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No dia 10 de dezembro deste ano celebram-se os 60 anos da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta data merece bastante atenção por parte de todos. Trata-se de um documento que é fruto de um consenso dos países que tem assento na Organização das Nações Unidas (ONU) com sede em Nova Iorque/EUA acerca de aspectos fundamentais da vida dos seres humanos em todo o mundo.

Durante alguns séculos a humanidade foi gestando este documento. O empenho de muitos humanistas que lutaram pela liberdade, igualdade e fraternidade entre os povos e as pessoas tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, fez com que surgisse um texto não-religioso que defende a dignidade de todos os seres humanos. Independente de qualquer orientação religiosa ou filosófica existem direitos inalienáveis, ou seja, insubstituíveis, trocáveis ou intransferíveis.

A Declaração surge num momento histórico ainda marcado pelas atrocidades da Segunda Guerra Mundial. Os organismos internacionais procuraram sinalizar que a violência, a dor e o sofrimento causados pela dominação, pela exploração e pelo arbítrio não tem justificativa. A Declaração sublinha que todas os seres humanos tem direito à vida e a sua preservação em toda e qualquer situação.

Milhares de vidas puderam ser protegidas e preservadas graças ao empenho decidido de pessoas abraçaram a causa dos Direitos Humanos em todo o mundo. Lamentavelmente muitas violações acontecem em todo o mundo e, o que é mais grave, ainda existe um grande desconhecimento e uma enorme distorção sobre a Declaração. Alguns meios de comunicação desqualificam os Direitos Humanos e difundem a idéia de que nada mais são do que “defesa de bandidos”. Trata-se de setores da sociedade mais identificados com o autoritarismo e tem dificuldades de viver num regime democrático.

Deus quer vida para as suas criaturas. Ele confere a maior dignidade aos seres humanos justamente porque os “criou a sua imagem e semelhança” (Gênesis 1.27). Ele faz deles colaboradores na administração do mundo e da sociedade. Nenhum ser humano pode colocar-se acima dos demais a partir desta perspectiva. Ao contrário, existe uma grande co-responsabilidade.

Deus quer vida para as suas criaturas. Ele inclusive assume a condição humana para recompor a imagem quebrada e distorcida. Deus, em sua encarnação em Jesus Cristo, assume a condição humana e com este gesto aponta para o valor e a importância da humanidade. Trata-se do sinal mais forte e eloqüente da valorização do ser humano. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.” (João 10.10) – Eis o centro da missão de Jesus Cristo.

Os cristãos, enquanto cidadãos responsáveis e participantes da sociedade civil, sempre se colocarão na defesa dos Direitos Humanos, entendendo que são eles uma das traduções possíveis da vontade de Deus para com todas as pessoas. As comunidades cristãs podem ver na Declaração um instrumento de amor ao próximo no sentido mais amplo possível. Os princípios humanistas nela presentes também constituem a base de fundo da motivação cristã, qual seja, a de estar aí para fazer da causa dos injustiçados e desconsiderados da sociedade a sua causa, a causa de Deus.

Falar dos Direitos Humanos significa falar dos Direitos de Deus para com as suas criaturas. Deus não fica indiferente, pois “se eles [os discípulos] se calarem, até as pedras clamarão.” (Lucas 19.40). Temos, portanto, a nosso dispor uma ferramenta comum a ser usada por todas as pessoas independente da orientação religiosa, política ou ideológica.

Demos graças a Deus pelos 60 anos da Declaração dos Direitos Humanos mesmo sabendo que ela não é colocada plenamente em prática. Como cristãos, inconformados com o estado de coisas, permitamos que Deus transforme a nossa mentalidade e, assim, possamos estar atentos e sensíveis para conhecer a sua vontade (Romanos 12.2) para com as suas criaturas neste mundo.

P. Rolf Schünemann

Publicado na edição 79 do Informativo dos Luteranos – dezembro/2008