Nos dias 30 de julho a 02 de agosto, realizou-se na aldeia Paigap, Terra Indígena Igarapé Lourdes, município de Ji-Paraná, em Rondônia, mais um encontro de pajés do povo Arara, que se autodenomina Karo.
O evento contou com mais de 100 participantes: pajés, pessoas da aldeia que sediou o evento, convidados da outra aldeia Arara e parceiros de apoio, como COMIN, CIMI e de órgãos governamentais como FUNAI e SEDUC. Com um clima de muita animação, realizaram-se rituais de cura, de cantos e danças tradicionais, de banhos em crianças com plantas. Os pajés ainda fizeram incursões na mata procurando plantas medicinais e explicando sua função e uso. Tudo foi acompanhado com comidas e bebidas tradicionais do povo Arara, dentro de um espírito de muita alegria.
Na década de 60 o povo Karo, como muitos outros povos de Rondônia, estava ameaçado de extinção. Havia somente cerca de 50 indivíduos, tamanha foi a violência do contato, desde as frentes extrativistas da borracha até os projetos de colonização privada e governamentais das décadas de 60 e 70, que provocaram profundos impactos na região com uma violência até então não vista em tamanha proporção. Este processo levou muitos grupos à extinção e outros à desestruturação social completa. Rondônia tem mais de 50 povos, todos com populações pequenas – são menos de 10 mil indígenas em todo estado -, verdadeiros sobreviventes de um processo de massacre. Hoje, como outros grupos, o povo Arara está crescendo e tem mais de 300 pessoas.
Uma das preocupações de muitas lideranças e dos pajés é manter e revitalizar a cultura e a autoestima de ser Arara, diante das inúmeras coisas novas que entram diariamente nas aldeias. Para eles é importante manter a cultura e a organização das comunidades para ter união e para que possam enfrentar juntos os desafios dos impactos e interferências dos projetos de desenvolvimento da região, que, no geral, não levam em consideração os impactos que provocam sobre as terras indígenas, seu entorno e sobre a vida nas aldeias. Para eles é importante que os jovens mantenham a cultura e sintam orgulho de ser Arara, para serem os futuros defensores das terras e dos direitos indígenas.
Nelson Deicke
COMIN -RO