Paixão/sofrimento de Jesus. É uma lembrança especialmente oportuna nesta época da quaresma. Quem lê essa história, vai observar que Jesus tinha muitos inimigos. O Sinédrio, o povo, Pôncio Pilatos, os soldados romanos todos se unem contra ele para pregá-lo na cruz. É verdade que uns eram mais inimigos do que outros. Mas onde estão seus seguidores? Fugiram, ficaram observando de longe, se misturaram ao povo, calaram, brilharam por sua ausência. Ninguém foi em defesa de Jesus. Sim, lendo os evangelhos desde o início, vamos perceber que o sofrimento de Jesus começou muito cedo. Já o menino Jesus sofre exclusão: Nasce numa estrebaria, e teve logo mais fugir para o Egito a fim de escapar da perseguição de Herodes (Mateus 2.13-23). Jesus mesmo se queixa: as raposas tem seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça. (Mateus 8.20).

Quando penso e analiso o Evangelho desta forma, chego a uma conclusão: Se inimizade contra Deus é isto, então também eu não escapo sem culpa.

Inimigos de Deus são todas aquelas pessoas que desrespeitam a vontade de Deus, que não se importam com ele, que colocam seus interesses particulares acima dos interesses de Deus, que se omitem, que cruzam os braços, que consideram Deus supérfluo ou até um estorvo.

Numa palavra, todos nós somos inimigos de Deus e precisamos fazer as pazes com ele, precisamos da sua aceitação, do seu perdão. 1 João nos lembra isto de forma clara, quando diz no capítulo 1, versículos 8 e 10: Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo (Deus) mentiroso, e a sua palavra não está em nós. Existe uma inimizade a vencer, uma reconciliação a celebrar, paz por fazer.

É disto que Paulo fala em Romanos 5. Deus fez paz com seus inimigos – fez paz conosco. Não se vingou naqueles que mataram Jesus. Não acabou com os criminosos que desprezaram sua vontade e autoridade e que ficaram em dívidas com ele. Ofereceu e oferece a todos seu perdão, sua paz, sua graça – também a nós que tantas vezes agimos à semelhança dos adversários de Jesus naquele tempo.

Jesus não morreu por pessoas justas, boas, pessoas que obedecem às leis. Ele morreu por pessoas indignas. Ele não morreu por amigos. Morreu por inimigos. Isto parece ser algo absurdo, estúpido, um contra-senso. Inimigos devem ser mortos, combatidos, exterminados. Assim nós pensamos, assim nós agimos, hoje e antigamente. E a conseqüência são as guerras intermináveis, o ódio de uns aos outros, desentendimentos de toda natureza. Cristo age diferente. Morre perdoando a seus carrascos, sacrificando-se em favor dos inimigos de Deus.

E isto muda tudo. Tudo passa a ser diferente. Pois se Deus é nosso amigo, não há nada mais que possa nos causar medo. Paulo fala aqui da esperança de participar na glória de Deus. A morte deixa de ser o fim das coisas. Nós seremos levados ao sepulcro, sim. Mas nosso futuro é a ressurreição.

Enquanto acreditamos no amor de Deus, podemos resistir aos contratempos da vida. Não vamos entregar os pontos após os primeiros fracassos – nem após os últimos. Se crermos, teremos forças para lutar, para agüentar sofrimento, teremos perseverança, teremos esperança, como diz Paulo nos versículos 3 e 4.

E isto é resultado de ter paz com Deus. Perguntamos há pouco: qual a importância que tem ter paz com deus? Se Deus nos perdoou e aceitou em Jesus Cristo, então tudo é diferente. Vamos tornar-nos serenos, confiantes, resistentes, esperançosos e agradecidos pela salvação gratuita dada por Deus.

Que importância tem ter paz com Deus? Paz com Deus é a condição para a paz na terra. Pois, quem foi reconciliado com Deus já não pode odiar seu próximo. 1 João 4.10 diz de forma clara: Se alguém disser, amo a Deus, e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem ao vê.

Paz com Deus! Parece pouco! Parece coisa sem importância! Mas é essencial para que haja paz na terra. Que possamos buscar esta paz com Deus todos os dias de nossa vida.

Amém.