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A bioética prioriza a proteção da vida. “A partir de uma visão cristã, somos chamados a viver de modo fraterno com o ambiente que nos rodeia, cuidando da água, das florestas, da preservação do solo. Faz-se necessário afirmar que a dignidade do ser humano é um bem do qual a igreja, em sua proclamação e ação, não pode abrir mão. A dignidade da vida humana não é propriedade nem conquista, mas é dádiva de Deus. Diferente da visão utilitarista, o imperativo do momento é viver de modo grato e alegre, satisfeito com aquilo que temos. Inversamente, a ganância ilude-se ao pretender, falsamente, preencher o vazio da existência humana. A ganância também é um motor propulsor do desastre ambiental. Assim, para a bioética, o saber é colocado a serviço e para o resgate da dignidade do ser humano e do ambiente em que vive. Saber-nos acolhidos por Deus nos torna solidários com os seres que Deus colocou ao nosso lado para vivermos em comunhão respeitosa com eles”, afirma a IECLB, no documento “O cuidado pela vida – posicionamento sobre bioética”, proposto pelo grupo assessor de Teologia e Confessionalidade, foi submetido aos pastores e pastora sinodal e aprovado pela Presidência da Igreja. O documento oficial é assinado pelo pastor presidente da IECLB, Walter Altmann.

Ao divulgar o seu posicionamento sobre bioética, a IECLB se coloca frente a questões altamente polêmicas como os transgênicos, a sobrevivência do planeta, o futuro da humanidade, a fome, a discriminação racial, o combate à violência, a clonagem, a eutanásia, entre outros. Bioética é o estudo transdisciplinar entre biologia, medicina e filosofia – dessa última, especialmente as disciplina da ética, da moral e da metafísica. O termo foi construído a partir das palavras gregas bios (vida) e ethos (relativo à ética). Suas diretrizes filosóficas surgiram após a tragédia do holocausto, na II Guerra Mundial, quando o mundo ocidental, chocado com as práticas abusivas de médicos nazistas em nome da ciência, criaram um código para limitar os estudos relacionados.

“Os avanços científicos não se constituem em um problema meramente técnico, mas, antes de tudo, ético. O enfoque ético deve ter prioridade sobre a capacidade técnica de se realizar pesquisas científicas com as informações que determinam a vida. Temos permitido que a tecnologia tome decisões em nosso lugar. Porém, os passos que a ciência quer dar não podem ser justificados ou legitimados pela própria ciência. Somente o julgamento ético dos seres humanos é que pode decidir os rumos da ciência”, diz a IECLB.

A lógica comercial transformou os seres vivos e o próprio ser humano em objeto, cujo valor é regulado pela oferta e pela procura do mercado. O mercado aliado à ciência (e vice-versa) se dá o direito de agir como um deus. No entanto, o mercado somente existe por causa dos recursos naturais. Sem os recursos naturais não há produtos para compra e venda.

“O mercado, com freqüência, é ilusório. As pessoas não são informadas que estão adquirindo produtos que vieram de recursos naturais. Induz-nos a pensar que compramos algo que tem vida própria, e que nos oferece a promessa de realização, de felicidade. É precisamente esta idéia de que podemos comprar felicidade ao comprar bens de consumo que é profundamente predatória, destruidora do meio ambiente. A possibilidade de manipulação genética vinculada à exploração comercial de seres vivos, por exemplo, sinaliza para uma relação perversa entre ciência, comércio e criação. É urgente aumentar a consciência de que aquilo que funciona tecnologicamente e é útil para o mercado não é necessariamente justificável sob a perspectiva da ética cristã. Sem o conhecimento respeitoso da vida, os avanços científicos podem esconder um potencial maléfico muito grande.”

Ou seja, a ciência não é mais importante do que o homem. A visão disseminada na sociedade de que somente a qualidade de vida é critério para garantir a dignidade da vida parte da idéia de que a ausência de dor e de sofrimento determina a dignidade da vida humana. Enquanto o prazer de viver é visto como fundamental na sociedade de consumo, o sofrimento parece ser algo que não pode existir.

“Sem dúvida existe fraternidade na tragédia e na esperança. Na tragédia, porque a criação como um todo sofre a realidade da morte, que também se mostra na destruição dos seres vivos. Mas há também uma solidariedade na esperança, porque todos aguardam pela realização do Reino de Deus, que significa a superação da morte e do sofrimento” diz a IECLB. “Isso não dispensa o cristão de assumir sua tarefa de ser um bom administrador, cuidando da criação de Deus.”

Os avanços científicos trouxeram inúmeros benefícios maravilhosos. Mas esses vêm acompanhados de riscos e ameaças à própria vida e sua dignidade. “Como em todos os âmbitos, a ciência não pode querer estar imune à realidade do pecado. O cientista que faz uma nova descoberta não pode saber de antemão qual o uso que outras pessoas, instituições, empresas e governos farão dele.” Não é possível esquecer que a ciência que criou a energia elétrica também criou a bomba atômica.

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