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Lema de Fevereiro de 2009
Onde está a vossa fé?
(Lucas 8.25)

Reflexão: Que lema é este? – foi o meu primeiro pensamento depois de lê-lo. Lemas costumam despertar uma reflexão ou causar um sentimento de conforto e esperança através de uma afirmação. Mas, neste mês, encontramos um questionamento. E que questionamento!

Onde está a vossa fé? – o lema nos pede a refletirmos no decorrer de fevereiro sobre esta pergunta. Podemos aproveitar esta pergunta inquietante para fazer uma análise do fundamento da nossa esperança em Cristo.

A pergunta pelo onde da nossa fé deixa claro que a fé não é algo estático, mas algo dinâmico. Tamanho, intensidade e presença são aspectos variáveis da fé:

A fé pode estar presente (perceptível) ou parecer ausente. Ela tem a capacidade de crescer (quando bem tratada e cultivada). Mas a fé também corre o risco de diminuir e atrofiar (quando negligenciada ou abandonada). Ela pode ser forte ou enfraquecer com as nossas dúvidas.

Acredito que a fé é tão dinâmica, porque ela não é propriedade segura nossa, mas é algo oferecido e confiado a nós que carece do nosso zelo. Justamente por isso, ela enfraquece, diminui ou até some quando abandonada, negligenciada ou sobrecarregada com dúvidas. Quero destacar que – entre estes aspectos que prejudicam a fé – o abandono e a negligência são bem mais perigosos do que a dúvida. A dúvida pode ser vista ainda como um sinal de vida, pois a dúvida comunica com a fé, a questiona. Mas quando a dúvida nos faz desistir da fé e esta comunicação deixa de acontecer, a fé corre o risco de ser abandonada e atrofiar. Por isso, Lutero chama a dúvida de irmã gêmea da fé – enquanto caminham juntas, não tem problema. Essa afirmação de Lutero sempre me consolou e animou bastante, pois tira o peso que só aquela fé forte que não conhece dúvida é válida diante de Deus. Não precisamos ignorar as nossas dúvidas, desligar o nosso intelecto e acreditar cegamente em tudo que se afirma a respeito de Deus. Para nós luteranos é justamente o contrário, acreditamos que o diálogo entre as promessas de Deus e as nossas dúvidas pode até contribuir para o crescimento da nossa fé como uma fé que não é ingênua. No entanto, conviver com as próprias dúvidas e colocá-las em discussão com as promessas de Deus não é tão fácil, quando a gente tem que fazer isto sozinho. Facilmente, as dúvidas se tornam maiores do que a fé, porque não encontramos propostas e respostas convincentes. Acredito que cultivar a fé sem ter que ignorar as dúvidas funciona apenas em comunidade – aonde se tem pessoas para falar sobre as dúvidas e trocar idéias. Com ajuda de pessoas que – quem sabe – também já passaram por momentos de dúvida e aflição, que também já duvidaram da existência ou, pelo menos, da presença de Deus ou que também já duvidaram de valores e opiniões defendidas pela igreja… possamos encontrar respostas e propostas que nos ajudam a continuar pensando e descobrindo as maravilhas que a fé prepara para nós. Ao meu ver, compreenderemos a grandeza das promessas de Deus na sua plenitude apenas quando convivemos diretamente com Ele no Seu Reino. Enquanto vivemos neste mundo, sempre teremos dúvidas. Mas na medida em que cultivamos a nossa fé – mesmo através do questionamento das dúvidas – podemos ter um gostinho cada vez mais claro e mais saboroso daquilo que nos espera. Não abandonando a nossa fé, cultivando-a através do diálogo com pessoas da comunidade e alimentando-a nos cultos e com uma vida espiritual, podemos transformar o ponto de interrogação da dúvida numa luz em nossa vida. Aceitando o convite que o Lema do Mês nos faz, podemos aprofundar a reflexão sobre a nossa fé tanto até responder com toda a convicção:

A minha fé esta – junto comigo, com as minhas dúvidas e com os meus irmãos – à caminho para chegar a Deus!

Pastor Matthias Tolsdorf, pastor da IECLB na Paróquia Vila Campo Grande-Diadema / SP